Uber Air quer ser 20 vezes mais seguro do que um helicóptero

10/05/2018 09:55 - O Globo

PAULA SOPRANA*

LOS ANGELES - Uma das maiores preocupações do projeto Uber Elevate, que pretende lançar aeronaves elétricas em rotas urbanas em cinco anos, é que a segurança seja superior às opções de transporte atuais. Mark Moore, diretor de Engenharia da companhia, explica que a meta é que o Uber Air, o produto de aviação por demanda (uma espécie de táxi aéreo), seja 20 vezes mais seguro do que um helicóptero.

O caminho para isso está na autonomia. Apesar da necessidade de piloto no estágio inicial, a Uber e seus parceiros, entre eles a Embraer, têm a ambição de que as aeronaves dirijam-se sozinhas depois de 2023.

- Pessoas erram com muito mais frequência do que máquinas. Mas não se trata apenas de excluir o piloto, toda nossa operação é destinada a dar mais segurança: os helicópteros fazem rotas novas a todo o tempo, nossas aeronaves farão sempre as mesmas, repetidamente, todos os dias. Elas também serão desenvolvidas com redundância, então se qualquer parte falhar, não importa, o voo permanecerá seguro - explica Moore, que trabalhou na NASA por 30 anos antes de liderar o time da Uber.

Ele é um dos líderes do projeto, que é o foco de debates em um encontro da companhia e Los Angeles, nos Estados Unidos. Para Moore, o preconceito com aeronaves e carros autônomos será vencido à medida que a sociedade comprovar sua eficácia. Em março deste ano, foi registrada a primeira morte com esse tipo de tecnologia, quando um carro da Uber atropelou uma pedestre no Arizona.

Especialistas que trabalham nesse setor recorrentemente explicam que a adoção de autonomia não está imune a falhas (mesmo que fatal), mas que mesmo assim os computadores são mais precisos do que humanos na direção. Para Moore, é um processo natural de aceitação, já que "máquinas não sentem sono e se mantêm focadas o tempo todo".

- Toda vez que surgiu uma mudança nas soluções de transporte, da carruagem para o carro, por exemplo, foi preciso tempo para construir confiança na nova tecnologia. Quando o carro foi apresentado, seu apelido era "vagão do demônio", então há uma barreira de resistência comum. Levamos quase 30 anos para substituir cavalo por automóvel - diz.

Dara Khosrowshahi, presidente da empresa desde agosto de 2017, também falou sobre o acidente em uma conversa com o jornalista Brad Stone, da Bloomberg. Disse que as investigações continuam e que a companhia aprendeu muito depois do fato.

- (O acidente) nos trouxe a ideia de que a segurança precisa vir primeiro. Estamos fazendo uma revisão de cultura e de práticas e voltaremos da forma mais segura possível - disse o executivo, que assumiu o comando da empresa no lugar de Travis Kalanick, quando a companhia enfrentava episódios de sexismo corporativo, investigação por espionagem industrial e uma onda de insatisfação de motoristas.

Khosrowshahi disse que demorou um pouco a acreditar na ambição do projeto Uber Elevate, mas que a empresa é a que está mais capacitada no mundo para fazer isso de forma rápida. Segundo ele, a Uber quer abrir esse caminho da inovação e não trabalhar para carros ou aeronaves, mas para mobilidade e transporte nas cidades.

O Uber Air é a modalidade áera por demanda da companhia, que pretende lançar o produto em 2023 nas cidades americanas de Dallas e Los Angeles. Os deslocamentos serão feitos por meio de um veículo chamado eVTOL (sigla de vertical take-off and landing), que tem funções autônomas e que decola e aterrissa como os helicópteros, verticalmente. Ele pode voar a uma altura de 600 metros e a uma velocidade de até 320 km/h. A ideia é que helipontos sejam aproveitados como estações e que parceiros construam aeroportos urbanos.

* A repórter viajou a convite da Uber