27/01/2015 06:55 - iG Economia
Aretha Martins - iG
São Paulo
O hambúrguer é feito ali, na hora. O brownie e o pudim
chegam fresquinhos. E que tal um sacolé para suportar os dias mais quentes?
Tudo isso em cima de bicicletas charmosas e que circulam por eventos, feiras e
pontos de São Paulo. Esses são os food bikes, tendência na capital e que se multiplicam
desde meados de 2014.
A comida de rua se espalhou pela cidade com os food trucks,
aqueles veículos adaptados para ter uma cozinha e produzir e vender alimentos.
Mas não dá para se montar um desses com menos de R$ 500 mil, em média. E eles
não cabem em todos os lugares. Daí a ideia de montar o negócio em cima de uma
bicicleta gastando menos e com a vantagem de ocupar bem menos espaço.
"Já trabalhava com a venda de brownies há três anos e senti
a necessidade de estar mais perto do meu cliente. Queria ver o pessoal comendo
o brownie. Mas eu não tinha grana ou estrutura para montar uma loja. Aí veio a
bicicleta”, afirma Bianca Alves Costa Mecchi, 35 anos, dona da Brownie Affair.
Ela começou vendendo seu produto online e montou a primeira bicicleta em maio
de 2014.
"Pesquisei os food trucks, mas o investimento é muito alto,
é quase como investir em um imóvel. A bicicleta era mais acessível, mais
charmosa e a cara da Brownie Affair”, continua. Bianca já era ciclista e com R$
5 mil comprou uma bicicleta, fez o trabalho visual e acoplou uma vitrine na
parte de trás. "É a minha loja”, afirma.
Ana Paula Ferreira, 39 anos, passou pela mesma situação com
a Pudim a gosto. Ela já tem duas bicicletas e a primeira estreou em setembro de
2014 depois de um investimento de R$ 2500 para as adaptações e o cesto com
isopor e placas de gelo para levar os pudins. "Vendia pelas redes sociais, mas
ir para a rua mudou tudo. Tem o feedback ali na hora, das pessoas comendo, e
ainda posso divulgar a marca”, comenta.
Quem já tem um food truck também optou pela food bike para
ganhar na questão do espaço. O Los Mendonzitos vende vinhos e se define como
uma pequena rede de adegas sobre rodas. Eles contam com trailer no Rio de
Janeiro e em São Paulo e, desde o ano passado, também trabalham com uma
bicicleta na capital paulista.
"Vimos a necessidade de um veículo menor para entrar em
todos os lugares. A nossa bicicleta é um mini mini trailer. O transporte não é
simples e para levar aos eventos precisamos de uma carreta de apoio e montar
todo o ‘circo’ leva mais de uma hora, mas a bicicleta passa por qualquer
porta”, diz André Fisher, um dos sócios do Los Mendonzitos. O primeiro evento
com a food bike foi uma festa em um casarão na zona oeste de São Paulo,
impossível de ser realizado com o trailer.
No geral, os food bikes são "pedaláveis", mas
pouco rodam pela cidade. Seus donos usam o pedal para pequenas distâncias e, na
maioria dos casos, a bicicleta é levada até o local do evento com a ajuda de
carreta.
Transporte,
armazenamento e execução, tudo na bike
A food bike também vai além do ponto de exposição e venda.
Para Danilo Tanaka, do Bike Burguer, a bicicleta é todo o negócio. É nela que
ele leva a chapa, o botijão e o que precisa para montar a sua hamburgueria a
poucos passos da Avenida Paulista.
Sem mais do mesmo
Usar a bicicleta pode ser uma opção para diferenciar o seu
negócio no ramo. Camila Dias é publicitária e viciada em doces, mais
precisamente em brigadeiro. Depois de tempos vendendo o doce aos amigos, ela
criou a Brigadeirô em 2011. Pouco mais de um ano depois, começou a onda das
feirinhas gastronômicas nas ruas em São Paulo e Camila viu nisso uma
oportunidade.
"Queria colocar a marca no marcado sem ter que investir em
uma loja. E também já tinha muita loja de brigadeiro por aí”, lembra. Depois de
pesquisar opções, a ideia de ter uma bicicleta charmosa para vender seus
brigadeiros veio das conhecidas cargueiras, muito usadas para entrega em
padarias ou de galões de água. "Achei a bicicleta em um ferro velho e investi
para colocar tudo nela e deixá-la bonita”, afirma. Foram aproximadamente R$ 5
mil e a bike na rua em maio do ano passado.
Vale diferenciar também no que servir. E a bicicleta é
democrática. Há quem aproveita a magrela para vender produtos com uma ideia
mais natural, como a Bôlo Chérie. "Meu negócio é uma empresa de produtos
sem glúten e sem lactose. Não pensei em um truck porque queria que me
conhecessem e expor o meu produtos. Fui para a bike pporque ficou barato,
bonito e ainda é ecologicamente correto", explica a cozinheira Raquel Arruda.
Quem une ainda mais a bicicleta ao negócio é o Bike Café.
"Fizemos o Bike Café por dois motivos: divulgar a bicicleta e também oferecer
um café brasileiro de qualidade, com um grão especial”, fala Cadu Ronca, que já
tem duas bicicletas para servir a bebida. E 10% do faturamento vai para o
instituto Aromeiazero, outro trabalho dele que promove a mobilidade e o uso da
bicicleta para melhorar a relação com a cidade.
A turma dos doces ou hambúrgueres, comidas e quitutes mais
calóricos, usa o bom humor. "Eu já me perguntei (se pudim combinava com a
bicicleta). Mas quem anda de bicicleta, faz exercício, também tem direito a
comer um docinho. E tenho os minis, que a culpa é menor", brinca Ana
Paula.
E engana-se quem imagina que todos os produtos vendidos nas
food bikes também estão na onda da gourmetização. O trio Vitor e Alice Mortara
e Malu Risi, sócios do Le Sacole, se explicam. Eles vendem os tradicionais
sorvetes em saquinhos e apostam em sabores diferentes como maracujá com
gengibre e outros alcoólicos. "Nenhum de nós é gastrônomo e por isso a gente
não se considera gourmet. Só fazemos e vendemos um sacolé que gostamos”, resume
Malu. A aposta dos amigos é vender em agências e escritórios na região da Vila
Madalena, além de feiras e eventos.
Bianca, da Brownie Affair, segue a mesma linha. "No food
truck, por exemplo, tem muito chefe famoso. O pessoal da bicicleta vem com uma
tendência mais familiar e artesanal”, aposta.
Food bikes unidos
Apesar de bicicletas serem usadas para transporte e até
venda de alimentos há tempos – quem é do litoral de São Paulo já cruzou com uma
bicicleta vendendo doces e tapiocas – essa moda das food bikes estilizadas
ainda é recente. E em São Paulo, esses empreendedores se conhecem e já formam
uma classe unida.
"Estão aparecendo muitos eventos para quem faz comida de rua
e tem alguns oportunistas. Quem já fez algum evento e entrou em alguma furada,
ajuda e avisa o outro. E se une para também não ser explorado”, fala Cadu
Ronca, do Bike Café. São cobradas inscrições para participação em feiras e, em
alguns casos, os preços se equivalem aos praticados para os food trucks. Os
empreendedores da bicicleta se unem para negociar e conseguir melhores
condições e valores para as feiras e eventos.
Há também um grupo de mensagens e dicas de onde comprar
peças ou consertar a bicicleta. Mas quem resolve entrar para esse negócio deve
saber um pouco de mecânica para qualquer imprevisto. "Já caiu a minha corrente
no meio do caminho e tive que trocar. Antes, para fazer isso, era só virar a
bicicleta de cabeça para baixo. Mas agora não dá. Mesmo assim, consegui
trocar”, conta Raquel Arruda, dona da Bolo Cherie ao lado do marido, Maurício
Pacheco.