02/01/2015 08:15 - O Globo
Seis meses após sua inauguração, o Arco Metropolitano do Rio
está impulsionando a captação de investimentos para o estado, sobretudo em
projetos ligados à indústria e à logística. Nesse período, a Federação das
Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) recebeu consultas de mais de 35
companhias interessadas em estabelecer unidades nos arredores da rodovia. Até
2017, nove municípios da Região Metropolitana do Rio — Itaguaí, Paracambi, São
João de Meriti, Belford Roxo, Duque de Caxias, Japeri, Nova Iguaçu, Seropédica
e Queimados — receberão 58 empresas. Juntos, os projetos totalizam R$ 3,51
bilhões em investimentos, além da geração de 14 mil empregos, informa a
Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio de Janeiro (Codin).
O grande impulso desse processo vem do fato de o Arco
Metropolitano organizar o eixo rodoviário para transporte entre o Norte e o Sul
fluminenses. Além disso, permite que caminhões e veículos em geral possam ir de
São Paulo em direção ao Nordeste do país sem passar pela cidade do Rio. Há
ainda a ligação de dois importantes polos econômicos: o Porto de Itaguaí e as
regiões do petróleo, em Itaboraí e Macaé.
Para Carlos Erane de Aguiar, presidente da Representação
Regional da Firjan na Baixada Fluminense, apesar do ainda pouco conhecimento do
Arco, os ganhos para as empresas na região são visíveis:
— Já temos casos de empresas que reduziram de 20% a 30% o
custo de logística.
Mas nem tudo são flores no trajeto do Arco. O trecho
inaugurado em meados do ano passado pelo governo estadual cobre 72 quilômetros
de Itaguaí a Duque de Caxias. Dali até Magé, ele se conecta a um trecho da
BR-116 que já era privatizado. Falta agora a duplicação do percurso
MagéItaboraí (BR-493), onde a estrada está em condições precárias, e que é de
responsabilidade do governo federal. No trecho novo, a qualidade da rodovia
contrasta com deficiências em serviços como os de água, luz e telecomunicações.
Aguiar reconhece que, apesar das oportunidades, a área ainda
é carente de uma série de investimentos, principalmente em infraestrutura. Para
ele, o Arco representa um desafio para o governo estadual e para essa área da
Baixada Fluminense.
— Agora, ou a região cresce com qualidade ou pode se
transformar em mais um adensamento populacional irregular, erro comum do
passado — alerta o representante da Firjan. — Estamos esperançosos, o governo
promete um planejamento, mas isso tem de ocorrer. Precisamos de investimentos
em todas as áreas, inclusive em UPPs, para conter o avanço da violência.
O secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Julio
Bueno, garante que a região será um polo de expansão com qualidade:
— Há investimento em infraestrutura, água e iluminação. E o
governo já conseguiu um financiamento com o Banco Mundial para elaborar um
plano máster que incluirá todos os municípios do entorno do Arco Metropolitano.
POSIÇÃO ESTRATÉGICA
A despeito das lacunas em serviços e infraestrutura, o Arco
continua atraindo empresas de olho na posição estratégica em termos de
logística. São projetos em diversas áreas de atividades, como alimentos e
bebidas, química, metalurgia, cosméticos, higiene pessoal e outros, explica
Pedro Paulo Novelino do Rosário, diretor da Codin. Entre as empresas, estão
Brasilit, P&G, Piraquê, Cless Cosméticos, L'Oréal, Novoflex e MRS
Logística.
— O Arco terá impacto sobretudo no que poderíamos chamar
hoje de áreas virgens em investimento — diz Rosário. — Com as deficiências da
região, os distritos industriais como os de Paracambi, Queimados e Japeri saem
na frente, por oferecer estrutura organizada e benefícios ao investidor.
A P&G está finalizando uma nova fábrica em Seropédica,
com inauguração prevista para o fim do mês que vem. O projeto, que terá aporte
total de R$ 115 milhões, será uma unidade multicategorias, com foco em produtos
para cuidados pessoais, e vai gerar mais 200 postos de trabalho. A facilidade
em logística pesou na escolha da localização, afirma a P&G, que recebeu
ainda condições especiais para instalar a fábrica em Seropédica.
O município será também endereço da quinta unidade da
fabricante de telhas Brasilit no país. Foi a facilidade de acesso o fator
decisivo para o projeto, que deve entrar em atividade neste semestre.
Um dos maiores empreendimentos é o Polo Multimodal de
Queimados. Com investimento de R$ 240 milhões, reúne a prefeitura do município,
o governo estadual e a iniciativa privada, com MRS, MTO e Cimento Tupi. Vai
integrar os portos do Rio e de Itaguaí, por meio de uma conexão entre o Arco e
a ferrovia da MRS. A operação começa este semestre, estima Gustavo Bambini,
diretor de relações institucionais da MRS:
— O projeto deve ajudar na meta de elevar de 3% para 15% a
participação do Porto do Rio no movimento de cargas na região. Além disso, com
50 viagens de trem por mês, em um ano teríamos menos cem mil caminhões
trafegando por rodovias como a Dutra.
O Arco já começa igualmente a gerar riqueza para os
moradores da região, a reboque das obras em curso. Roberto de Oliveira vende um
combinado de sanduíche com suco a R$ 4 para os trabalhadores que atuam na
construção de galpões da Golgi Logística, nas proximidades do cruzamento com a
Rodovia Presidente Dutra: — Vendo 120 lanches por dia, dá para viver. Já André
de Souza Santos, morador de Nova Iguaçu, comemora o emprego na construção de
galpões logísticos na região.
— Agora, venho para o trabalho em 40 minutos. Antes levava duas horas para chegar.
Cresce a oferta de
condomínios logísticos na região
Entrega de galpões
para locação prevista este ano será quatro vezes a de 2014
Com estrutura ainda falha, cresce na região do Arco
Metropolitano a demanda por condomínios logísticos. Em 2014, a oferta desses
espaços ao longo do trajeto do Arco cresceu em 50 mil metros quadrados. A
previsão para 2015 é de entrega de quatro vezes esse número: 200 mil metros
quadrados, estima a consultoria Colliers. Isso equivale a um quinto do
portfólio atual da região, de 1 milhão de metros quadrados.
Os condomínios são usados por operadores logísticos,
transportadoras, indústria e empresas de varejo, reunindo galpões que podem ser
modulados e adaptados de acordo com a necessidade de cada companhia. Como esses
galpões integram o mesmo projeto em regime de condomínio, os gastos em segurança
e infraestrutura, por exemplo, são partilhados, reduzindo custos.
— Com esse aumento na oferta, a tendência é de
flexibilização do preço na hora da negociação, garantindo descontos de 5% a 10%
ou período de carência — estima Ricardo Varella, vicepresidente da Colliers no
Rio.
A gestora Áquilla direciona recursos de seu fundo
imobiliário — hoje com R$ 159 milhões em patrimônio — à construção de
condomínios logísticos no trajeto do Arco:
— Temos cinco terrenos na região. Os dois primeiros terão R$ 290 milhões em investimento. O primeiro, onde funcionou a antiga fábrica da Kaiser, estará pronto dentro de um ano; o outro, de galpões logísticos, será para 2017 — conta o sócio-diretor Octavio Pires Vaz Filho.