Crise nas montadoras leva fabricantes de autopeças a cortar 19 mil empregos

27/01/2015 06:19 - O Estado de SP

A Metalúrgica de Tubos de Precisão (MTP) de Guarulhos (SP) fechou as portas e demitiu na semana passada, por telegrama, todos os 770 funcionários. Parte deles está acampada nos portões da fábrica para impedir que o maquinário seja retirado. Os trabalhadores temem não receber salários atrasados e a rescisão e querem os equipamentos como garantia.

O fechamento da MTP, fabricante de tubos para automóveis e motocicletas, ocorre num momento em que a crise das montadoras se espalha pelos demais segmentos da cadeia automotiva, especialmente o de autopeças.

Com 68% da produção voltada às fabricantes de veículos, as autopeças eliminaram 19 mil postos de trabalho no ano passado. Demissões nessa proporção não ocorriam no setor desde 1998, ano em que foram fechadas 19,4 mil vagas. Agora, o setor emprega 201 mil trabalhadores, o menor contingente desde 2009.

O ano passado foi um dos piores para o setor, afirma o presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), Paulo Butori. "Estamos sentindo que o movimento de queda (de empregos) permanece em janeiro”, confirma o executivo.

Produtores de peças plásticas cortaram 3 mil postos de trabalho em 2014. "Foi a primeira vez que tivemos desemprego no setor no fechamento de um ano”, afirma o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), Ricardo Roriz Coelho.

O setor emprega atualmente 357 mil pessoas e vende de 7% a 10% de sua produção para a indústria automobilística.

Esses cortes se somam às 12,4 mil demissões feitas pelas montadoras, que encerram 2014 com 144,6 mil empregados. Foi o maior número de dispensas em 16 anos.

A tendência é de continuidade de demissões neste ano, que começou com a Mercedes-Benz fechando 260 postos na fábrica de São Bernardo do Campo (SP) e a Volkswagen planejando um Programa de Demissão Voluntária (PDV) para cerca de 2,1 mil trabalhadores na mesma cidade, depois de reverter, após greve dos trabalhadores, 800 cortes anunciados no início do mês. A Ford é outra montadora que estuda abrir um PDV em São Bernardo.

Nesta segunda-feira, os cerca de 500 funcionários da também fabricante de autopeças Karmann-Ghia paralisaram a produção por atrasos no pagamento, segundo informa o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Gestão. Na MTP, além da crise, "ocorreram sérios problemas de gestão”, informa José Carlos Santos Oliveira, funcionário da empresa há 12 anos e diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos. Nenhum representante da empresa foi localizado nesta segunda-feira para comentar o assunto.

Segundo Oliveira, a empresa não pagou o adiantamento salarial previsto para o dia 15, só pagou metade do 13.º salário, não entregou vale-transporte e descontou pensão alimentícia mas não repassou aos beneficiários.

A empresa teria entrado com pedido de recuperação judicial no dia 12 e aguardava aprovação, diz o sindicalista. Na quarta-feira está marcada uma audiência entre as partes no Tribunal Regional do Trabalho (TRT).

A MTP, com duas unidades em Guarulhos, foi adquirida em 2012 do Grupo Brasil pelo grupo ILP Industrial, que na época comprou também a fabricante de componentes plásticos Vulcan, no Rio de Janeiro, e a Karmann-Ghia, de São Bernardo. Esta empresa foi revendida em julho do ano passado para o Grupo Nardini e passa por reestruturação.

Segundo Monica Marani, gestora da Karmann-Ghia, a empresa teve problemas em dezembro em razão da desaceleração de pedidos das montadoras e deve atualmente 35% da segunda parcela do 13.º salário aos funcionários. "É um problema pontual. Vamos liquidar (a dívida) nesta semana”, informa ela.

GM diz que não é possível descartar demissões este ano

Presidente da empresa no Brasil defendeu o aumento máximo do período permitido para o lay-off

O presidente da General Motors do Brasil, Santiago Chamorro, disse nesta segunda-feira que a empresa acompanha o desempenho do setor automotivo e da economia como um todo, o que não permite garantir que não haverá demissões este ano. "Nós temos de nos mover junto com a indústria, junto com o mercado. Neste momento, temos um lay-off (suspensão temporária dos contratos de trabalho) aprovado (nas unidades de São José dos Campos e São Caetano do Sul). Vamos ter de ver o que acontece no segundo semestre do ano em termos de vendas da indústria”, disse.

Em discurso alinhado com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), ele defendeu um aumento no período máximo de lay-off, atualmente de cinco meses. "Sempre acreditamos que o período máximo de lay-off de cinco meses é muito curto e que, se estendido, deve ajudar a manter o nível de emprego”, comentou o executivo, que participou do evento de 90 anos da GM no Brasil, com a inauguração de um novo centro logístico em São Caetano.

O presidente global da montadora, Dan Ammann, que também participou do evento, destacou os investimentos no Brasil. A empresa anunciou recentemente um plano de investimento de R$ 6,5 bilhões para o período 2014-2018. Questionado se a desaceleração da economia brasileira poderia levar a uma revisão desse volume, ele afirmou acreditar no mercado a longo prazo. "Acredito que vamos continuar a crescer”, disse.

Ammann reconheceu, porém, que 2015 será um ano desafiador, mas aposta em uma melhora a partir do segundo semestre. Ele comentou que a nova equipe econômica do governo Dilma tem dado sinais positivos, mas disse que é preciso ver como as coisas se desenvolvem. "Esperamos ver as mudanças que precisam ser feitas.”

Centro. O centro de logística inaugurado nesta segunda-feira teve um investimento de R$ 100 milhões. Com área equivalente a quatro campos de futebol e pé direito semelhante ao de um prédio de cinco andares, o centro utiliza método de gerenciamento que, segundo a GM, servirá de referência a futuras unidades de armazenagem e abastecimento de matérias do grupo no mundo.