Iluminação pública para cidades inteligentes

28/08/2014 07:10 - Valor Econômico

A Resolução 587/2013 da Aneel determinou que até o fim deste ano todos os ativos de iluminação deverão ser transferidos aos municípios. Esta decisão tende a uniformizar as responsabilidades, aliviando as distribuidoras de energia, mas tem um significado especial para os municípios. Permite que estes assumam a liderança sobre um serviço que é praticamente ubíquo no espaço público urbano, com impacto direto sobre a segurança pública e sobre a imagem que munícipes e turistas têm da cidade, além de serem um foco de ação pela eficiência energética, e eventualmente permitirem a agregação de serviços adicionais. Com tais funções, a rede de iluminação tem que ser pensada como elemento fundamental de uma cidade inteligente, eficiente e segura.

Após certa resistência inicial, os municípios já se preparam para este "presente", que somará ativos ao patrimônio municipal, mas que também trará obrigações. Dadas as limitações orçamentárias e de gestão de várias prefeituras, assim como as carências em outras áreas de prestação de serviço público, este "presente" pode se mostrar uma bela dor de cabeça, pois providenciar lâmpadas, luminárias, caminhões e pessoal adequados à manutenção da rede não está nos planos de muitos prefeitos. E, obviamente, se os serviços não forem prestados adequadamente, os problemas se tornam imediatamente visíveis, gerando reclamações.

Uma das saídas é a concessão do serviço a um operador privado. Na legislação brasileira, a principal opção para a contratação em longo prazo de serviços públicos que não podem ser remunerados por tarifa é a Concessão Administrativa. Esta é uma forma de Parceria Público-Privada (PPP) na qual uma empresa assume as obrigações de manutenção e expansão da rede de iluminação pública por um período entre 5 e 35 anos, ao fim dos quais os ativos e sua gestão retornam ao município. O concessionário tem sua remuneração atrelada ao seu desempenho na prestação dos serviços e assume uma parte dos riscos, previstos em contrato.

Uma questão essencial é o impacto sobre as finanças públicas. Afinal, ao receberem os ativos de iluminação, as prefeituras assumem a obrigação de manter o serviço. E os recursos para tanto, de onde viriam? A resposta está na contribuição para o serviço de iluminação pública (Cosip), cuja cobrança foi permitida por emenda constitucional em 2002. Mas seriam os recursos auferidos com esta contribuição suficientes para cobrir essas novas despesas? Como seria a forma mais eficiente de se organizar este serviço em uma cidade média: a própria prefeitura explorar com pessoal próprio a ser contratado por novos concursos públicos, ou um contrato de terceirização de serviços firmado por até 5 anos, ou um consórcio com empresas especializadas, contando, por exemplo, com empresas de construção civil, manutenção elétrica e de fornecimento de lâmpadas?

As respostas às questões acima podem variar de cidade a cidade, mas um primeiro passo seria se realizar um estudo da viabilidade econômico-financeira da concessão do serviço. Este estudo pode apontar o volume de recursos para remunerar os serviços ou para cobrir contraprestações de PPP. Neste estudo entram questões como a densidade populacional, os planos de expansão da área urbana, acuidade luminosa esperada, quantidade de vias de trânsito rápido, praças, monumentos, bem como os custos de materiais elétricos requeridos no investimento e na manutenção que sofrem influência da taxa cambial, as garantias públicas e privadas do contrato, entre outros.

A Prefeitura de São Paulo conduz atualmente a maior PPP do país nessa área, envolvendo 580 mil pontos de iluminação pública, cuja manutenção será concedida por 30 anos, resultando em um contrato de vários bilhões de reais. Dada a complexidade e importância deste processo, esta PPP deverá servir de guia para outros importantes municípios do país.

Uma das vantagens de um contrato como o de PPP é a possibilidade de se adotar soluções com vultosos investimentos e cujo retorno se dá em longo prazo. Um exemplo é a possibilidade de implantação de centros de controle automatizados para a manutenção eficiente da rede, com envio de informações via tecnologia de comunicação de dados GPRS. Outro exemplo é a possibilidade de se explorar a microgeração solar em postes de iluminação pública. Mas a principal é a instalação de lâmpadas tipo LED, cujo custo é várias vezes superior às de sódio ou mercúrio. Até 2020, por sinal, todas as lâmpadas de mercúrio deixarão o mercado, devido a preocupações ambientais. De fato, várias cidades já operam com LED e se aproveitam do consumo eficiente que essa tecnologia produz, desde cidades de grande porte, como Buenos Aires, Los Angeles, Seattle e Bogotá, até cidades médias da Índia.

Essas são questões que muitos prefeitos terão que decidir até o fim deste ano, arcando com o ônus de não o fazerem. A preparação do processo requer tempo e energia gerencial, o que exige uma ação tempestiva. Os que agirem mais rapidamente poderão fazer do limão uma limonada, colhendo os frutos desse movimento, com cidades mais inteligentes, mais sustentáveis e com cidadãos mais seguros. Com a palavra, os prefeitos.

Frederico Turolla é sócio da PEZCO e professor da ESPM; Marcelo Allain é economista e professor da FIPE/USP e Tomas Anker é da área de PPPs do IFC-Banco Mundial.