Dinheiro para mobilidade urbana tem, o que falta é direcionar melhor os recursos, dizem especialistas

05/07/2017 16:00 - Diário do Transporte

ADAMO BAZANI

Crise econômica, dificuldade de obtenção de recursos, desemprego e incertezas políticas são quadros reais vividos atualmente pelos brasileiros, mas que ao mesmo tempo acabam se tornando também desculpas para que não sejam feitos investimentos prioritários para melhorar a vida dos cidadãos, como na área de mobilidade urbana.

Independentemente de haver crise ou não, historicamente nunca o transporte coletivo recebeu a devida atenção no Brasil dos gestores públicos e o que ocorre ainda no país é uma inversão de valores quanto a investimentos e uso das cidades.

A ideia foi consenso entre especialistas no painel “O futuro da mobilidade urbana, tendências e apostas”, do 21º Congresso Nacional de Transporte e Trânsito, da ANTP- Associação Nacional de Transportes Públicos, que é realizado até o dia 30 de junho na capital paulista.

“A 40 km/h, aproximadamente, um carro ocupa na cidade em torno de 40 metros quadrados para transportar geralmente uma só pessoa. Já um ônibus com 70, 80 até 100 pessoas ocupa nessa mesma velocidade em torno de 100 metros quadrados.  Aí eu pergunto quem financia o que? Hoje são as 100 pessoas que estão no ônibus que estão financiando aquela que ocupa quase a metade do espaço dessas 100, só que sozinha. Há verdadeira distorção e precisamos inverter esse quadro, fazendo com que quem anda de carro financie quem estiver no transporte público. Um exemplo é o pedágio urbano, que já é realidade em vários países e aqui ainda causa espanto” – disse o presidente de ANTP – Associação Nacional de Transportes Públicos, Ailton Brasiliense.

“Muito se fala em financiamento do transporte público e falta de dinheiro, mas digo categoricamente que o problema não é dinheiro. Falta mesmo vontade. O problema é político. Já existem recursos que precisam ser melhor direcionados para o transporte coletivo, não é necessário criar grandes fórmulas tributárias. Enfrentávamos esse problema na Secretaria de Transportes em São Paulo e ainda persiste”– disse o engenheiro, ex-secretário de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo e vice-presidente da ANTP, Cláudio de Senna Frederico.

O especialista esteve à frente do PITU 2020 – Plano Integrado de Transportes Urbanos para 2020, que prevê uma séria de ações para a mobilidade urbana no Estado. Entretanto, justamente pela questão de recursos e direcionamento político, as metas não serão atendidas.

Alexandre Pelegi - jornalista especializado de transporte