21/11/2014 07:15 - O Globo
O sargento da Polícia Militar Arley Ribeiro Silva, lotado no
9º BPM (Rocha Miranda), que também seria instrutor da Academia da Polícia Civil
(Acadepol), invadiu, na madrugada de ontem, armado com uma pistola, o depósito
municipal de veículos rebocados da Secretaria da Ordem Pública (Seop), no Recreio
dos Bandeirantes. Identificando-se como major (patente superior), ele ameaçou
os funcionários e retirou seu carro, um Toyota Hilux, que havia sido rebocado,
anteontem, depois de ser encontrado pela fiscalização estacionado em local
proibido: sobre a calçada da Rua Otávio de Faria, também no Recreio.
O secretário da Ordem Pública, Leandro Matieli Gonçalves,
lamentou o episódio, afirmando que encaminhará um relatório ao comando-geral da
PM, com recomendação para a abertura de uma investigação e sugerindo que o
policial seja excluído da corporação. A invasão foi filmada pelo circuito
interno do depósito. A PM informou ao GLOBO, em nota, que vai abrir uma
sindicância administrativa. O policial não foi localizado pelo jornal. Já a
Polícia Civil não conseguiu confirmar se Arley é instrutor da academia.
— É uma vergonha, um absurdo. Eu, oriundo da PM, estou
envergonhado com a atitude desse policial militar. Logo um policial que deveria
dar o exemplo. Um policial jamais faria isso: invadir um depósito público, na
marra, na força — criticou o secretário da Ordem Pública.
O sociólogo Ignácio Cano, do Laboratório de Análise da
Violência da Uerj, disse que a atitude do policial é sintomática:
— Estamos mal. Numa sociedade onde a autoridade não sabe que
a lei é para todos, os exemplos são sintomáticos. Acredito que agora a
corregedoria da PM deve punir com rigor. O trânsito, aliás, é um modelo da
falta de civilidade do cidadão — lembrou o sociólogo.
MURROS NO PORTÃO PARA ENTRAR
O caso foi registrado como ameaça na 42ª DP ( Recreio) ainda
na madrugada de ontem. O guarda municipal Sandro Fernandes, responsável pelo
plantão no depósito, na Avenida das Américas 19.600, contou aos policiais civis
que o PM chegou às 4h50m ao local. Do lado de fora, ele passou a esmurrar o
portão. Gritando ser PM, ele queria entrar. Dizia ainda que seu veículo havia
sido rebocado e exigia que o liberassem naquele mesmo momento. Sandro foi
chamado para resolver a situação.
De acordo com o boletim de ocorrência, o guarda municipal
explicou ao policial que, para liberar o carro, ele teria que pagar, numa
agência bancária, a diária e a taxa de reboque. Foi quando o motorista teria se
apresentado como major da PM, mostrando a carteira da corporação. Ainda de
acordo com o boletim, muito agitado, o policial insistiu que levaria o carro. O
guarda voltou a repetir que não seria possível. Nesse momento, o policial
invadiu o depósito e caminhou em direção ao local onde os carros rebocados
ficam estacionados. Ao localizar seu Hilux, o PM entrou no veículo (modelo que
custa pelo menos R$ 60 mil) e dirigiu até a saída do depósito.
No portão, ele teria exigido que o guarda municipal e o coordenador
do depósito, Edson Paixão, abrissem o portão. Nesse momento, segundo o boletim,
Arley desceu do carro e sacou a pistola que levava na cintura, exigindo a
abertura do portão. Revoltado, o policial teria ameaçado os funcionários,
mandando que todos ficassem atrás do seu carro. O grupo obedeceu. A porta foi
aberta e o policial saiu com seu carro. Ao todo, seis funcionários teriam sido
rendidos.
— Éramos seis pessoas no depósito. Tentei, com os outros
colegas de trabalho, convencê- lo, de maneira respeitosa e dentro dos
procedimentos legais, que o carro estava apreendido e que ele não poderia levá-
lo daquela forma. Nesse momento, ele disse ser policial e sacou a pistola de
cor preta, rendendo a mim e outros funcionários, mandando que abríssemos o portão
— contou o segurança Marcondes da Silva Brígido.