50% do TAV resolveria transporte da Grande SP

06/08/2013 07:45 - DCI

Leia: Leilão do trem-bala ameaçado 

Metade dos R$ 30 bilhões que deverão ser investidos na construção do Trem de Alta Velocidade (TAV) seria suficiente para resolver o desafio da mobilidade urbana na Grande São Paulo.

O cálculo que baseia a afirmação foi feito a pedido do DCI pelo presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Ailton Brasiliense. A comparação estaria, segundo alguns especialistas, entre os "motivos políticos" citados ontem pelo presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Bernardo Figueiredo, que poderiam levar o governo a adiar o projeto, já que o transporte público foi o principal motivo das manifestações populares que tomaram as ruas, principalmente em São Paulo, no mês de junho.

"Um investimento de R$ 15 bilhões seria facilmente absorvido por São Paulo e poderia amenizar um atraso de 30 anos, gerado por investimentos abaixo do necessário em transporte público. Isso tornaria possível ampliar a malha do Metrô, por exemplo, de 70 km para 170 km, com intervalos máximos de 2 minutos entre os trens, além de reduzir o intervalo da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), para 3 minutos, nos 260 km de trilhos por toda a Grande São Paulo", explicou Brasiliense.

O especialista, entretanto, não nega a importância do projeto do governo federal. "É preciso analisar a projeção de crescimento da demanda no trajeto entre São Paulo e Rio de Janeiro. Os aeroportos estarão saturados em no máximo 10 anos. Apesar da necessidade de melhorias no transporte urbano, é preciso avaliar essa necessidade também", disse. "É preciso fazer uma escolha técnica, de acordo com a projeção de crescimento do Brasil", concluiu.

A necessidade e a viabilidade financeira do projeto já haviam sido detalhadas pela EPL. Para a empresa, o custo da obra é proporcional ao de ampliação da rodovia Presidente Dutra, que faz a ligação entre os dois estados, e de dois aeroportos. Segundo o governo, essas obras seriam fundamentais para atender ao fluxo de passageiros entre São Paulo e Rio previsto até 2044.

O TAV seria, então, uma alternativa de transporte em massa "mais seguro e mais limpo", com uma emissão de 15 gramas de carbono por passageiro por quilômetro, contra os 180 emitidos por um carro de passeio.

Prazos

Figueiredo afirmou, em evento realizado ontem em São Paulo, que trabalha com o cronograma atual do TAV, com o leilão marcado para 19 de setembro. Figueiredo afirmou, no entanto, que a decisão de adiar ou não a licitação do empreendimento é política, mas que até o momento não recebeu qualquer orientação do Ministério dos Transportes sobre postergar o processo.

"O Ministério dos Transportes não deu orientação no sentido de adiar o leilão do trem-bala. Então, trabalhamos com o cronograma atual", afirmou.

O presidente da estatal afirmou ainda que preocupa o fato de a empresa espanhola Renfe poder ser impedida de entrar no leilão por conta do acidente que matou 79 pessoas em julho, em Santiago de Compostela.

Figueiredo, no entanto, afirmou que a Renfe não está automaticamente desclassificada, já que os argumentos ainda precisam ser analisados. A companhia ferroviária está em campanha informativa em diversos países, especialmente no Brasil, para deixar claro que não foi um trem de alta velocidade o que descarrilou.

Participações

Embora o adiamento do leilão do TAV seja dado como certo no escalão mais alto do governo, os técnicos continuam trabalhando na licitação. Para responder a queixas de potenciais empreendedores sobre a ausência de um sócio brasileiro de peso, o governo formalizou a intenção do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e dos Correios de participar do negócio.

O banco enviou carta à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) na qual informa que poderá eventualmente participar com até 20% do capital social da beneficiária ou 30% da parcela de capital próprio equity da concessão, o que for menor. O valor mínimo da participação é R$ 100 milhões. Na carta, o banco deixa claro ainda que não se trata de um compromisso de participar do negócio, pois esse estará sujeito ao "rito decisório de análise do sistema BNDES".

Os Correios também enviaram carta ao Ministério da Fazenda informando que pretendem se associar ao vencedor da licitação, "respeitados seus interesse financeiros, comerciais e operacionais". A estatal não especificou os valores em questão.

Ferrovias

Figueiredo relacionou ainda os atrasos nas concessões de infraestrutura a projetos mal realizados e que precisaram ser refeitos para que as licitações avançassem. "O problema não é de modelo de concessões, o problema é quando o projeto está malfeito", disse.

De acordo com Figueiredo, a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), por exemplo, começou a ser construído com projeto ruim e com dificuldades de licenciamento ambiental. "Isso só foi descoberto depois que houve dedicação em terminar a ferrovia".

Figueiredo, disse ainda que a estatal estuda uma nova etapa de concessões ferroviárias à iniciativa privada. Entre os trechos analisados, estão uma ligação entre Santarém (PA) e Porto Velho (RO), entre a Ferrovia Transnordestina e o Eixo Norte-Sul e uma integração com as malhas da Argentina e do Peru. "Só vamos conseguir reverter o perverso quadro logístico se trabalharmos continuamente para isso", disse, ao defender novos projetos, em palestra no 12.º Congresso Brasileiro do Agronegócio, em São Paulo.

Figueiredo afirmou também que as primeiras licitações portuárias após entrar em vigor a nova legislação do setor deverão ficar para setembro, a começar por Santos (SP) e Belém (PA). Nos meses seguintes - outubro, novembro e dezembro - deverão, de acordo com ele, ser levadas a cabo licitações nos demais portos brasileiros. O processo no setor portuário prevê investimentos de R$ 20,2 bilhões em concessões com prazo de 25 anos com possibilidade de uma única renovação.