08/11/2016 07:00 - Marcos Timóteo Rodrigues de Sousa
INTRODUÇÃO
Este artigo tem por objetivo analisar de forma sucinta a organização e o uso do transporte coletivo sobre trilhos em quatro cidades europeias: Sarajevo (Bósnia), Istambul (Turquia), Zagreb (Croácia) e Montpellier (França). Procuramos circular a pé na área central destas quatro cidades, observar o movimento de veículos e pedestres e entender como o transporte sobre trilhos contribui na mobilidade urbana destes espaços. De antemão vale ressaltar algumas diferenças em relação às cidades brasileiras, principalmente no uso do transporte coletivo no centro das cidades. No Brasil é muito comum em grandes e médias cidades, na área central, a utilização do transporte por ônibus, ou seja, há pouca utilização dos transportes por trilhos.
TRANSPORTE SOBRE TRILHOS
O Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT) atualmente é uma realidade em algumas cidades brasileiras e, em cidades europeias, este modal é algo corriqueiro na circulação de passageiros. Este tipo de transporte coletivo é de média capacidade. Segundo a ANTP (2015), de acordo com o grau de segregação, tecnologia adotada e a demanda, este modal pode garantir uma capacidade de 15.000 a 35.000 passageiros por hora por sentido.
O VLT pode ser de superfície, com segregação parcial, variando desde o bonde moderno compartilhando a via com outros modos, até o LRT (dos americanos) ou o Tramway (dos franceses), com faixa reservada nas grandes avenidas e ruas, mas compartilhando a via até com pedestres nos centros históricos (ANTP, 2015: 110)
SARAJEVO
De acordo com os dados da ONU (2015) a cidade de Sarajevo, capital da Bósnia e Herzegovina, tem uma população de 688.354, localizada na região dos Balcãs (figura 1). O centro da cidade é delineado pelo Rio Milijacka, os arredores é cercado pela cadeia montanhosa dos Alpes Dináricos. A cidade de Sarajevo era uma das mais importantes da antiga Iugoslávia, o país tem uma população com maioria islâmica, com forte influência histórica e social dos Impérios Turco Otomano e Austro-Húngaro.
A forma urbana na área central de Sarajevo acompanha a espinha dorsal do principal rio da cidade e a Avenida Mula Mustafe Baseskije, percorre boa parte desta área. Nesta via podemos circular com o Tramway Sarajevo. A linha de bonde da capital da Bósnia é uma das mais antigas do mundo, reporta ao final do século XIX. Ficar frente a frente a este bonde é remontar a história do Império Austro-Húngaro e do cerco à Sarajevo pelo exército da Sérvia. A linha percorre um pouco mais de 10 quilômetros interligando as porções leste e oeste da cidade. Os veículos são antigos e danificados pelo tempo. A linha é muito utilizada pela população, nota-se uma maior utilização em relação aos ônibus. A foto 1 exibe o veículo estacionado na parada em Bašcaršija, um antigo bazar encravado no bairro de Stari Grad, centro histórico de Sarajevo.
ISTAMBUL
A cidade de Istambul tem uma população de 14,7 milhões (ONU, 2015). O centro histórico da cidade esta às margens do estreito de Bósforo, de fronte ao Mar de Mármara (parte do Mar Negro), passagem para a Turquia asiática (figura 2). A antiga Constantinopla é a maior cidade Turquia, no entanto, não é capital do país, a sede fica em Ancara. A atual Istambul é uma mistura de muitas tradições e culturas, a população que habita a cidade é composta por turcos e muitos imigrantes de países vizinhos. O comércio, os serviços e o turismo são muito representativos na economia da cidade, portanto a circulação de pessoas é muito intensa.
Na via Cadde Alemdar Cd., localizada no centro de Istambul podemos tomar o “tram” uma espécie de VLT que concorre por espaços com pedestres e automóveis. O “tram” custa 3,00 liras turcas (cerca de 3,50 reais), com o uso de cartão Istanbulkart, o valor da passagem cai pela metade. Na foto 2 podemos observar uma conversão irregular de um automóvel, fato muito comum, pois, os taxis também executam manobras extravagantes nesta área da cidade. Este bonde elétrico circula pelo centro histórico e turístico de Istambul e vai até os arredores da área central. Nota-se uma intensa utilização dos bondes por turistas e moradores da cidade. Os calçadões na área central, onde o comércio é muito intenso é muito forte a presença de pedestres circulando nas calçadas e nos trilhos do “tram”, há todo momento as pessoas desviam dos bondes, pois, os trilhos são muito próximos das calçadas.
ZAGREB
A capital da Croácia, Zagreb, tem uma população de 973.667 (ONU, 2015). A cidade de Zagreb era a segunda maior da antiga Iugoslávia, localizada no centro da Croácia (figura 3). O centro da cidade tem como seu principal marco a Praça Bana Jelacica , na qual se localiza a estátua de Josip Jelacic. Na parte alta da cidade, tomando o funicular encontramos a Catedral São Marcos. Esta cidade é mais populosa e a mais industrializada do país, o seja, é o coração financeiro croata.
Na principal avenida da área central de Zagreb, Ulica Ilica, podemos observar a todo o momento os bondes azuis que circulam intensamente levando muitas pessoas por todas as zonas da cidade. Nota-se uma mistura de veículos novos e antigos, percebe-se que há uma reformulação no sistema de transporte por trilhos. O sistema de bilhetagem em Zagreb é válido por 90 minutos, podendo utilizar ônibus ou bondes, em média, o custo do bilhete é de 15,00 kunas (cerca de 8,00 reais), dependendo de onde comprar e o horário que for utilizar os serviços. O sistema de ônibus é muito utilizado nos arredores da área central, próximo aos calçadões e as ruas do centro histórico os bondes são os mais utilizados.
MONTPELLIER
No Sul da França se localiza a região de Languedoc-Roussillon, nesta região tem o Departamento de Hérault e, a sua capital é Montpellier e, segundos os dados da ONU (2015) a cidade tem uma população de 561.326 (Figura 4). Desde a segunda metade do século XX, o crescimento populacional da cidade se deveu a forte imigração de argelinos e a grande atração de estudantes para a Universidade da cidade. A distância da capital francesa, Paris, a Montpellier é de 747,6 quilômetros.
A foto 4 mostra o VLT no centro histórico de Montpellier, a Rua de Maguelone, é muito movimentada, os pedestres e o VLT dividem o mesmo espaço. As atrações culturais, o comércio e os serviços são intensos nesta área. Quando pegamos a linha 1 que sai da parte oeste da cidade (Odysseum) em direção ao estádio de futebol (Mosson) podemos entender a importância desta rede de trilhos. Os trilhos interligam o centro aos bairros mais periféricos. As quatro linhas do VLT é gerenciado pela companhia TAM (Transportes de l'agglomération de Montpellier). Nota-se que o plano de transportes da cidade é bem visível ao público, pois, há muitos mapas e informações nos pontos de paradas. A partir da Gare de Montpellier Saint-Roch (estação de trem), podemos notar a delimitação por áreas das linhas do VLT.
Marcos Timóteo Rodrigues de Sousa - Pós-Doutor em Geografia Capes-UFF/RJ (marcossousa91630@gmail.com)
BIBLIOGRAFIA
ANTP, Sistema de Informação da Mobilidade Urbana: Relatório 2011. São Paulo, ANTP, 2012.
ANTP, Gestão da mobilidade urbana. São Paulo, ANTP, 2015.
United Nations, Department of Economic and Social Affairs, Population Division (2015). World Population Prospects: The 2015 Revision, Key Findings and Advance Tables. Working Paper No. ESA/P/WP.241.