Mobilidade Urbana - Itália

29/07/2013 16:05 - ANTP

Resumo do Relatório do Istat - Istituto nazionale di statistica, órgão oficial do governo italiano

Nas capitais das províncias italianas a demanda para o transporte público urbano em 2011 diminuiu (-0,2% de passageiros transportados per capita em relação ao ano anterior), enquanto aumentou a demanda por transporte privado (0,5% de taxa de motorização geral, 1,1% de aumento em motocicletas).

Os carros menos poluentes representaram 46,9% da frota, um aumento de 9,4% em relação ao ano anterior. Os veículos euro 5, em particular, quase triplicaram em um ano e atingiram 63,9 unidades por mil habitantes. Houve também um aumento de 13,6% no número de motocicletas com menos emissões (euro 3) em 2011, o que representa 31,1% desses veículos em circulação.

Os veículos movidos a gasolina mantiveram-se maioria do meio circulante (57,7%), e registraram um decréscimo de 1,3 pontos percentuais em relação a 2010, ao passo que aumentou os veículos movidos a diesel, que atingiram 35,7% da frota, e os carros híbridos, a gasolina LPG / CNG (6,6%).

Além disso, diminuiu a oferta de transporte público: 3,9% lugares/km por habitante fornecida por todos os modais e -5,4% só no modal ônibus, que representa o modo mais amplo e consistente do Transporte Público Local (TPL).

No entanto houve um incremento nos serviços ofertados pelo Metrô: a densidade da rede cresceu de 7,3% enquanto as estações aumentaram de 6,7%; a disponibilidade de carros que compõem os comboios aumentou 5,1% e a oferta de assento/quilômetro disponível por habitante oferecida aos usuários em 1,0%.

Em grandes centros metropolitanos é mais consistente o número de pessoas que faz uso do sistema de transporte público: 67,6% da população declaram usar (em comparação com uma média de 24,7%) e, entre estes, um pouco menos de quatro em 10 declaram usar todos os dias ou, pelo menos, várias vezes por semana (em comparação com o valor médio de 11,9%).


O "Gap de Finesse” do Transporte Público Local (TPL)

Por Paolo Pinzuti (do Blog Citytech)

De acordo com o último relatório do Istat (Istituto nazionale di statistica) acima, sobre a mobilidade urbana na Itália, o uso de transportes públicos pelos italianos está em declínio: as razões teriam de ser encontradas em uma série de serviços inadequados que levam as pessoas, nossos concidadãos, a recorrer a meios privados de locomoção. Se esta análise é absolutamente inegável, também se deve notar que a maior parte do transporte público italiano é visto como um último recurso, uma espécie de compromisso necessário para quem deseja se locomover e quer evitar o trânsito, problemas de estacionamento e os custos associados ao uso de veículos particulares.

Trata-se acima de tudo de uma questão de imaginário coletivo: para os italianos o meio de transporte por excelência é o carro e tudo o mais é apenas uma alternativa geralmente muito desagradável. Este valor é confirmado pelos níveis de satisfação relatado no último Relatório Isfort* em que, como o carro fica com uma nota 8.1, para o transporte público levar os italianos pra casa ele precisaria ser um pouco mais do que simplesmente suficiente. 

Índices de satisfação para os diferentes meios de transporte

(pontuações médias de 1 a 10)

 

 

Cidade Gde

Total

Cidade Gde

Total

Cidade Gde

Total

Moto, ciclomotor, scooter

 

8,4

 

8,4

 

8,6

 

8,4

 

8,6

 

8,4

Automóvel

7,5

8,1

7,5

8,1

7,2

7,9

Bicicleta

7,9

8,4

8,1

8,3

8,1

8,3

Metrô

7,5

7,5

7,5

7,6

7,4

7,4

Pullman, Ônibus intermunicipal

 

6,5

 

6,6

 

6,1

 

6,6

 

6,6

 

6,6

Trem local

6,2

6,1

6,2

6,1

6,2

6,1

Ônibus, elétricos

 

5,7

 

6,1

 

5,8

 

6,1

 

5,7

 

6,0

Respostas relativas ao uso do meio nos 3 meses anteriores à entrevista

Eu não creio que é só uma questão referente às características do serviço prestado, mas sim algo que remete a uma visão subjetiva: para os operadores do Transporte Público Local não basta se comprometer a oferecer um serviço pontual, limpo e eficiente; eles irão encontrar sempre dificuldades em preencher o que podemos chamar de um "gap de finesse" para o carro particular.

Para entender o que isso significa basta ligar a televisão e zapear alguns canais, ou folhear qualquer revista: a publicidade de carros está sempre lá, pronta para mostrar o melhor de todos os mundos possíveis. O enredo é sempre o mesmo: um belo Adonis concentrado no volante, cercado por uma família perfeita ou uma companheira digna de capa da Playboy (dependendo do segmento de referência do carro), saboreando o prazer da condução, localizado em situações ideais: cidade sem tráfego, estradas livres, paisagens deslumbrantes ou, talvez, parques naturais intocados.

Aconteça o que acontecer, precisamente por causa desse "gap de finesse" percebida entre o carro particular e os transportes públicos, este último dificilmente será capaz de escapar da espiral de cortes de que é vítima nos últimos anos. Sem um aumento substancial na demanda por transporte público, é difícil imaginar uma reversão na disponibilidade de fundos. Para conseguir um aumento na demanda, no entanto, além de atender aos critérios objetivos (limpeza, eficiência e pontualidade), é necessário intervir em parâmetros subjetivos de bondes, trens e ônibus: você tem que torná-los atraentes e sexy aos olhos dos potenciais utilizadores.

Um operador belga fez uma tentativa muito interessante (ver vídeo abaixo) e há dezenas de outros casos que podem ser citados.


O essencial é concentrar-se em "Storytelling”, esta poderosa ferramenta de compartilhar conhecimento, e aqueles que atendem o transporte público sabem que não há escassez de histórias para contar; com certeza, como existem histórias de amor nascidas no metrô ou em um bonde, quantas amizades são filhas inseparáveis de anos de comutação? Não valeria a pena dizer a todos, um por um?

Coisas que só acontecem no transporte público (bilhete de amor, postado no Facebook, por um rapaz que acha ter encontrado sua 'cara metade' no Metrô, mas não conseguiu declarar seu amor pessoalmente): 

Nossa sociedade está doente de atomização e a dimensão social oferecida pelo transporte público é uma das opções de tratamento disponíveis.

Uma abordagem diferente para a comunicação do transporte público poderia ser o caminho para preencher o "gap de finesse" existente entre os transportes públicos e os veículos particulares...

=x=x=x=

*O Relatório Isfort (10º Relatório sobre Mobilidade na Itália) leva o nome de ‘UNA LEVA PER LA RIPRESA’, algo como "Uma alavanca para a recuperação”. O estudo foi realizado por um grupo de trabalho conjunto, formado pelas instituições Isfort, ANAV e ASSTRA, e finalizado em 13 de maio de 2013.

Isfort - Instituto de Treinamento e Pesquisa de Transportes - criado em 1994 por iniciativa da Ente Fondazione Banca Nazionale delle Comunicazioni, atual acionista majoritário, e pela Ferrovie dello Stato, com o objetivo de contribuir para a renovação do setor de mobilidade de pessoas e bens. O Instituto tem como objetivo fomentar o desenvolvimento de know-how da gestão sócio-econômica e técnica do setor, por meio de pesquisa, consultoria, assistência técnica e treinamento. A maior parte das energias do Instituto dedica-se à pesquisa, com o objetivo de ler e interpretar os fenômenos e as tendências mais relevantes, identificar as questões críticas e design, e as ferramentas operacionais e padrões de comportamento adequados para resolvê-los.

ANAVAssociazione Nazionale Autotrasporto Viaggiatori (Associação Nacional formada por empresas de transporte de passageiros por ônibus. Juntou-se ao relatório em sua décima edição, ampliando o escopo da análise para o perímetro extraurbano); 

ASSTRAAssociazione Trasporti (Associação de empresas e órgãos de transporte público local de propriedade de autarquias, regiões e empresas privadas).