UberPool traz compartilhamento de corrida entre estranhos para SP

29/04/2016 09:17 - G1 Tecnologia

Um ano e oito meses após o Uber liberar o compartilhamento de carros e da conta por mais de um usuário em San Francisco, na Califórnia, metade das viagens passou a ser feita assim. Chamada de UberPool, a modalidade mais barata para os usuários e rentável para motoristas estreia nesta sexta-feira (29) em São Paulo.

A chegada de um dos serviços mais populares do Uber à capital paulista ocorre dois dias depois de vereadores municipais adiarem a votação de uma lei que regulamentaria aplicativos de carona e compartilhamento de carros.

"A ideia é colocar mais gente dentro do carro", explica Fabio Sabba, porta-voz da empresa no Brasil. "Quanto mais gente sentado, mais você consegue tirar carro da rua e pagar menos."

Depois de a cidade californiana ser a primeira a receber o UberPool, o serviço se tornou uma porta de entrada para novos usuários por ser "cool" e cobrar menos. Desde então, 3 milhões de pessoas começaram a usar o Uber atraídos por essa opção.

Quando os usuários optam pelo compartilhamento, o app analisa se há alguém em seu caminho que vai para o mesmo destino ou que possa ficar no meio do caminho. Se elas estiverem relativamente próximas, de modo que pegar a segunda não vá atrapalhar muito a viagem da primeira, pronto, está feito o "match" (para quem estranhou o termo, associado às combinações do Tinder, não se assuste, pois é assim mesmo que o Uber trata a ação: "Quando a gente fala 'match' aí é mais no sentido de casar [o destino] de duas pessoas", brinca Sabba.). Depois disso, o sistema mostra ao motorista qual roteiro seguir, considerando todas as escalas.

uberPOOL, para usuários dividirem viagem e conta com estranhos. (Foto: Divulgação/Uber)

uberPOOL, para usuários dividirem viagem e conta com estranhos. (Foto: Divulgação/Uber)

Para Sabba, sentar-se ao lado de um desconhecido não será incômodo. "Eu não acho que isso seja um problema, porque você fica ao lado de estranhos mais vezes do que imagina. No cinema, fica duas horas com um cara que você não conhece do seu lado e acha normal."

As tarifas não são exatamente rateadas igualmente entre os vários passageiros. Ainda assim, a conta fica mais leve porque um desconto de 10% a 40% é aplicado sobre o valor total. Os motoristas também saem ganhando. Em vez dos 25% recolhidos pelo Uber, destinam 10% do preço final quando não há "matches". Quando há combinações, a fatia do Uber sobe para 30% -- nesses casos, porém, o valor pago é maior por haverem mais pessoas no carro.

Apesar de o Uber operar em 413 cidades no mundo todo, só em 34 é possível rachar o pagamento com estranhos. A capital paulista é apenas a segunda na América Latina em que a empresa oferece a opção de serviço.

"Só funciona quando você tem uma quantidade razoável de usuários e motoristas. A gente acredita que São Paulo agora tem essa densidade", explica Sabba. "A cidade é gigante e tem muita gente usando. Segundo, tem um trânsito considerável. Ou seja, tem um desafio de mobilidade."

O executivo prefere não comentar quais outras cidades brasileiras podem receber o UberPool. Por mês, o Uber cresce 30% no Brasil (em números de motoristas e usuários) -- a empresa tinha 10 mil motoristas e um milhão de usuários no Brasil, quando estava em oito cidades em janeiro. De lá pra cá, Salvador e Recife entraram na conta. Nesta sexta, é a vez de Fortaleza.

G1 Ceará

Uber começa a operar em Fortaleza às 14h desta sexta-feira (29)

O serviço de transporte particular da Uber estarão disponíveis em Fortaleza a partir das 14h desta sexta-feira (29). A capital cearense é a 11ª cidade no Brasil e a 3ª no Nordeste a receber o aplicativo, que é alvo de polêmica, principalmente entre os taxistas, que acusam o sistema de ser ilegal e gerar concorrência desleal, mas a empresa defende que o serviço teem amparo legal na Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU).

Na capital cearense, será oferecida a modalidade Uber X, categoria com as tarifas mais baixas, carros com quatro portas, ar-condicionado, fabricados a partir de 2008. A tarifa da viagem é calculada com base na quilometragem e no tempo de deslocamento: a tarifa de base - custo de chamada - é de R$ 2,50, acrescida de R$ 1,20 por quilômetro e R$ 0,20 por minuto. O valor mínimo da corrida é de R$ 6.

A empresa não informa quantos motoristas já estão cadastrados em Fortaleza, mas, conforme explicou a gerente de comunicação da Uber, Letícia Mazon, está há um mês na cidade promovendo cadastro de novos “parceiros”, como são chamados os motoristas. Representantes da Uber realizaram, também, encontros presenciais para tirar dúvidas de pessoas interessadas em participar.

Como funciona

Para utilizar o serviço, os usuários devem baixar o aplicativo no celular e fazer um cadastro, inserindo um cartão de crédito, por meio do qual será feita a cobrança. Depois que o passageiro indicar o local de origem, o motorista mais próximo é acionado. O aplicativo calcula uma estimativa do custo da viagem. Após o percurso, o usuário avalia o motorista, em uma escala de zero a cinco estrelas, e vice-versa.

Segundo estimativa da Uber, o tempo médio de espera no Brasil para a chegada do carro é de cinco minutos, e a nota média dos motoristas é de 4,85 estrelas, sendo que, para se manter na plataforma, o motorista tem que ter média acima de 4,6 estrelas.

Posteriormente, na capital cearense, deverá ser acionada uma ferramenta chamada “preço dinâmico”, um algoritmo para que haja uma variação momentânea de preço quando a demanda for maior que a oferta, por exemplo, no entorno de shows e grandes eventos.

Outras cidades brasileiras oferecem também o Uber Black, modalidade mais luxuosa, com carros sedãs pretos e tarifas mais caras. “Todos os veículos cadastrados em Fortaleza estarão no Uber X, mas, se no futuro tiver o Black, eles poderão migrar”, prevê a representante.

Adesão de motoristas

Com relação aos motoristas, o cadastro inclui ter carteira de motorista profissional, certidão de antecedentes criminais - que são checados por uma empresa terceirizada, comprovantesde IPVA quitado, seguro do carro e seguro para passageiros no valor de até R$ 50 mil. Depois, deve baixar aplicativo e se logar na plataforma quando estiver disponível para receber chamadas de usuários.

Não há obrigação de cumprimento de horário de trabalho, de carga horária ou custo de adesão. No caso do Uber X, o motorista fica com 75% do valor da viagem e os outros 25% vão para a Uber. A remuneração é paga semanalmente. “Tem parceiro que chega a R$ 5 mil por mês”, exemplifica Mazon.

A gerente de comunicação da Uber explica que o usuário não pode escolher o motorista que será acionado, mas, como segurança, há uma ferramenta que permite compartilhar com outras pessoas a rota da viagem e acompanhar também qual o carro, a placa e o motorista.

Não são disponibilizadas informações por cidades, mas o último levantamento da empresa era de que, no Brasil, são mais de 10 mil parceiros até janeiro, quando o serviço estava presente em apenas cinco cidades. A previsão é de chegar a 50 mil até outubro.

Polêmicas

Lançada nos Estados Unidos em 2010, atualmente está presente em 70 países e mais de 400 cidades. No Brasil, as operações foram iniciadas em junho de 2014 e, atualmente, funciona em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Porto Alegre, Goiânia, Campinas, Curitiba, Recife e Salvador. Em algumas delas, a atividade acontece por meio de liminar na Justiça. Na capital baiana, caso mais recente, a Câmara Municipal aprovou projeto de lei que veta as atividades.

A Uber se define como uma empresa de tecnologia, que não emprega motoristas nem possui frota própria, mas enfrenta resistência e polêmicas em diversas cidades no mundo. Em Fortaleza, antes mesmo que o início das operações fosse anunciado, taxistas realizaram atos de protesto contra a chegada do serviço. Apesar de defender que não há concorrência com táxi, a Uber já estima em seus cálculos que, em Fortaleza, a diferença de preços vai ser de 35% na bandeira 1 e 50% na bandeira 2.

A gerente de comunicação da Uber afirma que, a partir do início das operações, a empresa se coloca à disposição do poder público para buscar formas de regulamentação e apresentar modelos regulatórios aplicados em outras cidades do mundo. “Em Fortaleza, não há projeto de lei que vise proibir esse tipo de serviço. A gente nota um ambiente bem favorável”, avalia.

A argumentação é que se trata de um tipo de transporte individual privado, previsto na legislação federal na Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU), lei nº 12.587/2012. “A Uber vem para concorrer com carro particular, e não com táxi. São serviços diferentes, tem lugar pra todo mundo. A PNMU define dois tipos de transporte individual: o público e o privado. Dentro do público, eles regulamentam os serviços de táxi. No privado não há regulamentação específica”, explicou a representante.

Entre exemplos de regulamentação, a gerente de comunicação cita a Cidade do México, onde, afirma, uma taxa de cada viagem vai para o município custear o transporte público; e Chicago, nos Estados Unidos, onde os motoristas que rodam na periferia pagam menos tributos. “É muito singular ao que o prefeito [Fernando] Haddad está propondo em São Paulo”, compara.

Outro aspecto questionado entre os críticos do sistema é sobre a tributação recolhida pelos municípios. “A gente busca uma regulamentação que esclareça as bases de como seria essa parte financeira de arrecadação por cidade. A Uber, como empresa de tecnologia, recolhe os tributos que uma empresa de tecnologia recolhe no Brasil”, defende. “O que os municípios podem fazer é ordenar e regulamentar esse tipo de transporte. O que não é possível é que proíbam um tipo de transporte previsto em legislação federal. Por isso que, até hoje, quando houve tentativas de proibição, isso foi derrubado na Justiça”.