12/11/2014 08:42 - Valor Econômico
As cidades brasileiras deram um nó difícil de desatar. A
opção preferencial pelo carro agravou a imobilidade urbana nas metrópoles do
país. O caos reina no trânsito. Em Campinas, no interior de São Paulo, 42,9%
das pessoas negligenciam o transporte coletivo. Na capital paulistana, o índice
é um pouco menor: 29,5%. Em Porto Alegre, o uso do transporte motorizado
individual chega a 25,8%. No Rio de Janeiro, esse percentual é de 16,5%. Os
dados são da ONG Mobilidade Urbana Sustentável (Mobilize Brasil) que fez um
estudo sobre a divisão dos modais nas principais cidades brasileiras. É que
andar de carro está proporcionalmente mais barato do que usar ônibus, trem,
metrô ou barcas.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
constatou que, em duas décadas, as tarifas de transporte coletivo subiram 685%
contra um reajuste de 423% no preço da gasolina ou do álcool. Alternativas
criativas, como estímulo a pequenas caminhadas, carona compartilhada, uso da
bicicleta, skates, patins e outros modais alternativos, são opções para
desafogar o trânsito, mas elas não dão conta do tamanho do problema.
O paulistano Rodrigo Gonçalves cansou de perder tempo no
engarrafamento. Morador do bairro do Campo Belo, ele já levou três horas para
chegar de carro ao trabalho, no Morumbi. À época, trabalhava na área de
planejamento estratégico da Honda Motors. Há quatro anos adotou a bicicleta. O
percurso passou a ser feito em 15 minutos, embora chegasse suado no trabalho.
Decidiu pensar em alternativas, mergulhou no tema e desenvolveu o projeto:
"Dress Me Up" (Vista-me mais rápido, numa tradução livre), vencedor
do prêmio "Mobilidade Minuto", na categoria "Novas Alternativas
de Organização Comunitária e do Trabalho".
O concurso foi organizado pelo Instituto Cidade em Movimento
(IVM, na sigla em francês do Institut pour la Ville em Mouvement), no final de
outubro. O projeto é uma estrutura pós-pedalada: um bicicletário, para 72
bicicletas, onde o ciclista sai de banho tomado. A primeira unidade foi
instalada na Avenida Luis Carlos Berrini - onde se perde, em média, 20 minutos
para sair do estacionamento dos prédios do centro empresarial. A estrutura é
composta por cinco cabines individuais e armários para que as pessoas guardem
equipamentos, como mochila e capacetes. O bicicletário oferece toalha e
sabonete líquido.
Para um dos jurados, o presidente do Instituto dos
Arquitetos do Brasil (IAB/ São Paulo), José Armênio, o equipamento urbano é uma
resposta a quem alega falta de garagem e vestiário como desculpa para não
adotar bicicleta como meio de transporte. O custo de implantação é de R$ 110
mil. Gonçalves, que pediu demissão do emprego para se dedicar exclusivamente ao
projeto, já estuda franquias para outras regiões da cidade e também para o Rio
de Janeiro.
O Caroneta, criado pelo engenheiro Márcio Nigro, em 2011,
foi outro projeto premiado. É um site brasileiro de incentivo à carona. O
portal é voltado para empresas: reúne 1.100 companhias e têm 265 mil pessoas
cadastradas. A iniciativa não é pioneira. Os precursores foram os sites
UniCaronas e Caroneiros, ambos lançados por alunos da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp), em 2007, e inspirados no francês Covoiturage e o americano
Zimride.
A ONG Mobilize Brasil lançou recentemente a campanha
"Adote uma Ponte". O objetivo foi sensibilizar pedestres, cadeirantes
e ciclistas do perigo que correm ao cruzar as pontes de São Paulo. A Secretaria
Municipal de Transportes anunciou projetos para 12 das 28 pontes existentes na
cidade. A primeira foi a Ponte da Casa Verde, sobre o rio Tietê. A prefeitura
também anunciou a meta de fazer a ligação cicloviária das zonas Norte, Oeste e
Sul ao centro da cidade. Até 2015, a prefeitura pretende implantar 400 km de
ciclovias. Hoje, são 82,9 km de vias.
Para desestimular o uso do carro, a prefeitura de Vitória
(ES) disponibilizou para os ciclistas um ônibus para que eles possam cruzar a
Terceira Ponte, que liga Vitória a Vila Velha. É um trecho de 4 km, onde não
havia espaço na pista para a convivência com as bicicletas. O ônibus sai a cada
15 minutos no horário do rush.