08/07/2013 07:50 - Folha de SP
Segundo o governo, a viagem será rápida, econômica e poderá ser feita de qualquer outro ponto da cidade. Propaganda em SP ignora projetos de conexão a aeroportos de PE e RS.
Ir de transporte público da avenida Paulista até o aeroporto internacional de Cumbica, em Guarulhos (Grande São Paulo), exigirá cinco baldeações e levará aproximadamente 1 hora e meia.
Segundo o Estado, o trem ligando o aeroporto à rede de
trilhos será inaugurado no fim de 2014 ou o início de 2015, ao custo de R$ 900
milhões.
A Folha fez o teste a partir da Paulista, via central e com
grande concentração de hotéis, até a estação Engenheiro Goulart da CPTM, na zona
leste de SP, onde começará o prolongamento até o aeroporto.
Foram feitas duas viagens em dias diferentes. Fora do rush,
o tempo gasto foi de 1 hora e 10 minutos num dia e de 55 minutos no outro.
A reportagem fez o caminho mais curto, segundo a indicação
do site do Metrô: partiu da estação Trianon-Masp (linha 2-verde), entrou na
estação Paulista (linha 4-amarela), desceu na República (linha 3-vermelha) e
foi até o Tatuapé. De lá, acessou a estação de trem até chegar à Engenheiro
Goulart (linha 12-safira).
Dali até Cumbica serão 17 minutos, diz o Estado. Mas a
estação no aeroporto ficará distante dos terminais 1 e 2, responsáveis por 80%
do movimento, e do futuro terminal 3, que estará pronto em 2014.
Será necessário pegar um monotrilho, a ser construído pelo
aeroporto, para acessar estes terminais, o que estenderá a viagem em mais dez
minutos. Ou seja, a primeira viagem totalizaria 1 hora e 37 minutos; a segunda,
1 hora e 22 minutos.
Na comparação com outros meios, o trem perderá em agilidade
para o carro. A ida da avenida Paulista até Cumbica leva, na maioria das vezes,
de meia hora a uma hora.
Um ônibus executivo, ao custo de R$ 35, faz o percurso em 1
hora e 10 minutos. Mas o trem será a opção mais barata--o bilhete hoje custa R$
3.
Segundo o governo, a viagem será rápida, econômica e poderá
ser feita de qualquer outro ponto. (leia nesta pág.)
Se os prazos forem cumpridos, em 2015 Cumbica terá algo
comum nos principais aeroportos do mundo: um trem a conectá-lo ao centro.
Mas por aqui demorará mais que Londres (15 minutos), Paris
(28 minutos) e Nova York (uma hora), apesar de a distância equivalente em
todos, cerca de 30 km.
IMPRESSÕES
Passageiro habitual em Cumbica, o professor de inglês
Fernando Canteras, 38, viu prós e contras após fazer o trajeto até Engenheiro
Goulart, a convite da Folha.
"O trem vai atender principalmente funcionários do
aeroporto, que hoje só têm como opção o ônibus que sai do Tatuapé", diz
ele.
"Também será uma alternativa para os passageiros que
quiserem gastar menos, até porque não faz sentido pagar R$ 100 em uma passagem
aérea e gastar R$ 120 de táxi."
O trem leva mais gente do que o ônibus e a viagem, se não
for feita em horários de pico, tende a ser mais confortável, afirma ele.
Para Canteras, o serviço vá atender "ao executivo que
trabalha na Berrini", que continuará a preferir o carro.
"São muitas baldeações. E esse é um problema. Tem que descer e pegar muitos trens. É mais simples --porém mais caro-- ir de carro ou de ônibus."
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A Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos afirma
que a simulação de tempo feita pela Folha é "completamente
arbitrária".
Segundo a pasta, o passageiro poderá sair rumo ao aeroporto
de qualquer lugar da capital ou região metropolitana. "A estação Aeroporto
de Guarulhos estará interligada a todo o sistema metroferroviário de São Paulo,
que atualmente conta com mais de 335 km de malha."
Em nota, a secretaria afirmou ainda que a viagem de trem
será rápida e econômica, pois o tempo de viagem do Brás (região central de São
Paulo) até o aeroporto será de apenas 37 minutos.
A vantagem do trem, diz o órgão, é que, diferentemente do
carro (que depende das condições do trânsito), o usuário saberá exatamente o
tempo que precisa para chegar até o aeroporto.
Sobre a estação de Cumbica, a pasta informou que a
localização foi escolhida pela GRU Airport, concessionaria que administra o
aeroporto.
A empresa confirma e diz que se propôs a oferecer um
monotrilho para ligar a estação aos terminais 1, 2 e 3 -este último, a ser
inaugurado no primeiro semestre de 2014.
A secretaria reafirmou que São Paulo sera a "primeira
cidade a ter dois aeroportos -Congonhas e Internacional de Guarulhos- ligados
aos trilhos". Cumbica com trem e Congonhas com monotrilho.
A partir de 2014, a linha 17-ouro fará a ligação entre o
Morumbi (zona oeste) e Congonhas, com 7,7 km de extensão e oito estações. Já a
futura linha 13-jade da CPTM terá cerca de 11 km de extensão e oferecerá acesso
a Cumbica.
A demanda prevista para a linha é de 120 mil passageiros por
dia. "A linha atenderá usuários, trabalhadores e moradores das cidades de
São Paulo e de Guarulhos, e não apenas passageiros com destino ao
aeroporto."
A contratação das obras está em andamento e tem previsão de
conclusão de 18 meses.
A propaganda do governo do Estado que afirma que "São
Paulo será a primeira cidade do Brasil a conectar seus aeroportos aos
trilhos" ignora dois projetos em curso, em Porto Alegre e Recife.
A expectativa da gestão tucana é que tanto Cumbica, em
Guarulhos, quanto Congonhas, na zona sul da capital, tenham estações prontas
até o fim de 2014.
Mas tanto o governo gaúcho quanto o pernambucano prometem
fazer o mesmo já neste ano. A única diferença é que os dois Estados já têm
estações funcionando perto dos aeroportos, que estão sendo conectadas aos
terminais agora.
No caso paulista, é a rede nova que está sendo feita ao
mesmo tempo das ligações.
Em Cumbica, o passageiro que usar o trem da CPTM não
conseguirá caminhar da estação até a maioria dos terminais do aeroporto. Ele
vai ter que usar um monotrilho, ainda a ser construído, para ir até o local de
check-in.
Em Congonhas, a distância de menos de 200 m entre a estação
e o saguão poderá ser feita a pé.
A obra em Recife consiste em uma passarela, com esteira
rolante e cobertura, até o terminal de metrô e de ônibus mais próximo
-distância de quase 500 m.
Em Porto Alegre, a ligação dos terminais com os trilhos será feita por um aeromóvel, de tecnologia nacional, que percorrerá 1 km em 90 segundos, segundo o governo.