Tecnologia favorece maior integração entre modais

05/06/2017 08:55 - Valor Econômico

Marcus Lopes

Ônibus, metrô, trem, bicicleta, automóvel e até os próprios pés. O transporte urbano nas grandes cidades exige não apenas uma, mas muitas soluções e alternativas para facilitar o dia a dia dos cidadãos nos seus deslocamentos rotineiros. E a integração entre os meios deve ser cada vez maior para aumentar a eficiência do sistema como um todo.

"O tempo de deslocamento entre os destinos fica muito menor quando os diversos modais são concebidos de maneira integrada", diz o especialista em mobilidade urbana e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie Luiz Vicente Figueira Mello Filho. Ao planejar o transporte urbano, segundo ele, é necessário levar em consideração todos os modais, inclusive o automóvel, já que há uma adesão cada vez maior aos táxis e aplicativos, como o Uber.

"O transporte deve ser multimodal e interligado, para garantir maior eficiência", diz Mello Filho. Ele cita como exemplo as bicicletas, que conquistam cada vez mais espaço no cenário urbano. A instalação de bicicletários integrados a outros meios de transporte - como terminais de ônibus e estações de metrô - é tão importante quanto a expansão das ciclofaixas. "Em cidades muito complexas e com topografia acidentada, como São Paulo, a bicicleta serve para distâncias curtas, mas não para o trajeto como um todo. Por isso é importante a interligação com outros meios para se chegar ao destino final", diz Mello Filho.

"A bicicleta deve ser encarada como um complemento e não como alternativa ao sistema de transporte", avalia o presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), Reginaldo Reinert. A cidade tornou-se referência em planejamento urbano ao construir, na década de 70, os primeiros corredores exclusivos de ônibus do país. O modelo de Curitiba, precursor dos atuais BRT (Bus Rapid Transport), inspirou outras cidades no Brasil e do exterior, como Bogotá, na Colômbia, a criarem sistemas de média capacidade mais baratos e alternativos - ou complementares - aos de alta capacidade, como o metrô.

A capital paranaense hoje conta com 83 km de vias exclusivas para ônibus, integrando diversos bairros e municípios da região metropolitana. O passageiro paga apenas uma tarifa para circular em todo o sistema, que conta com terminais de embarque e desembarque integrados. "Quanto maior a conexão entre os modais, maior a oferta e a flexibilidade para o usuário, que não fica refém de um único tipo de deslocamento", diz Reinert.

A integração entre os diferentes meios de transporte conta cada vez mais com um poderoso aliado: a tecnologia. Aplicativos como o Moovit ajudam o usuário no planejamento de suas viagens no transporte público, levando-se em consideração todos os meios utilizados da origem ao destino final. "Se as pessoas puderem economizar tempo e dinheiro, elas migram para o transporte de massa. E as novas tecnologias podem ajudar nesse processo, pois elas ajudam o usuário a escolher as melhores opções", afirma o consultor Cláudio Frischtak, um dos organizadores do livro "Mobilidade Urbana: Desafios e Perspectivas para as Cidades Brasileiras" (Elsevier/FGV).

Segundo ele, a integração também deve ocorrer entre os municípios, principalmente na região metropolitana. "As prefeituras não podem pensar no sistema de transporte de maneira isolada. É preciso haver uma articulação do poder público para que essa interligação do transporte seja a mais ampla possível", diz Frischtak.

Opinião semelhante é da professora de engenharia do transporte da Universidade Estácio de Sá, Ivanice Schütz. "O problema da falta de integração ocorre por causa do pouco, ou inexistente, compartilhamento do planejamento e operação nas diferentes organizações envolvidas na gestão de transportes", afirma.

As regulamentações para o transporte urbano entre Estado e prefeituras também devem ser uniformes para o sucesso das interligações. "Não adianta nada interligar uma ciclovia municipal com a malha ferroviária estadual se o trem proibir a bicicleta dentro dos vagões", explica o coordenador do Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getulio Vargas (FGV -Rio), Pablo Cerdeira. Especialista em novas tecnologias aplicadas ao planejamento urbano, ele explica que é necessária uma integração tecnológica dos sistemas de transporte.