A roda da história não pode ser paralisada pelas normas legais

20/04/2018 20:30 - Jurandir Fernandes

Este artigo foi originalmente publicado no Diário do Transporte


A mobilidade oferecida como um serviço integrado através de plataformas digitais e de aplicativos reforçará o papel social do transporte público.

As inovações em andamento, bem como sua importância num mundo em crescente urbanização, colocaram a mobilidade urbana na agenda dos governantes, do público em geral, da indústria e do setor de serviços.

Neste cenário, os atores do setor mobilidade precisam demonstrar que estão cientes de sua importância social e econômica e, principalmente, devem demonstrar que são capazes de se adaptarem aos novos tempos. O setor deve liderar este processo de inovação e não tentar impedi-lo!

A população, de posse de quase duzentos milhões de telefones inteligentes, certamente irá em busca de um transporte mais inteligente.

Os sistemas de fretamento e os rodoviários serão os primeiros a serem absorvidos por aplicativos. Resta a estes setores optarem por: desenvolverem uma plataforma própria ou passarem a prestar serviços a um novo player como aconteceu com os taxis frente à “uberização” ocorrida sobre eles.

Em vez de ficar na retranca achando que o juiz vai apitar o final do jogo e que tudo continuará na mesma, é melhor partir para o ataque. A começar por lutar para que os contratos passem por aditivos permitindo que os atuais concessionários de transportes possam prestar o serviço por aplicativos e começar urgentemente a prestar o serviço sob demanda nos entre-picos, nos finais de semana, nas linhas noturnas, nas linhas alimentadoras de baixa demanda, etc… O importante é começar e ir se aperfeiçoando com a participação dos usuários como faz o Moovit, o CittaMobi, o 99, o Cabify, o Uber, o Blablabla.

Aliás, esta conversa eu tive com o sindicato paulistano dos ônibus fretados há mais de um ano. O advogado do sindicato, depois de me ouvir, respeitosamente perguntou: “Por que o senhor está dizendo isto tudo?” Talvez hoje a resposta lhe esteja mais clara.

Jurandir Fernandes é presidente da UITP – União Internacional de Transporte Público na América Latina e está na Cidade do México em evento mundial de mobilidade, onde nesta quinta-feira, 19 de abril de 2018, proferiu a palestra a respeito dos impactos da IV Revolução Industrial sobre o setor de transportes.

Formado em engenharia pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e mestre e doutor em engenharia elétrica pela Unicamp, entre 1993 e 1996 Jurandir foi secretário dos Transportes de Campinas e em 1999 foi diretor de planejamento da Dersa. No ano seguinte, foi diretor do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito). Na gestão Alckmin, entre 2001 e 2006, Fernandes foi o secretário estadual de Transportes Metropolitanos. Foi presidente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos) entre 2001 e 2005. Entre 2007 e 2009, foi presidente da Emplasa (Empresa Metropolitana de Planejamento). 

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