Faixa exclusiva de ônibus faz lentidão de carros crescer 16% no pico da manhã

27/08/2014 07:20 - O Estado de SP

SÃO PAULO - O estudo anual mais importante da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) mostra que, em São Paulo, nas vias que ganharam faixas exclusivas para ônibus, os carros passaram a ficar presos no trânsito 16% mais tempo em 2013 do que ficavam em 2012 - isso apenas no horário de pico da manhã. No horário de pico da tarde, esse tempo extra no trânsito cresceu 7%.

Analisando o conjunto da cidade - não apenas os lugares que receberam faixa exclusiva -, os motoristas passam 30% do tempo que estão em viagem parados, presos por causa do trânsito ou por causa de semáforo fechado. No horário de pico da tarde, esse porcentual é de 33% do tempo de viagem.

A Pesquisa de Monitoração da Fluidez é um relatório de contagem de veículos, de aferição da velocidade média de vias e, ainda, do chamado "tempo de retardo” - porcentual do tempo. É calculado por técnicos que passam os horários de pico percorrendo as vias, cronometrando tempo andando e parados. É feito em 220 quilômetros de vias - todos os principais corredores da cidade. Os dados de 2013 foram publicados no site da CET na semana passada.

Segundo o estudo, a velocidade média dos carros nas vias que receberam faixa exclusiva, que até 2012 já era de apenas 18,5 km/h no pico da tarde, chegou a 17,7 km/h em 2013. A proposta das faixas, segundo a Prefeitura, era justamente livrar os ônibus dessa lentidão, fazendo a velocidade dos coletivos crescer 20%.

Vale destacar que, segundo os especialistas, a redução da velocidade média e aumento do tempo que os carros ficam parados não é "culpa” das faixas. Eles vêm caindo desde que o estudo começou a ser feito, nos anos 1990. "As vias já não têm mais espaço para receber os carros”, explica o engenheiro Horácio Augusto Figueira.

Faixas. Os números mostram contradições pela capital. Em locais como o corredor formado pelas Avenidas Paulista e Doutor Arnaldo, que contam com uma rede de transporte de massa (metrô), a chegada das faixas exclusivas fez o tempo médio que os carros ficam parados, presos no trânsito, cair 4% no horário da manhã.

Mas não espere dados animadores: isso significa que a velocidade média ali subiu de 7 km/h para 10 km/h. Por outro lado, na Avenida Pedro Álvares Cabral, no Ibirapuera, os carros agora ficam 177% mais tempo parados, esperando o semáforo abrir ou o trânsito fluir. A velocidade média caiu de 14,2 km/h para apenas 6,7 km/h (velocidade de uma pessoa andando), na pista sentido Ibirapuera, no horário de pico da tarde.

"Tem locais em São Paulo que eu decidi evitar. Só passo se é madrugada, se é manhã de domingo. Aqui é um”, afirma o engenheiro João Zanutto Peres, de 44 anos.

Volumes. Na comparação dos índices do ano passado com os de 2012, um dos destaques é a manutenção da hegemonia do automóvel como principal ocupante do espaço viário. A participação dos carros no volume total de veículos nas ruas cresceu, mesmo com a instalação das faixas, que reservaram espaço só para os ônibus. "Acompanhando a série histórica dos últimos seis anos, percebemos que a participação dos automóveis nas vias pesquisadas cresceu dois pontos porcentuais nos últimos dois anos - de 78% para 80% de representação do volume simples de veículos”, diz o estudo, assinado por dez técnicos da empresa.

Total de coletivos só cresce em pista segregada

O estudo anual sobre a situação do trânsito de São Paulo mostra a que a quantidade de ônibus em circulação da cidade só aumentou nos pontos onde Prefeitura a instalou faixas exclusivas. Fora desses locais, a quantidade de coletivos misturada ao fluxo viário chegou até a cair.

Para entender os dados, antes é preciso compreender um detalhe da Pesquisa de Monitoração da Fluidez da CET. É o corte que ela faz do Município: os técnicos classificam corredores viários (exemplo: Avenidas Eusébio Matoso, Rebouças e Consolação) como uma única "rota”.

Compreendido isso, ao analisar as nove rotas que receberam a faixa exclusiva em ao menos alguma de suas avenidas, observa-se queda de 3,7% na quantidade de ônibus em circulação na área como um todo. Houve queda também do volume de carros, de 6%. No horário de pico da manhã, mesmo com as faixas, a quantidade de carros cresceu 3,9%. A de ônibus se manteve estável: avançou 0,1%.

Mas, observando apenas a avenida que teve a faixa exclusiva – não a rota toda –, a quantidade de ônibus em circulação subiu. Aumentou de 5.939 para 6.168 ônibus no pico da manhã (3,9%) e de 4.929 para 5.106 ônibus no pico da tarde (3,6%).

Segundo o diretor de Planejamento, Projetos e Educação de Trânsito da CET, Tadeu Leite Duarte, a redução no número de ônibus nas rotas, se avaliada como um todo, ocorreu por uma "racionalização” das linhas de ônibus. "É uma racionalização, para direcionar os ônibus para as vias mais rápidas”, segundo disse. E para evitar a sobreposição de linhas diferentes com itinerários iguais. "É algo que o secretário Jilmar Tatto sempre diz”, afirma.