27/08/2014 08:23 - O Dia - RJ
KARLA RONDON PRADO
Rio - Desci do ônibus no bairro seguinte. Eu e outras seis
pessoas, com uma barraqueira gritando: "Boa sorte pra quem fica!” O motorista
era um rapaz paulista ou paulistano, educado. Mas estava muito nervoso por
dirigir e ter que dar troco ao mesmo tempo. Olhou para os que tentavam embarcar
com Bilhete Único e pediu que descessem, para não atrapalhar a entrada de quem
ia pagar com dinheiro vivo. Ninguém entendeu, mas desceu.
Algumas pessoas sem o menor tato começaram: "Aqui não é São
Paulo, não!” Agressivas. Para que gritar isso para o sujeito que estava ali
trabalhando? Acharam realmente que assim ajudariam? Ele: "Calma, pessoal, é R$
3, mas pagam com muita moedinha de cinco, eu tenho que contar”. "Aqui no Rio é
assim!”, berrou um. "Pô, o cara é paulista!” E todos começaram a rir. O
motorista permaneceu em sua função, contando as moedas e dirigindo. Pensei se
seriam machos o suficiente e gritariam isso num ônibus em São Paulo. E o que o
fato de o motorista ser de outro estado representava, e que diferença fazia,
para esse tipo de julgamento e bairrismo. Fato é que estavam todos ficando
atrasados e ninguém estava a fim de esperar nada, muito menos de compreender
qualquer dificuldade de terceiros.
Ao parar num ponto, o motorista perguntou se alguém poderia
trocar dinheiro para ele, ou ele pararia num bar, porque estava com medo de
perder as moedas. Uma mulher ofereceu R$ 4 em duas notas de R$ 2 e ajudou. Só
que para isso ele estacionou para contar as moedas que trocaria. Estava com
muito medo de ter que prestar contas e perder uma quantia grande. Que
responsabilidade. Ao mesmo tempo, não foi contratado para isso? Não deveria
estar preparado, depois de treinamento específico? Cheguei ao trabalho
impressionada: "Se esse motorista não perder a paciência até o fim do dia é um
santo. Não sei como manteve o controle.”
Mas também é dispor muito do tempo e da paciência das
pessoas esperar que, pagando por um serviço, aceitem receber este tipo de
tratamento. Ninguém tem tempo a perder. A condução deveria passar em horário
definido, o motorista deveria estar apto para a função dupla, todos deveriam
chegar em segurança aos seus destinos e as empresas não deveriam focar somente
nos lucros, mas no bem-estar dos usuários e funcionários. Seria uma coisa
Tostines, o biscoito ("vende mais porque é fresquinho, ou é fresquinho porque
vende mais?”). Ou que façam como em outros países, que o pagamento é com
dinheiro trocado direto na máquina e o condutor nem toma conhecimento. É tão
difícil assim melhorar?