Soluções para melhorar o transporte de cargas

18/05/2016 08:00 - Correio Braziliense

“Quando você está dirigindo e vê um caminhão pela frente, qual é a sua primeira reação?” É com essa pergunta que o doutor em transportes pela Universidade de Brasília (UnB) Evandro Manzano dos Santos começa a explicar seu mais recente estudo sobre o transporte de cargas no Distrito Federal. A meta dele é encontrar soluções de logística urbana que possam reduzir custos e melhorar a qualidade do meio ambiente. Chegou à conclusão de que é possível. Mas as ações dependem do envolvimento de empresários do setor, do poder público e dos moradores, em especial daqueles que vivem próximos às quadras comerciais.

Manzano usou como ponto de partida a análise das notas fiscais eletrônicas. Com base nas informações contidas nos documentos, ele descobriu os polos de maior concentração de cargas e descargas no DF. O Conic, no Plano Piloto, lidera a lista da demanda de carga. Em seguida, aparece a CSG 9, em Taguatinga Sul, e a Cidade do Automóvel. Nessas duas últimas cidades, o que causa a alta são as empresas de bebida.

E são justamente elas — as bebidas —, que representam quase 15% dos itens transportados no DF, ocupando o topo do serviço. Em seguida, os materiais elétricos. “A partir dessas informações, propusemos soluções para se ter um transporte mais eficiente com menor impacto ambiental. Esses produtos chegam aos seus destinos em caminhões. É comum vê-los parados em fila dupla para descarregar. Também deixam o trânsito lento por onde passam. Sem falar na emissão de poluentes”, afirma o especialista.

O estudo

Uso de dados de documentos fiscais eletrônicos para o planejamento do transporte urbano de cargas, conduzido por Manzano, apontou algumas alternativas, que, segundo ele, podem reduzir a frota em até 30%. E esse é o maior custo das transportadoras. A primeira opção é fazer a entrega noturna. “Assim, o motorista (do caminhão) não perde tempo procurando vaga, não leva multa por estacionar em local proibido e gasta menos tempo para fazer descarregar os produtos”, elenca o pesquisador.

Outra solução, que também passa pela entrega noturna, é o uso dos estacionamentos públicos, uma vez que ficam vazios após o encerramento do expediente. “Se é um prédio de escritórios, por exemplo, o condomínio precisará contratar um funcionário ou pagar adicional noturno para uma pessoa receber essas mercadorias e organizá-las em caixas. Depois, sobe e deixa nas portas dos escritórios. Haverá economia com elevador, energia elétrica e tempo dos funcionários, que precisam parar o trabalho para receber esses produtos em vez de focar no cliente”, explica.

A terceira proposta passa pela criação de vagas para caminhões. Nesse ponto, a parceria com os lojistas seria fundamental. Segundo Manzano, de 70% a 80% dos espaços das entrequadras são ocupados por veículos dos comerciantes e funcionários das lojas. “Se o empresário se cotizar e oferecer transporte coletivo para os empregados ou criar incentivo para que eles usem o transporte público, isso vai liberar vagas nos comércios. Dessa forma, mais clientes estarão dispostos a frequentar o local”, pondera Manzano.

Logística

O pesquisador critica medidas adotadas em São Paulo, como a restrição de veículos de grande porte em determinadas áreas. Segundo ele, se a empresa usava um caminhão para atender determinada região, teve de distribuir a carga em três vans. Com isso, aumentou o fluxo de veículos, e o trânsito piorou. Atualmente, o maior entrave para se fazer entrega noturna é a falta de segurança.

Caso esse modelo de logística urbana seja implantado, o fluxo de caminhões deverá ser reduzido em até 30%. Segundo Manzano, a estimativa é de que uma empresa do setor de bebidas tem uma frota de cerca de 300 caminhões. Se a tese se confirmar, seriam no mínimo, 90 caminhões a menos nas ruas.