26/11/2014 08:00 - Valor Econômico
Embora as desigualdades entre as principais regiões
metropolitanas do país tenham caído entre 2000 e 2010, ainda há uma
discrepância muito grande nos dados de desenvolvimento humano dentro de uma
mesma cidade e também entre capitais e municípios do entorno. Diante da
constatação em relatório divulgado ontem, a Organização das Nações Unidas (ONU)
recomendou que o governo desenvolva ações voltadas às áreas mais necessitadas.
Foi feito um levantamento detalhado de 16 regiões
metropolitanas (Belém, Belo Horizonte, Cuiabá, Curitiba, Distrito Federal,
Fortaleza, Goiânia, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro,
Salvador, São Luís, São Paulo, Vitória), onde mora mais de um terço da
população brasileira, dividindo ainda cada uma em áreas com características
semelhantes, como se fossem "bairros".
Em 2000, quase 40% dessas partes das regiões metropolitanas tinham
baixo ou muito baixo desenvolvimento humano. A situação melhorou em 2010,
quando nenhuma dessas áreas tinha dados considerados de desenvolvimento humano
muito baixo e apenas 2% desses "bairros" estavam dentro do patamar
considerado baixo.
Composto por três variáveis (expectativa de vida, educação e
renda), o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) das regiões
metropolitanas varia de zero a um. Quanto mais alto o número, maior o
desenvolvimento. Os números foram calculados com base nos Censos Demográficos
de 2000 e de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em média, comparando os maiores índices entre as regiões
metropolitanas com os piores resultados, a disparidade era de 22,1% em 2000.
Dez anos depois, essa discrepância caiu para 10,3%. De acordo com a pesquisa,
os resultados das cidades do interior das regiões cresceram mais no período que
os das capitais.
"Ainda assim, é possível encontrar casos extremos em
uma mesma região metropolitana", ressaltou o relatório. Por exemplo, em
uma determinada área de Manaus, a renda da população é 47 vezes maior que a
parte mais carente dessa região metropolitana. E, entre os quase 9 mil
"bairros" pesquisados, foi apontada uma diferença de 15 anos em
termos de expectativa de vida ao nascer.
"Os dados intramunicipais são aliados desse
planejamento e podem contribuir para a identificação das áreas em que as
políticas públicas inclusivas podem encontrar amplo campo para sua
implementação", concluiu o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (Pnud), que realizou o levantamento junto com o Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e a Fundação João Pinheiro (FJP).
Diante dos resultados, "recomendamos uma continuidade
[da redução das desigualdades] e, ao mesmo tempo, um esforço de
microfocalização naquelas áreas e naquelas populações que ainda precisam do
apoio das políticas públicas e também do emprego e de outras atividades
econômicas produtivas", afirmou o coordenador do sistema ONU no Brasil,
Jorge Chediek. "Esse esforço de promover uma maior equidade dentro das
regiões metropolitanas é necessário", completou.
O ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE),
Marcelo Neri, que participou do evento de lançamento do Atlas do
Desenvolvimento Humano nas Regiões Metropolitanas Brasileiras, disse que,
"apesar da desaceleração macroeconômica, os dados sociais até agora
continuam muito fortes". O relatório, segundo ele, apontou uma
transformação profunda, pois a educação, o saneamento, a moradia, por exemplo,
melhoraram e isso levou a um aumento de renda e expectativa de vida.
Com base nos números de 2010, as regiões metropolitanas de
São Paulo, Brasília, Curitiba, Belo Horizonte e Vitória apresentam as melhores
taxas de desenvolvimento humano do país. Os piores resultados são de Manaus,
Belém, Fortaleza, Natal e Recife.