04/10/2015 08:57 - Diário do Grande ABC
Saturada, sem planejamento e falta de integração de modais
e, principalmente, sem oferecer qualidade de vida. Descrever a mobilidade
urbana no Grande ABC com uma só palavra não é tarefa fácil. Dando sequência à
discussão sobre o tema, iniciada em suplemento publicado no dia 28, o Diário
começa hoje série de reportagens que irá abordar os principais gargalos
encontrados por moradores dos sete municípios relacionados ao setor. As
publicações serão divulgadas aos domingos.
Localizada no centro do Grande ABC, não fazendo divisa
somente com Diadema, Santo André – a primeira cidade da série – encontra suas
principais dificuldades relacionadas à área em trechos que servem, justamente,
de passagens para veículos que usam vias andreenses para deslocamento entre a
Capital e municípios da região.
Exemplo dessa realidade pode ser visto no Viaduto Presidente
Castelo Branco, localizado entre as avenidas Industrial e dos Estados.
Principal ligação para quem deseja se deslocar entre o 1º e o 2º Subdistritos
do território andreense ou para quem pretende acessar São Bernardo, o viaduto é
responsável pelo maior volume de carros na cidade, de acordo com o diretor do
DET (Departamento de Engenharia de Tráfego), Epeus Pinto Monteiro. "Aquela
região reúne a maior saturação viária de Santo André. Por isso, estamos fazendo
estudo detalhado para verificar qual a melhor saída para esse entrave.”
Caminhoneiros, pedestres, usuários de ônibus e trem lutam
diariamente por espaço. "É bem crítica a situação. No fim do dia junta o
trânsito da Industrial com os carros que vêm pegar passageiros de trem na
estação, além dos usuários que desembarcam no Terminal Rodoviário Prefeito
Saladino. Isso vira uma bagunça”, relata o taxista Ivan Bezerra Vasconcelos, 53
anos.
De acordo com o secretário de Mobilidade Urbana, Obras e
Serviços Públicos, Carlos Sanches, o Carlão (PT), as intervenções programadas
para essas ligações estão no aguardo de recursos do BID (Banco Interamericano
de Desenvolvimento) para serem executadas. Trata-se de empréstimo junto à
instituição financeira no valor de US$ 125 milhões (R$ 491 milhões).
"Encaminhamos na semana passada a documentação para o Tesouro Nacional.
Acreditamos que a análise dure 30 dias. A partir desse momento mandamos o
processo para o Senado, onde uma comissão especial tem que aprovar o
financiamento.”
O empréstimo do BID é visto como principal recurso para
colocar em prática projetos de mobilidade urbana na cidade, entre eles a construção
da segunda alça do Viaduto Antônio Adib Chammas, no Centro.
Integração de modais
é insuficiente
Apesar de ser a cidade que mais apresentou investimento no
quesito integração de modais nos últimos anos, Santo André ainda sofre
dificuldades no diálogo entre carros, transporte coletivo, pedestres e
bicicletas.
A principal reclamação dos moradores corresponde à ausência
de espaço para os pedestres. "Falta atenção para quem se locomove a pé,
principalmente em vias do Centro onde os faróis nos cruzamentos fecham muito
rápido. Uma pessoa idosa não consegue atravessar”, relata a aposentada Marli
Nunes, 64 anos.
Com 11,18 quilômetros de ciclofaixas existentes, o sistema
para bicicletas é outro que ainda não parece ser suficiente para atender toda a
demanda. Morador da Capital, o pedreiro Manoel Guilherme, 56, relata
dificuldades diárias. "Moro na Fazenda da Juta, em São Paulo, e venho todos os
dias trabalhar em Santo André. Aqui tenho muita dificuldade para pedalar. Só
continuo a vir porque não consigo pagar transporte.”
Enquanto isso, as faixas de ônibus apresentam resultados
positivos. "É muito mais fácil por conta do trânsito. Trabalho em São Bernardo
e pego duas conduções para ir e duas para voltar. O tempo que gastaria com
carro seria de 40 minutos, já de ônibus levo 30 minutos, mas não tenho
estresse”, relata o controlador de materiais, Marcelo Leal, 45.
Apesar disso, 80 autuações são aplicadas diariamente por veículos que transitam na faixa exclusiva.