26/11/2014 07:05 - O Globo
TASSO AZEVEDO
Depois de oito anos de sucessivas quedas nas emissões de
gases de efeito estufa no Brasil, em 2013 as emissões voltaram a subir de forma
expressiva ( 7,8%), principalmente pelo aumento do desmatamento na Amazônia e
no Cerrado, acompanhado do aumento do consumo de gasolina e diesel e da
expansão da geração de energia elétrica a partir de termelétricas movidas a
combustíveis fósseis, sobretudo carvão e gás.
O levantamento das emissões para o período de 1970 a 2013
produzido pelo Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do
Observatório do Clima mostra que o Brasil emitiu 1,57 bilhão de toneladas
equivalentes de carbono ( Gt CO2e) no ano de 2013, bem abaixo das 2,5 Gt CO2e
emitidas em 2005, mas com uma nova composição, em que a energia dobrou sua
participação nas emissões, alcançando 30% do total.
De fato, o período efetivo de queda de emissões se deu entre
2005 e 2009; depois disso, as emissões praticamente se estabilizaram ao redor
de 1,5 Gt CO2e, mesmo com a queda do desmatamento ainda tendo perdurado, ainda
que de forma menos expressiva, entre 2010 e 2012.
Até 2012 o Brasil ainda caminhava claramente para o
cumprimento da meta de redução de 36% das suas emissões projetadas para 2020 (
o que equivale a 2 Gt CO2e). Porém, a mudança de trajetória em 2013 e a
manutenção do crescimento das emissões nas principais áreas de pressão em 2014
tornam isto incerto, com as projeções podendo chegar a 2,2 Gt CO2e em 2020.
Em 2014, o uso das termelétricas foi intensificado em
relação a 2013, o consumo de gasolina e diesel cresceu e os sinais dados pelos
sistemas de alerta de desmatamento apontam crescimento na Amazônia, no Cerrado
e na Mata Atlântica. O único setor que pode mostrar retração de emissões em
2014 é o da indústria, que vem tendo um ano particularmente ruim.
Mais preocupante é constatar que a reversão de tendência
ocorre num período de baixíssimo crescimento econômico e, portanto, estamos nos
tornando menos eficientes, ou seja, emitimos mais para produzir a mesma
quantidade de produtos e serviços.
Não se trata de destino, uma fatalidade, mas de uma situação
que pode perfeitamente ser revertida com a retomada do cumprimento das metas do
Plano Nacional de Mudanças Climáticas (aumento de 10% do consumo de álcool,
aumento da proporção das fontes renováveis na matriz energética — hoje em queda
— e redução do desmatamento).
Que sirva de alerta para que, neste novo mandato, o governo
federal retome a agenda de desenvolvimento sustentável tão desvalorizada nos
últimos anos, e o Brasil possa voltar a liderar pelo exemplo a agenda climática
global.
Tasso Azevedo é
engenheiro florestal