31/07/2015 06:25 - Folha de SP
ÁLVARO COSTA E SILVA
RIO DE JANEIRO - Obras de escavação do VLT (Veículo Leve
sobre Trilhos) revelaram o passado dos bondes, trilhos antigos desenterrados na
região em torno à Praça Tiradentes. Não apenas os elétricos como também os
puxados a burro, que começaram a circular em 1868, e logo foram batizados:
"jabutis".
Era um assombro. O condutor, além de chicotear, fazia, na
descrição de Pedro Nava, "uma série de ruídos que tirava dos beiços, da
língua, das bochechas, das goelas, e que eram muxoxos e chupões, assovios e
estalos, brados monossilábicos e gritos churriados, a que as adestradas
alimárias respondiam com o passo, a marcha, o trote, a andadura e a
parada".
Difícil imaginar, pois não? Da mesma maneira é inacreditável
que, hoje, um ônibus na contramão possa atropelar na calçada uma mãe com bebê
no colo (a criança, de três meses, morreu). Ou que outro ônibus na Linha
Vermelha perca a roda e esta atinja em cheio um idoso (ele também morreu). É o
resultado da combinação assassina de uma frota em pandarecos (e não vistoriada)
na mão de motoristas explorados e incompetentes.
Numa semana, são os ônibus. Na seguinte, as barcas ou os
trens, ou o metrô, ou as vans. Ou todos eles juntos e ao mesmo tempo. Ou a
pressão dos taxistas, que resolvem parar a cidade em sua guerra particular
contra o aplicativo Uber (negócio conhecido pelo eufemismo "carona
paga"). Os mesmos taxistas que fogem da fiscalização como o diabo da cruz,
nunca têm troco e são as criaturas mais gentis da paróquia.