27/01/2015 07:00 - O Globo
RIO - O juiz Guilherme Schilling Pollo Duarte, que na última
sexta-feira condenou pai e filho no episódio do atropelamento e morte do
estudante e músico Rafael Mascarenhas, filho da atriz Cissa Guimarães, em julho
de 2010, destacou em sua sentença o fato de ambos terem corrompido dois
policiais militares para tentar acobertar o caso, bem como ocultar provas do
acidente, descaracterizando o local. Rafael de Souza Busssamra, que dirigia o
carro, recebeu pena de 12 anos de detenção (sete em regime fechado e cinco em
semiaberto), somadas as penas por homicídio culposo, fuga, pega e
descaracterização do local do acidente para dificultar as investigações. Já o
pai do motorista, Roberto Martins Bussamra, foi sentenciado a oito anos e 11
meses em dois crimes: corrupção ativa e descaracterização do local, dos quais
apenas sete meses em regime semiaberto.
PENA MAIOR NO SUBORNO
O juiz, no entanto, estabeleceu penas diferentes para Rafael
e Roberto ao analisar a condenação de corrupção ativa. Neste caso, Roberto foi
sentenciado a oito anos e dois meses, e Rafael, a sete anos, ambos em regime
fechado. Na sentença, o juiz entendeu que o pai deveria receber uma pena maior
por corrupção, por ter tido um papel mais incisivo no episódio, que incluiu
pagar R$ 10 mil de propina aos PMs, na tentativa de livrar o filho do
flagrante.
Em sua decisão, o magistrado lembrou que os PMs chegaram a
acompanhar o reboque em parte do trajeto até oficina para reparar o carro:
"O réu desempenhou papel de proeminência no crime de
corrupção ativa (...). Era o acusado quem deliberava sobre a forma de proceder
dos demais agentes envolvidos e também os caminhos que seriam percorridos. O
acusado sabia desde o primeiro instante que não estava corrompendo um mero
funcionário público, mas sim um PM(...). É de se observar que partiu de Roberto
o ajuste para contratação de serviço de reboque com participação e
intermediação de PMs."
‘Eles se esqueceram
de pedir meu perdão’, diz a atriz Cissa Guimarães
Aliviada com condenação dos envolvidos na morte do filho,
ela acredita que tragédia vai servir como marco contra impunidade
Depois de ouvir a sentença, você considera que a justiça foi feita?
Sim. A punição não traz meu filho de volta, mas ajuda a me
sentir aliviada. Eu sofri muito e, como mãe, ainda carrego a dor de perder um
filho. Para mim, é muito importante saber que haverá punição.
Você acha que este caso pode servir como exemplo?
Com certeza, sim. A morte do Rafael vai servir como um marco
para não haver impunidade. A Justiça continuará sendo rigorosa e eu não creio
que um pai, ao saber que o filho cometeu um crime, repita a postura de tentar
corromper PMs para acobertar o caso e ocultar provas.
Segundo a lei, os envolvidos no crime podem conseguir um habeas corpus
e sair da cadeia. O que acha disso?
Isso é a nossa lei. Eu, como cidadã, preciso aceitar. Eles
devem entrar com um pedido de habeas corpus hoje (segunda-feira). Conseguindo,
eles vão aguardar o recurso ser julgado fora da cadeia. Mas, honestamente,
duvido que sairão impunes. Podem sair, mas vão voltar. Estou preparada para
tudo e tenho fé que a justiça será feita.
O caso ganhou mais repercussão por você ser uma atriz famosa?
A sociedade está do meu lado porque acompanhou todo o meu
sofrimento e o crime bárbaro que cometeram. Tanto o filho quanto o pai,
envolvidos na morte do Rafael, já estão marginalizados na sociedade, por mais
que busquem a liberdade na Justiça.
E como você está se sentindo quatro anos depois da morte de Rafael?
Jamais serei a mesma pessoa. Quem me vê pode pensar que
estou feliz, mas, daqui pra frente, o máximo que conseguirei chegar será aos
80% de felicidade — 100%, nunca mais. Eu passei por um trauma, mas estou
buscando a espiritualidade para seguir em frente.
Você os perdoa?
Ainda não totalmente. Estou buscando isso. É muito difícil,
mas já melhorei muito. O que ainda me entristece é que ninguém da família dos
acusados me procurou. Os envolvidos na morte do Rafael querem a liberdade na
Justiça, mas se esqueceram de pedir o meu perdão. Nem a mãe do menino que
atropelou meu filho tentou se aproximar. Seria mais fácil para mim perdoá-los,
se tivessem me procurado.