Jose Viégas – Secretário Geral do ITF – International Transport Forum, foi o palestrante da Conferência ‘Trânsito Seguro – cidades amigáveis’. A Conferência, que teve início às 11 horas, contou como debatedores com Ailton Brasiliense Pires e Luiz Carlos Mantovani Néspoli (Branco), respectivamente o Presidente e o Superintendente da Associação Nacional de Transportes Públicos – ANTP.
O Fórum de Transporte
Internacional, criado no âmbito do OCDE, é uma organização
intergovernamental com 54 países membros que atua como uma consultoria
estratégica para a política de transportes e organiza a Cúpula Anual de
Ministros Europeus de Transporte.
Seu objetivo é contribuir para a construção de uma agenda
política de transportes em nível europeu e mundial, que aponte para o crescimento
econômico, que inclua a proteção ambiental, a inclusão social e a preservação
da vida humana.
O trabalho do Fórum de
Transporte Internacional é apoiado por investigação econômica, coleta de estatísticas
e análise de políticas, construindo assim base sólidas para a tomada de
decisões relativas as políticas para o setor.
Para Luiz Carlos Mantovani Néspoli "estamos vivendo no Brasil uma efervescência saudável nas discussões
sobre como melhorar a mobilidade urbana no país. A qualidade da mobilidade, que
pode ser medida por diversos fatores, pelo menos um deles deve estar no topo de
nossas preocupações: trata-se da segurança viária, ou expressa de outra maneira
na quantidade de acidentes, mortes e feridos no trânsito.”
Já Ailton Brasiliense Pires acredita ser "inadmissível que na busca por resolver problemas de oferta de transporte, de tempos de viagem, de distâncias absurdas entre origens e destinos de viagens e de custos e tarifas, que são sem dúvida fatores importantíssimos da mobilidade urbana, tenhamos que conviver com o nível de acidentalidade que estamos medindo ano a ano de forma crescente no país.”
Alguns dados
De 2003 a 2012, saltamos de 33 mil para 44 mil mortes no
trânsito no país, um acréscimo de 33%. Nossa curva é ascendente, em
contraposição às curvas de pelo menos 27 países europeus, asiáticos, da América
do Norte e da Oceania, observados pelo IRTAD.
"Estar aqui com o Sr.
Viégas, que representa uma organização internacional que acompanha a situação
da acidentalidade no trânsito desde 1970, é uma grande oportunidade para
discutirmos este assunto no plano mundial ao lado da situação brasileira”,
afirmou Branco após o debate.
Para ele, duas questões são centrais para analisar porque
nossa curva de mortes no trânsito é ascendente, e foi a partir daí que ele
construiu suas perguntas para José Viégas: "A
primeira questão diz respeito à forma como nosso país se organizou e se
estruturou para fazer frente à gestão e ao problema das mortes no trânsito, e perguntei
se ele enxergava um paralelo com os países observados pelo IRTAD. Há muitas
semelhanças na organização com alguns países observados pelo IRTAD, mas nossos
resultados são opostos. Na segunda questão busquei tratar do esforço que é
feito, mas ainda com resultados pequenos no mundo todo, para mudar certos
hábitos no trânsito.”
Ailton Brasiliense Pires corroborou as perguntas de Branco, reforçando com a estranheza que identifica no comportamento da sociedade que já banalizou as tragédias de há muito vividas no trânsito brasileiro.
"A frota brasileira
que já foi de 30 milhões de veículos há 10 anos, cresce vertiginosamente e,
hoje, é de 75 milhões e ainda é possível que chegue a 100 milhões nos próximos
10 anos. Nesse panorama, nosso índice de mortes no trânsito atual é de 22,3
mortes para 100 mil habitantes”, disse Ailton.
Em sua apresentação Jose Viégas detalhou os dados do Relatório
IRTAD e descreveu as estratégias adotadas por estes países em resposta ao
lançamento da Década de Ações para Segurança viária da ONU. O Relatório IRTAD
põe evidência em alguns pontos-chaves dos programas de redução de acidentes:
velocidade; álcool; uso de cinto de segurança; uso de capacete; distração no
volante (celular).
No tocante à velocidade, grande parte dos países observados
no IRTAD já adotaram 50 km/h como limite de velocidade permitida nas vias
urbanas; Já há um histórico que permite dizer que esta ação é positiva.
Com relação ao álcool, praticamente todos tem definição
legal de limites de concentração no sangue. Também, historicamente, e também no
Brasil, é possível notar que é uma ação positiva.
Para cada item, percebe-se que há estratégias de comunicação
e de fiscalização.
Para o Superintendente da ANTP, para alguns itens os
resultados ainda são muito tímidos: "o
uso do cinto no banco traseiro ainda não é observado na mesma proporção que o
uso no banco dianteiro. O uso de capacete também não é totalmente observado.
Também o uso de celular dirigindo ainda é um hábito que persiste.”
Da mesma forma, alguns países com boa tradição de planos de
ação para redução de acidentes, como os Estados Unidos, Suécia, Canadá,
Bélgica, Austrália Finlândia, Polônia, Israel, Itália, tiveram de 2010 a 2011
um expressivo crescimento nas fatalidades envolvendo motocicletas.
É possível observar também, em praticamente todos os países observados pelo IRTAD, um expressivo crescimento da frota de veículos automotores e a matriz modal ainda pende para o lado do uso do transporte individual.