13/10/2015 08:43 - Valor Econômico
O físico José Goldemberg, 87 anos, chefe da pasta ambiental
do governo brasileiro quando o país sediou a Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1992, é taxativo ao avaliar o avanço
da ciência e da inovação desde aquele marco histórico, quando, pela primeira
vez, os países negociaram caminhos para controlar as mudanças climáticas:
"O conhecimento sobre o problema evoluiu, temos domínio de tecnologias e
os países em desenvolvimento, como o Brasil, não precisam de ajuda financeira,
mas de políticas de governo que conduzam para práticas sustentáveis".
Em sua análise, no nível internacional, o campo que mais tem
concentrado esforços de tecnologia na questão ambiental é o da geração e uso de
energia - "e não podemos ficar tão atrás". Hoje os investimentos
globais em fontes renováveis, cerca de US$ 300 bilhões ao ano, superam os
valores aplicados em combustíveis fósseis, segundo Goldemberg.
"O Brasil já provou que é possível mexer nessa matriz,
quando aprendeu a produzir etanol da cana, cuja produtividade cresceu em média
3% ao ano durante três décadas", afirma o físico, que em setembro assumiu
a presidência da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
A instituição investiu R$ 1,15 bilhão em fomento à pesquisa em 2014, a partir
do repasse de 1% da receita tributária estadual, conforme determina a
Constituição do Estado de São Paulo.
Como a atual retração da economia poderá reduzir o montante
a ser destinado pela Fapesp às pesquisas, entre as quais muitas que resultam em
inovações verdes, uma estratégia será intensificar parcerias com empresas.
"O dólar alto tende a encorajar o setor privado nacional a desenvolver
tecnologias e produtos inovadores para competir lá fora", estima
Goldemberg. Para ele, a crise econômica pode ser oportunidade para o
desenvolvimento de uma cultura mais inovadora.
Na última década, o processo foi inverso: segundo o físico,
o real valorizado desestimulou melhores índices de inovação, porque em alguns
casos ficou mais fácil e barato comprar soluções no exterior pagando royalties.
Dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
mostram que o país investe 1,25% do PIB em pesquisa e inovação, sendo que a
maior parte dos recursos (55%) são públicos, situação inversa à dos países
desenvolvidos, em que a participação das empresas é maior. O quadro reforça o
perfil do país como exportador de produtos primários, como commodities
agrícolas e minerais, e importador de bens acabados de maior valor agregado.
O Brasil ocupa o 70ª lugar no ranking The Global Innovation
Index 2015, avaliação mundial elaborada pelo The Business School for the World
com base em 79 indicadores, abrangendo 141 economias. Em relação a 2014, o país
caiu dez posições. Suíça, Reino Unido, Suécia, Holanda e EUA são os mais inovadores,
respectivamente, mas quando se considera apenas a categoria "qualidade de
inovação" (nível das universidades, internacionalização das invenções e
patentes, por exemplo), os primeiros são os americanos.
De acordo com o levantamento, três quartos dos maiores
investimentos se destinam às nações desenvolvidas.
"Queremos mudar esse rumo e alimentar o desenvolvimento
de atividades que resultem em mais empregos e melhor produtividade, mas para
isso temos que ser bons e ter boas instituições de pesquisa", enfatiza
Goldemberg.
"A China já é o principal fornecedor da células
fotovoltaicas de alta eficiência e de equipamentos de geração renovável
instalados no Brasil, ocupa espaços cada vez maiores globalmente no
setor." Entre 2002 e 2012, o PIB chinês mais que quadruplicou e atingiu
US$ 8,7 trilhões, em decorrência principalmente da política de inovação. O
investimento em P&D aumentou de 1% para 2% do PIB.
Segundo analistas, a urgência climática deve pautar investimentos globais em novos processos e produtos na lógica da economia de baixo carbono. "Precisamos melhorar os laços com a indústria, ainda não suficientemente motivada na aproximação com a academia para a busca de soluções."