27/08/2014 09:08 - Gazeta do Povo
Curitiba poderia ter menos poluição e carros nas ruas e
voltar a ser referência em mobilidade urbana em 2014, projeta Matheus Eduardo
Barbosa Ferreira. Já para Gabriely Vitória d’Alves Antunes, a capital também
poderia ter mais segurança, uma educação melhor e nenhuma pichação. Os desejos
podem ser comuns a vários moradores da cidade, mas foram algumas das respostas
dos dois alunos, de 9 anos, do Centro de Educação Integral (CEI) do
Expedicionário, no Novo Mundo, quando questionados sobre como gostariam que
Curitiba fosse daqui a dez anos.
A escola é uma das que participa do projeto Urbanista Mirim,
que envolve os alunos da rede municipal de ensino e suas famílias na discussão sobre
urbanização e a cidade que se quer construir para o futuro no ano de revisão do
Plano Diretor de Curitiba. "Não são só os adultos que precisam pensar a cidade
para daqui a 50 anos. As crianças é que serão os adultos e precisam pensar no
que querem para o bairro e para a cidade, porque isso pertence a elas”,
argumenta a pedagoga do Ippuc Graciette Lyane Andrade.
O piloto começou na Escola Municipal Papa João XXIII, em
março, e está sendo expandido para todas as 184 escolas da rede. A princípio,
as oficinas são desenvolvidas em 36 centros de educação que já mantinham um
trabalho com o jornal eletrônico "Extra, Extra!”.
Coordenadora desse projeto, a professora Silmara Campese
Cezário ressalta que a atividade, além de integrar a família do aluno na
discussão, faz com que as próprias crianças comecem a desenvolver senso
crítico. Mesmo com pouco tempo, ela diz que é notável o interesse dos alunos em
ler e escrever para participar das oficinas. "O projeto incentiva a escrita e a
oralidade, além de aumentar o vocabulário das crianças. Há evolução e já
percebemos um nível elevado nas produções”, conta.
Na CEI do Expedicionário, quem comanda as atividades do
jornal é a professora Priscila Markir Barth. Ela conta que começou o trabalho
por meio de um outro projeto, o Curitiba Ontem, Hoje e Amanhã. Como muitas
crianças ainda não conhecem outros bairros ou mesmo o centro da cidade, eles se
dedicaram a pesquisar como é a cidade. Depois, compararam com o passado, como
eram as construções, transportes e parques. "A partir de todas essas
descobertas, comparamos as transformações que ocorreram na cidade. Após
discussões, começamos a imaginar como seria Curitiba no futuro”, conta.
O resultado do trabalho está nas paredes da escola, em um
mural. Papeis em branco e uma caneta foram deixados por lá para que os pequenos
escrevessem quando quisessem, e não foram só eles que deixaram os desejos para
a futura Curitiba. Já recheada de sugestões, as paredes também guardam os
pedidos de pessoas da comunidade que passaram pela escola em diferentes
atividades.
Estímulo ao debate
tem de vir desde cedo
A diretora Ana Berenice Horning Sanchez está no CEI do
Expedicionário desde 1989. Ela viu a pequena invasão no Novo Mundo crescer e
seus primeiros alunos já levam os filhos para a escola. "Me sinto um pouco avó
dessas crianças”, conta. Para ela, a grande virtude de um projeto com tantos
eixos temáticos é a formação para cidadania.
Ela lembra que há vinte anos um aluno da escola já
questionava porque o terreno (então baldio) que ficava nos fundos não era usado
para uma horta comunitária. Com o projeto Urbanista Mirim, a diferença é que a
voz deles extrapola os muros da escola. "Hoje as crianças crescem com uma visão
mais ampla do mundo e estão participando de decisões. Elas são formadas para
serem cidadãos políticos, atuantes na sociedade”, diz.
E os pequenos têm opinião. Estimulado pelo debate iniciado
nas aulas, Matheus Eduardo Barbosa Ferreira, de 9 anos, conta que gosta muito
de aprender sobre mobilidade urbana e nas palavras inocentes do menino há um
fundo de verdade. "Tem muita família que tem carros, mas poderiam reduzir: dar
carona, andar de bicicleta, a pé. Quem não tem carro ou é ruim para dirigir,
pode andar de ônibus. E o prefeito pode comprar mais ônibus.”
No que depender dos jovens planejadores, o trânsito fica no
centro das atenções. Gabriely Vitória d’Alves Antunes prefere andar de carro,
mas não do jeito que está hoje. "Poderia ter mais guardas, mais semáforos e
segurança”, diz. Se vem aí uma geração de planejadores urbanos, só o tempo
dirá. "São tantas coisas divertidas que aprendemos que nem sei o que quero ser
quando crescer.”
Visão de futuro
Projeto pode entrar no currículo. Ippuc inclui ideias no Plano Diretor
Parceria entre a Secretaria Municipal de Educação e o Ippuc, o projeto Urbanista Mirim é desenvolvido em oficinas nas escolas e pode se tornar integrante fixo do currículo escolar. Professores explicam aos alunos o que é o Plano Diretor e conduzem as discussões sobre o que as crianças querem ver em Curitiba. Cada um tem liberdade para desenvolver as atividades que mais se adaptam à realidade de cada comunidade. Em comum, está a produção de materiais jornalísticos – impresso e vídeo. As crianças também preenchem questionário, com ajuda dos pais ou professores. Elas precisam responder a quatro perguntas: qual a coisa mais legal que Curitiba oferece, um momento em que sentiu orgulho da cidade, o que é mais importante para ser um bom lugar para se viver e como eles gostariam que a capital fosse em dez anos. Até o momento já foram 3.190 respostas. Todas as informações serão refinadas pelo Ippuc e incluídas na revisão do Plano Diretor.