28/08/2014 07:20 - Valor Econômico
Em documento intitulado "O que Esperamos do Próximo
Presidente", a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)
informa que mais 12 usinas de açúcar e de etanol podem parar de moer cana na
safra 2014/2015, além das 44 que fecharam nas últimas cinco safras, em mais um
desdobramento da crise do setor que tem, basicamente, três origens: a falta de
competitividade do etanol por causa do represamento do preço da gasolina, a
queda do preço do açúcar e o elevado endividamento das empresas contraído no
período 2006-2008.
"Não vejo o futuro com otimismo", afirma Mírian
Bacchi, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da
Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiróz" (Cepea/Esalq) da
Universidade de São Paulo (USP). Segundo ela, a primeira crise do setor do
etanol no final dos anos 1980 teve uma justificativa econômica razoável, o
preço do petróleo caiu de forma significativa, derrubando o preço da gasolina e
com ela, a competitividade do etanol.
Agora, argumenta, o preço do petróleo está alto, acima de
US$ 100 por barril, mas o preço da gasolina segue estável no Brasil, defasado
em relação ao preço internacional, como forma de segurar a inflação. Como o
preço do etanol só é competitivo se for, no máximo, 70% do custo na bomba da
gasolina, a técnica do Cepea entende que se instalou um problema difícil de ser
solucionado. "A sociedade precisa decidir se quer ou não manter (produção
de etanol)."
De acordo com o documento da CNA, o endividamento do setor
equivale hoje ao faturamento de uma safra que é de aproximadamente R$ 70
bilhões e há 50 empresas em processo de recuperação judicial. Segundo Mírian,
com o endividamento em dólar em 2008, a quebradeira foi geral. A queda do preço
do açúcar deram o tempero final ao quadro de crise.
A pesquisadora do Cepea critica a falta de uma política de
médio e longo prazo que assegure menor interferência do governo no mercado de
combustível. A volta da cobrança da Contribuição de Intervenção no Domínio
Econômico (Cide) sobre a gasolina, como um imposto verde, deve ser considerada.
O etanol reduz em até 61% as emissões de gases tóxicos e por isso deve ser
beneficiado.
As propostas da técnica do Cepea estão entre as que a CNA
elencou como essenciais a uma política que volte a estimular o desenvolvimento
do setor. Outro desafio visto pela pesquisadora é o aumento da produtividade,
hoje de 7 mil litros por hectare. A alternativa, segundo Mírian, seria investir
em etanol de segunda geração (feito de bagaço de cana, entre outras
alternativas), mas reconhece que, nas condições atuais, "falta incentivo
para investir". Segundo a técnica, o custo do etanol de segunda geração
que começa a ser produzido no país está na casa dos R$ 1,70 a R$ 1,80 por litro
e precisa cair pra R$ 1,35 para ser competitivo.