São Paulo tem mais carro, mas aprova ciclovia e faixa de ônibus

19/09/2014 09:17 - O Estado de SP / Diário do Nordeste

O número de paulistanos que têm automóvel em casa subiu dez pontos porcentuais entre o ano passado e este ano. Pesquisa do Ibope, encomendada pela Rede Nossa São Paulo e divulgada ontem, primeiro dia da Semana da Mobilidade, mostra que 62% dos entrevistados disseram ter um veículo em casa - em 2013, eram 52%. O levantamento revela também que 90% dos pesquisados são favoráveis às faixas exclusivas de ônibus e 88% aprovam as ciclovias.

Apesar das políticas públicas implementadas com o objetivo de ampliar o uso dos ônibus e de sua aprovação na cidade, a migração para os carros continua forte. O estudo mostra que passou de 27% para 38% os entrevistados que usam o carro diariamente ou "quase todos os dias”.

Para 70% dos pesquisados, é "ruim” ou "péssimo” o trânsito na capital, índice que permanece praticamente estável desde 2008. Enquanto piora para carros, o trânsito melhorou para ônibus na cidade. Na semana passada, a Prefeitura divulgou um levantamento que indica ganho de 68,7% na velocidade dos ônibus nos 59,3 quilômetros de faixas exclusivas implementadas neste ano. A variação foi de 12,4 km/h para 20,8 km/h. Na atual gestão, foram implementadas 357 km de faixas. O prefeito Fernando Haddad (PT) afirmou ontem que é preciso ampliar as formas mais coerentes de uso dos automóveis. "O trabalhador americano e o europeu per capita têm mais carro do que o brasileiro. Mas usam-no mais racionalmente. Uma coisa é a propriedade, e outra é o uso racional.”

Tempo. Entre outros aspectos, o estudo revela que o tempo gasto no trânsito por quem usa carro é maior do que o de passageiros de ônibus. São 2h53min por dia, em média, incluídos todos os deslocamentos feitos pela pessoa. Por sua vez, cada usuário dos coletivos gasta cerca de 2h46min diários nas viagens.

Dados do Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran-SP) mostram que, até agosto, a capital ganhou 127 mil carros, ou seja, uma média de 524 novos automóveis entrando em circulação a cada dia. O município tinha no mês passado 5,5 milhões de carros.

O arquiteto Flamínio Fichmann, especializado em Transportes, defende a cobrança pela utilização do carro, como o pedágio urbano. "Não tem outra forma. Ou o governo passa a restringir cada vez, ou faz a cobrança pelo uso. Quem usa mais carro paga mais por isso.”

Para o consultor em Trânsito Alexandre zum Winkel, o brasileiro é culturalmente apegado ao automóvel. "Você pode construir a quantidade de metrô e corredor de ônibus que for, o número de carros não vai cair. É um problema cultural. Existem alguns produtos materiais, entre eles o carro, que são prova de que o brasileiro cresceu na vida. É uma forma de status.” O levantamento foi realizado entre 29 de agosto e 3 de setembro, com 700 pessoas. A margem de erro de quatro pontos para mais ou para menos.

64% pedem mais ação de governos

Na pesquisa, 64% disseram que "governos devem dar mais atenção aos transportes públicos”. A maioria (58%) quer mais metrô ou trem e 37%, mais corredores de ônibus. Hoje São Paulo tem 75,5 km de metrô e 120 km de corredores. O governo do Estado promete mais 103 km de metrô e a Prefeitura, mais 150 km de corredores.

Três em cada 4 deixariam carro

Dos que usam carro, 71% deixariam o automóvel se houvesse "uma boa alternativa” de transporte – o que corresponde a 26% dos paulistanos, ou 2,3 mi lhões de pessoas. Para 61% das pessoas ouvidas, os motoristas são desrespeitados na cidade. No caso dos pedestres, o patamar sobe para 72% e para 80% no dos ciclistas e motociclistas.

Para 24% espera no ponto cresceu

Para 24% dos usuários frequentes de ônibus, o tempo de espera no ponto ou terminal aumentou nos últimos 12 meses. Esse número é menor do que os 34% que reclamavam disso em 2013, o que indica uma melhora no serviço de coletivos da cidade. A lotação, por sua vez, aumentou para 39% neste ano, ante 44% ano passado.

1/4 cobra mais linhas de ônibus

Se houvesse mais linhas de ônibus, cobrindo percursos que não existem hoje, 27% dos entrevistados deixariam o carro, migrando para o transporte co letivo, mostra a pesquisa. Para outros 27%, essa transição ocorreria se o tempo de espera pelos coletivos fosse menor. Já 17% pedem um preço menor da passagem, que hoje custa R$ 3.

36% querem ‘mais trilhos’

A expansão do sistema sobre tri lhos, que enfrenta atrasos recorrentes em São Paulo, é uma alternativa para que 36% dos paulistanos abandonem os automóveis, informa o Ibope. A melhora das condições físicas dos trens, o que inclui menor lotação nos horários de pico, é indicada por 19% dos entrevistados como um fator de atração.

Mais ciclovias e 1/4 usaria bike

 

Das pessoas ouvidas pelo instituto de pesquisa, 26% considerariam usar a bicicleta como meio de transporte se houvesse a construção de mais ciclovias na cidade. Outros 26% pedem mais segurança para quem anda sobre duas rodas nas vias paulistanas e 24% informaram que nunca usariam bicicleta em São Paulo.

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Análise: Sem coletivos, 42% dos carros ficariam presos no trânsito

'É preciso tornar o ônibus e o metrô mais atrativos, rápidos e confortáveis. Velocidade é o primeiro fator de atração'

Horácio Augusto Figueira

Em março, compilei uma série de dados do trânsito paulistano para a Rede Nossa São Paulo. Em linhas gerais, o levantamento analisou a situação das vias caso fossem retirados todos os ônibus e caminhões. Ou seja, São Paulo, para o gosto de alguns, seria só de carros e motos.

Todos os antigos passageiros dos outros modais extintos - até dos fretados - passariam a se locomover em carros. Com base nas estatísticas da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) obtidas em 206 pontos de monitoramento das principais vias da capital paulista, constatamos que, no horário de pico da manhã (que vai das 7 às 10 horas), 42% das pessoas usando automóveis ficariam presas no congestionamento.

Elas não conseguiriam sequer avançar para as principais avenidas e ruas da cidade, já saturadas. No pico da tarde (das 17 às 20 horas), o viário principal só conseguiria absorver mais 10% de automóveis, deixando de fora cerca de 40% dos antigos passageiros de ônibus, fretados e caminhões.

Pelo número excessivo de automóveis hoje, o viário de São Paulo já está trabalhando no limite nas seis horas dos picos. É preciso tornar o ônibus e o metrô mais atrativos, rápidos e confortáveis. No transporte coletivo, a velocidade é o primeiro fator de atração, depois a frequência e o conforto.

Horácio Augusto Figueiraé consultor em Engenharia de Transporte de Pessoas

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Para Haddad, transporte é questão ‘suprapartidária’

Ele citou dados da pesquisa Ibope que indicam apoio maciço a duas de suas principais políticas na área: criação das faixas exclusivas para ônibus e ciclovias

O prefeito Fernando Haddad (PT) disse ontem que a questão da melhoria do transporte público precisa ser "suprapartidária”, sem a resistência dos partidos de oposição. Ele citou dados da pesquisa Ibope sobre mobilidade, que indicam apoio maciço da população a duas de suas principais políticas na área: a criação das faixas exclusivas para ônibus e as ciclovias.

Ele comemorou os 90% de aprovação à criação de faixas só para coletivos. "Toda a oposição que foi feita no noticiário, nos jornais, não resultou, para a oposição, em nenhum ganho político. Então, fiz um apelo suprapartidário, em defesa do transporte público e do transporte individual não motorizado. Essa é uma agenda que os partidos de oposição não deveriam disputar. Deveriam se somar ao governo para que nós pudéssemos construir até mais rapidamente tudo o que vem sendo feito na cidade.”

O petista afirmou que, no caso das ciclovias, aprovadas por 88% dos paulistanos, conforme o Ibope, sua gestão tem buscado experiências em cidades como Tóquio e Bruxelas. "Estamos nos mirando nos bons exemplos dessas cidades, para que tenhamos um equilíbrio. Não se trata de ser contra o transporte individual motorizado, mas buscar um equilíbrio entre ele, o pedestre, o ciclista, o usuário de transporte público.” Haddad citou que, no caso das faixas de ônibus, os passageiros ganharam tempo. Em linhas entre Itaquera, na zona leste, e o Parque D. Pedro II, no centro,  a  viagem  caiu  de 1h40min para 46 minutos, em média. Já entre o Jardim Cocaia e a Avenida Teotônio Vilela, na zona sul, a redução foi de1h20min para só 15 minutos.

Reajuste. O prefeito também disse que ainda não há previsão de aumento da passagem dos ônibus em 2015. O secretário estadual dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, afirmou, por sua vez, que "provavelmente não” haverá reajuste no Metrô e na CPTM.

 

Diário do Nordeste - Fortaleza

Em SP, maioria é a favor de ciclovias

Subiu de 86% para 88% o percentual de paulistanos favoráveis às vias exclusivas para bicicletas de 2013 para este ano

São Paulo. Em meio às polêmicas sobre a implantação de ciclovias em São Paulo, pesquisa do Ibope divulgada, ontem, mostra que 88% dos paulistanos são a favor da construção e ampliação de vias exclusivas para bicicletas na cidade. A ampliação das faixas exclusivas de ônibus, outra medida que tem gerado discussão, é aprovada por 90% dos entrevistados.

O levantamento mostra, por outro lado, que as políticas de transporte não conseguiram melhorar a mobilidade da metrópole. O tempo médio gasto diariamente pelos paulistanos no trânsito subiu de 2h15, no ano passado, para 2h46.

Os resultados fazem parte de levantamento sobre mobilidade urbana feito pelo Ibope desde 2007 para a Rede Nossa São Paulo. O trânsito na capital paulista foi considerado "ruim" ou "péssimo" por 70% dos moradores.

Mais da metade dos moradores da cidade de São Paulo tem pelo menos um carro em casa. De acordo com o levantamento do Ibope, o número de pessoas com carro na cidade subiu de 52% no ano passado para 62% neste ano.

Outro dado divulgado pela Rede Nossa São Paulo, formada por cerca de 700 entidades da sociedade civil, aponta que também aumentou a preferência do paulistano pelo uso do automóvel. Segundo a pesquisa, subiu de 27% para 38% o número de pessoas que dizem utilizar carro todos os dias ou quase sempre.

Se as medidas tomadas pelos governos municipal e estadual parecem não ter tirado os carros da rua, há indicativos de que a situação pode melhorar. A cada dez entrevistados, sete (71%) disseram que deixariam o automóvel em casa se houvesse uma "boa alternativa ao transporte".

Entre as melhorias apontadas pela população, 58% pedem construção de mais linhas de trem e metrô e 37% querem novas linhas de corredores de ônibus. Quatro em cada dez entrevistados pelo Ibope são favoráveis à implementação do passe livre para todos os usuários de transporte.

Qualidade de vida

A percepção dos entrevistados com relação à qualidade de vida na capital paulista melhorou nos últimos anos. Em 2012, 59% dos entrevistados diziam que São Paulo é um lugar "bom" ou "ótimo" para se viver. Em 2014, o índice subiu para 66%.

Quando perguntados sobre o maior problema da metrópole, os entrevistados escolheram Saúde. Abastecimento de água, que nunca apareceu nas primeiras dez posições da pesquisa, subiu para 6º, no ano que São Paulo enfrenta a maior crise hídrica da história.

O levantamento realizado pelo Ibope ouviu 700 pessoas entre os dias 29 de agosto e 3 de setembro. A margem de erro é de quatro pontos percentuais.