22/07/2015 07:20 - O Globo
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Uma solução complexa de engenharia abriu as portas do Leblon
para o tatuzão das obras do metrô. Para passar sob o canal do Jardim de Alah —
um dos trechos críticos da Linha 4 —, a gigantesca máquina literalmente
navegou.
A área da futura estação Jardim de Alah foi inundada com dez
mil metros cúbicos de água, o equivalente a quatro piscinas olímpicas. A medida
foi tomada para compensar diferenças de pressão durante a perfuração do túnel
sob o canal, algo que, segundo o Clube de Engenharia, poderia provocar o desvio
de rota do tatuzão ou mesmo um acidente.
A etapa cumprida no cronograma previsto foi comemorada ontem
pelo governador Luiz Fernando Pezão, durante uma visita ao canteiro de obras.
Pezão voltou a criticar o relatório do Tribunal de Contas do
Estado ( TCE) que apontou o risco de atraso da entrega do metrô antes das
Olimpíadas. No documento, que reúne dados coletados até dezembro passado, a
estação do Jardim de Alah é apontada como um dos trechos críticos, devido à
proximidade com o canal.
— O relatório do TCE é antigo. Estamos dentro do cronograma.
O tatuzão atravessou o canal, o que era uma dúvida para todos nós. Vencemos um
dos momentos mais difíceis. É impressionante ver o tatuzão chegando aqui por
dentro da água — disse o governador.
TRAVESSIA FOI COMEMORADA COM ALÍVIO
Somente a estação Gávea ( perto da PUC) não será concluída
antes das Olimpíadas, segundo o governo. No fim de 2013, ela foi excluída
definitivamente do projeto para os Jogos.
Na semana retrasada, o TCE iniciou uma nova auditoria sobre
as obras, que só será encerrada em dezembro. O presidente do tribunal, Jonas
Lopes, não comentou as declarações de Pezão.
O secretário estadual de Transportes, Carlos Roberto Osorio,
também se disse aliviado com a travessia do equipamento submerso. Ele comparou
a tensão vivida com o "mergulho” do tatuzão aos problemas nas escavações em
maio do ano passado, quando crateras se abriram na Rua Barão da Torre, no
trecho entre Farme de Amoedo e Teixeira de Melo:
— Já tivemos dois momentos desafiadores na obra. O primeiro
foi a saída do tatuzão da estação General Osório, quando houve aquele problema
na Rua Barão da Torre. Ali havia uma transição de solo rochoso para um solo de
rocha e areia. O segundo momento, sob o Jardim de Alah, foi tão ou mais
complicado, já que o tatuzão passou por uma área alagada.
Presidente do Clube de Engenharia e especialista em solos,
Francis Bogossian disse que o consórcio utilizou uma estratégia de compensação
de pressão para evitar o desvio de rota do equipamento.
— Essa técnica é moderna. Ao passar sob o canal, o tatuzão
enfrentou muita pressão até chegar à parede da estação. Se a estação não
tivesse sido inundada, o tatuzão encontraria um espaço vazio, onde a pressão
seria muito menor e haveria risco da perda de controle. Por isso eles encheram
a estação com água do próprio canal do Jardim de Alah. Chamado de compensação
hidrostática, o método foi usado recentemente em Düsseldorf ( na Alemanha), em
Nanjing ( na China) e em Nova York.
Após escavar dois quilômetros desde a estação General Osório,
o tatuzão está adiantado 40 dias no prazo, de acordo com o governo, e deve
concluir o túnel da Linha 4 até dezembro. Segundo o consórcio responsável pelas
obras, faltam quatro quilômetros de túneis para que o traçado do metrô esteja
completamente escavado. Quatro estações já estão 100% escavadas ( Antero de
Quental, Nossa Senhora da Paz, São Conrado e Jardim Oceânico).
O equipamento deve chegar à garagem da Avenida Visconde de
Albuquerque, no Leblon, em dezembro. Lá, será feita a junção com o túnel que
vem da Barra — e que está completamente escavado — com o túnel da General
Osório.
— A partir daí, a linha que será inaugurada para as
Olimpíadas estará completa, e a obra entrará em fase de acabamento — disse o
secretário.
O tatuzão agora vai parar por 40 dias para manutenção,
conforme previsto no cronograma. A Linha 4 do metrô entrará em operação em
junho de 2016, quando os trens circularão experimentalmente, fora do horário do
rush.