26/11/2014 08:35 - Gazeta do Povo
ROGERIO WALDRIGUES GALINDO – COLUNA CAIXA ZERO
As empresas de ônibus têm de pagar o décimo terceiro de
motoristas e cobradores até a próxima sexta-feira. Como elas dizem que não têm
dinheiro para isso, o risco de haver problemas (como uma greve) é grande. Do
ponto de vista do cidadão, o problema está em arranjar um jeito de ir de casa
para o trabalho (no mínimo). Do ponto de vista dos políticos, o que pode estar
em jogo é a próxima eleição municipal.
Na semana que passou, uma das empresas que prestam serviços
para a prefeitura de Curitiba já teve um indicativo de greve. A Araucária não
tinha conseguido pagar a quinzena dos trabalhadores em dia e eles ameaçaram com
a paralisação. A empresa correu atrás, pagou os 40% do salário e tudo continuou
como antes: os passageiros não chegaram nem a saber o que se passava.
Com o décimo terceiro, a coisa é diferente. As empresas
dizem que não têm caixa para mais nada. Em parte, porque a prefeitura deixou
crescer uma dívida de R$ 9,6 milhões com as concessionárias. Curiosamente, é
quase o mesmo valor que elas precisam desembolsar para pagar a primeira parcela
do décimo terceiro salário: R$ 10 milhões. As empresas foram à Justiça para
exigir o pagamento, mas na última hora a Urbs derrubou a liminar que exigia que
tudo fosse posto em dia.
Trata-se de um tremendo jogo de interesses. As empresas, ao
longo do ano, receberam R$ 16 milhões em pequenas parcelas para ir acumulando e
pagar o décimo terceiro dos trabalhadores. Mas dizem que, com a dívida da
prefeitura, não estão conseguindo fazer frente a todos os seus compromissos. A
Urbs chegou a dizer que a dívida que tem com os empresários era menor do que o
lucro dos patrões – o corolário era que eles deveriam abrir mão do seu,
temporariamente, para pagar a folha salarial.
Por outro lado, a prefeitura é credora do governo do estado.
Do total devido às empresas, R$ 7 milhões eram de subsídios atrasados devidos
pelo Palácio Iguaçu. A Comec, assim como a Urbs, deve, não nega e diz que paga
quando puder. Na sexta-feira, mandou R$ 1,5 milhão para a Urbs. Continua
devendo R$ 5,5 milhões. Pode ser que o resto venha logo, pode ser que demore.
Todas as partes envolvidas alegam que a situação econômica
do país não é lá essas coisas, e cada um empurra a responsabilidade para o
próximo. Quem corre o risco de ficar realmente sem dinheiro, no entanto, são os
motoristas e os cobradores. E não é difícil imaginar que, se isso ocorrer, eles
vão parar o sistema. As empresas não ficariam nada incomodadas com uma greve
que, ao fim e ao cabo, obrigaria a Urbs para correr e pôr as contas em dia.
Na ponta do lápis, quem tem menos a perder com tudo isso são
as empresas, que têm contrato garantido para mais de década e, uma ou outra
hora, vão receber. Beto Richa (PSDB) continua em aperto para pagar, mas leva a
sorte de o povão não associar o ônibus em greve com o governo do estado. Mais:
não há lei que o obrigue, no momento, a manter o subsídio. O prefeito Gustavo
Fruet (PDT) tem menos sorte, e terá de maquinar alguma coisa para pagar tudo no
curto prazo e resolver o buraco de maneira mais definitiva. Caso contrário,
viverá ameaçado pela falta de grana no caixa.
Mas quem tem mais a perder mesmo é você que depende do
ônibus para se locomover. Se o busão parar, é você que vai ter que se virar.