23/12/2013 10:09 - Valor Econômico
Leia: MPL
auxilia onda de protestos no México, diz jornal - Folha de SP
A presença de militantes do brasileiro Movimento Passe Livre
(MPL) em protestos contra o recente aumento das tarifas de metrô na Cidade do
México está chamando a atenção da imprensa e do governo mexicanos, que afirma
que tentará deportá-los por estar supostamente em situação ilegal no país.
Na semana passada, o jornal "El Universal"
publicou uma reportagem que diz que o governo identificou "sete jovens
brasileiros do coletivo Passe Livre como assessores de quem organiza as
manifestações contra a alta da tarifa do metrô na capital". O MPL confirma
a participação de seus militantes nos protestos, mas nega que eles exerçam papel
de liderança e afirma que jornais e autoridades tentam "criminalizar o
movimento".
Os protestos começaram no início do mês, após o anúncio do
reajuste de 66% o valor da passagem, de 3 para 5 pesos mexicanos (cerca de R$
0,92). O governo da capital mexicana diz ter pesquisa em que 55,7% dos usuários
apoiam o aumento e alega que manterá o subsídio ao transporte, sem o qual a
tarifa passaria a 10,50 pesos (R$ 1,95). Mas um estudo da Universidade Nacional
Autônoma do México aponta que 93% dos entrevistados se opuseram ao reajuste.
O "El Universal" identificou dois membros do MPL
brasileiro, Caio Martins Ferreira e Maria Aguilera, e estampou fotos deles e de
outros militantes do MPL em extensa reportagem. "As autoridades da capital
contam com fotografias dos sete jovens brasileiros que se apresentaram também
em algumas estações para coordenar diferentes agrupamentos, considerados pelo
governo da Cidade do México como radicais", disse o jornal.
No sábado, citando dados do governo local e da Procuradoria
Geral da República, o jornal disse que os brasileiros podem estar em situação
ilegal no país, motivo "pelo qual se procederia uma deportação no momento
em que sejam localizados". O "El Universal" afirma que o
Instituto Nacional de Migração (INM) investiga as condições de 14 brasileiros "que
têm evidente liderança nas manifestações" e cuja entrada no país não se
encontra nos registros do INM.
O MPL confirmou ao Valor a presença de alguns de seus
membros nos protestos. "Mas eles não exercem nenhum papel de liderança no
movimento nem estão no país para prestar consultoria", disse Mariana
Toledo, militante do MPL, que está em São Paulo. "A exemplo do que ocorreu
aqui no Brasil, em junho, parte da mídia e o governo tentam criminalizar um
movimento legítimo contra o aumento da passagem."
Mariana diz que os brasileiros estão em situação legal no
México. Segundo ela, Caio, Maria e "outros quatro ou cinco
militantes" viajaram ao país para participar da "Escuelita Zapatista
por la Libertad", no Estado de Chiapas. Criada pelo grupo armado de esquerda
Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), a escolinha recebe membros de
organizações de todo mundo para "participar do cotidiano e do saber do
povo indígena zapatista" por alguns dias.
Segundo ela, o MPL tem sido procurado por entidades e universidades
de outros países para compartilhar sua experiência nos protestos em São Paulo,
"mas não para prestar consultoria sobre como protestar". Após onda de
protestos liderados pelo grupo, o prefeito Fernando Haddad revogou um aumento
de R$ 0,20 na tarifa de ônibus da cidade, que ficou mantida em R$ 3. "No
México, foi a mesma coisa. Os militantes do MPL participaram de conferências
totalmente públicas, relatando a nossa experiência no Brasil. Eles não tiveram
nenhum papel de coordenação ou liderança nos protestos."
É o que dizem também os organizadores dos protestos no México. "Os companheiros do Passe Libre não estão participando de nenhuma assembleia. Não são parte do movimento contra a alta do metrô", disse o ativista mexicano Abraham Márquez ao jornal "Reforma". "Eles vêm e compartilham sua experiência, não têm nenhuma capacidade de decisão."