31/07/2014 08:45 - O Estado de SP
SÃO PAULO - A Prefeitura renovou por mais um ano os
contratos de concessão e permissão do serviço de transporte coletivo em São
Paulo, exigindo que as empresas e cooperativas troquem os validadores das
catracas dos cerca de 15 mil ônibus e lotações. Os equipamentos novos vão
permitir que os passageiros recarreguem cartões pré-pagos na catraca.
Segundo Adauto Farias, diretor financeiro da São Paulo
Transporte (SPTrans), as empresas têm 45 dias para começar a instalação. A
implementação deve terminar em janeiro. Em abril, os validadores começarão a
ser usados. "O grande público no início é o usuário do vale-transporte. Quando
liberarmos as listas (de bilhetes) para os pontos de recarga, o validador vai
funcionar como complemento de recarga”, explicou Farias. Créditos comprados
pela internet também poderão ser validados nos novos equipamentos.
O serviço também será usado para a Prefeitura combater
fraudes. O validador baterá fotos de passageiros que têm direito às
gratuidades. Caso seja constatado que outra pessoa esteja usando o bilhete, o
próximo embarque será barrado na catraca até que o passageiros se dirija a um
posto da SPTrans para dar justificativas.
Os embarques nas gratuidades também ficarão mais rápidos,
afirmou Farias. Hoje, o passageiro precisa esperar o cobrador autorizar a
liberação da catraca. Com o novo sistema, isso não será necessário. "O embarque
(nas gratuidades) de hoje leva três vezes mais tempo do que o da pessoa que
paga em dinheiro”, disse o diretor financeiro da SPTrans. Na segunda-feira, 50
ônibus da Viação Campo Belo, na zona sul, vão circular com o novo validador.
A capacidade de armazenar dados também será incrementada. Os
validadores terão capacidade para 700 mil bilhetes. Os equipamentos de hoje
podem armazenar apenas 10 mil. Serão aceitos apenas validadores desenvolvidos
por empresas homologadas pela SPTrans.
Segundo o secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto,
a medida antecipa exigências da nova licitação do transporte coletivo, ainda
pendente, em que os novos validadores estão previstos. "Isso é para que não se
perca tempo esperando a nova concessão”, disse Tatto, na manhã desta
quarta-feira, 30.
A última licitação foi feita em 2003 pela então prefeita
Marta Suplicy (PT), pelo período de dez anos e valor de R$ 15 bilhões. Os
contratos venceram em julho do ano passado e têm sido renovados de forma
emergencial ou por meio de aditivos.
Uma licitação chegou a ser aberta em 2013, mas foi suspensa
pelo prefeito Fernando Haddad (PT). O valor estimado era de R$ 46,3 bilhões
para 15 anos. Tatto disse que a nova licitação do transporte coletivo deverá
sair ainda neste ano. Para isso, a Prefeitura aguarda a conclusão de uma
auditoria da Ernst & Young, que custou R$ 4 milhões e vai servir de base
para o edital.
Uma das funções da auditoria é fazer o levantamento de
custos da Prefeitura com frotas, funcionários e insumos. Com os dados, a
administração pretende aperfeiçoar o modelo de cálculo da passagem, além dos
subsídios repassados às empresas de transporte.
Às cegas. O engenheiro e mestre em Transporte pela
Universidade de São Paulo (USP) Sérgio Ejzenberg afirma que, ao renovar o
contrato das empresas por mais um ano, sem ter o resultado da auditoria, o
governo continua fazendo "pagamentos às cegas”. "A Prefeitura não sabe a
relação de custo e valor do sistema de transporte, se soubesse não precisava de
auditoria. Estão fazendo uma troca. Mas, diante dos subsídios que chegam a
quase R$ 2 bilhões por ano às empresas, obrigá-las a instalar o validador é
muito pouco”, afirmou. Ejzenberg reconheceu, no entanto, que o novo sistema vai
"moralizar o uso dos bilhetes” com a fiscalização por meio de fotos.