Passageiros se dizem confusos com mudanças nos ônibus do Rio

28/11/2015 08:16 - G1 Rio

Entra em prática neste sábado (28), a quarta etapa da primeira fase do processo de racionalização dos ônibus que circulam pela Zona Sul da Rio. As mudanças têm como objetivo desafogar o trânsito e evitar que várias linhas façam trajetos semelhantes. O G1 circulou pelos pontos de ônibus da Avenida Nossa Senhora de Copacabana na tarde de sexta-feira (27), para conversar com os usuários do sistema de transporte público, que confessaram, em sua maioria, estarem confusos com as mudanças.

Por todos os pontos de ônibus que a reportagem circulou, não havia nenhum tipo de sinalização de que cinco linhas deixarão de existir: 126 (Rodoviária x Copacabana- via Túnel Santa Bárbara), 128 (Rodoviária x Leblon- via Copacabana), 136 (Rodoviária x Copacabana- via Leopoldina), 154 (Ipanema x Central) e 155 (Ipanema x Central- via Túnel Santa Bárbara). Neste mesmo dia, entra em circulação a Troncal 6 (Jardim de Alah- Rodoviária - via Túnel Santa Bárbara) em substituição a elas.

A linha 354 (Cidade de Deus x Praça XV) também sairá de circulação, sendo substituída pela Integrada 6 (Cidade de Deus-General Osório – via Itanhangá) A linha 434 passará a ser circular e terá o trajeto encurtado na Rua Real Grandeza, em Botafogo.

Nos sete pontos de ônibus que a reportagem do G1 percorreu em Copacabana, onde as linhas passam, não havia nenhuma forma de informação para o público sobre as mudanças deste sábado (28). Alguns cartazes apenas informavam quais linhas atuais correspondiam a algumas das que foram extintas.

A doméstica Ana Miranda, que mora em Realengo, não sabia que uma das duas linhas de ônibus que costuma pegar para voltar para casa seria extinta. "O 126 me deixava no ponto do 383, em frente ao Hospital Souza Aguiar. Como vai mudar, eu vou ter que pegar o troncal, que vai me deixar na Central e vou ter que caminhar uns 25 minutos para chegar até o ponto do ônibus”, explica Ana Miranda.

A doméstica soube da mudança por meio da equipe de reportagem do G1. "Eu estou sabendo da mudança por você. A partir do momento que você vai fazer o trajeto, você tem que saber. Se eu fosse pegar amanhã, eu ia ficar aqui, parada”.

A diarista Josina Araújo acha que o sistema está mais confusa. "Eu estava esperando para pegar o 433, mas ele não veio. Estava esperando há meia hora. Queria ir de Copacabana para o Passeio”, afirmou. A linha 433 (Vila Isabel-Leblon) foi extinta na terceira etapa do processo de racionalização, que ocorreu na sexta-feira (20). Ela foi substituída pela linha Troncal 2.

A jornalista Solange Bermann, que vive em Copacabana, é usuária de duas das linhas que foram extintas, a 136 e a 154, afirma que muitas pessoas não estão conseguindo acompanhar o ritmo das mudanças. Por isso, ela sugere que as linhas que foram substituídas sejam expostas nos ônibus, facilitando a identificação dos passageiros.

"O Troncal, que está escrito no ônibus, deveria ter um aviso no letreiro dizendo que linhas estão sendo substituídas. E no ponto de ônibus também. Para as pessoas ficarem cientes até se acostumarem com a mudança”, conta Solange.

A corretora de imóveis Patrícia Bastos, que mora em Niterói, mas trabalha e tem parentes no Rio de Janeiro, conta que achou a mudança difícil de compreender. Ela tenta se informar sobre as alterações com a ajuda da internet.

"A mudança me atrapalha para circular no Centro e no Bairro de Fátima, onde mora a minha mãe, e aqui em Copacabana, onde trabalho na área de aluguel por temporada. Eu não sei mais, por exemplo, como ir daqui para a Rua São Francisco Xavier, por exemplo”, afirma Patrícia.

Multa por falta de informação

O Rio Ônibus foi multado pela Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) em R$ 50 mil na última segunda (23) por conta de falhas na comunicação aos passageiros ao longo do processo de racionalização das linhas que passam pela Zona Sul do Rio.

De acordo com o sindicato que representa as empresas de ônibus, mais de 200 mil panfletos já foram distribuídos para informar sobre as alterações. Agentes também estariam trabalhando em pontos-chave do sistema de ônibus para informar os passageiros.

Sobre a multa, o Rio Ônibus informa que vão cumprir as determinações da Secretaria Municipal de Transportes (SMTR).

A mudança em números

De acordo com a Secretaria Municipal de Transportes, até este sábado (28), o processo de racionalização dos ônibus que circulam pela Zona Sul conta com 10 linhas criadas, 13 encurtadas ou modificadas e 29 extintas. O processo de racionalização começou no dia 3 de outubro. A previsão é que todo o processo termine no primeiro semestre de 2016.

O órgão afirma que, para reorganizar o novo sistema, estudos mostraram que 54% das linhas possuem mais de 50% de seus trajetos idênticos ao longo das viagens, o que prejudicaria a circulação dos veículos. O objetivo seria, então, diminuir o tempo das viagens e fazer com que os ônibus circulem em horários mais regulares. Para a SMTR, é normal que os passageiros tenham dúvidas em um primeiro momento.

O aposentado Nelson Marinho, que vive no Flamengo, considera que a mudança é positiva para a cidade. "Eu acho que vai ser melhor, porque vai diminuir o número de ônibus que passam pela Zona Sul. Tem muito ônibus e eu acho que o trânsito vai melhorar”.

A ambulante Michele Vianna, no entanto, não concorda e afirma que está encontrando mais dificuldades para ir trabalhar. "Eu pego o primeiro ônibus em Olaria, depois tenho que descer em Copacabana e depois pegar outro para a General Osório, em Ipanema. Complicou porque eu ando com peso e agora eu também tenho que pagar mais. Agora eu tenho que pagar duas passagens. E eu também não vi nenhuma melhora no trânsito. Eu levava, em média, 45 minutos. Agora eu levo quase duas horas”, contou a vendedora de bebidas, que pegava a linha 483 (Penha x Siqueira Campos – via Túnel Santa Bárbara), que teve o trajeto encurtado.

MP-RJ questiona racionalização

O Grupo de Atuação Especializada em Meio Ambiente (Gaema) do Ministério Público do Rio de Janeiro entrou com uma ação para impedir a continuidade do processo de racionalização dos ônibus no dia 13 de novembro. O MP-RJ questiona a eficiência do processo e afirma que a população não participou da discussão.

Na ação, os promotores questionam a ausência de metas que melhorem o tempo de viagem e aumento de custos para os passageiros. A 8ª Vara de Fazenda Pública deverá decidir sobre o pedido de liminar até a próxima semana.

"Ocorre que, apesar da clareza das premissas e dos comandos expressos das cláusulas integrantes do título executivo, os Executados incorreram em inadimplemento ao procederem da seguinte forma: (i) ao elaboraram avaliações que respaldam o projeto de racionalização em desacordo com as referências impostas pelo título executivo; (ii) ao implementarem e continuarem implantando medidas de racionalização sem o correspondente e necessário monitoramento dos parâmetros pré-estabelecidos (vg. Tempo de viagem); (iii) ao permitirem que um considerável número de usuários, em razão do encurtamento/ seccionamento de linhas, perdessem o direito de fazer integrações sem ônus financeiro", diz trecho da ação.

Ministério Público do Rio entrou com uma ação para impedir a continuidade do processo de racionalização dos ônibus (Foto: Reprodução/ MPRJ)

Sobre o questionamento dos críticos do sistema de que a racionalização dificultaria o acesso de outras regiões da cidade à Zona Sul e que as viagens estariam mais longas, a SMTR, afirma que o sistema que está sendo implantado é mais inteligente do que o anterior.

"A Prefeitura está extinguindo apenas as linhas sobrepostas, e uma das consequências disso é o fim da disputa por passageiros nos pontos e a melhor utilização dos corredores BRS. É importante ressaltar que, para cada linha extinta do sistema, existem outras que servem como alternativa, entre elas as troncais e as integradas, recém-criadas. Além disso, a integração entre a Zona Norte e a Zona Sul, por exemplo, também pode ser feita pelas linhas diametrais que passam pelos túneis Rebouças e Santa Bárbara – que estão mantidas e fazem a ligação entre as regiões com mais rapidez, sem necessidade de baldeação. Para 80% dos passageiros atingidos pelas mudanças não há necessidade de integração, apenas 20% podem precisar integrar as viagens. A integração não representa mais tempo de viagem ou gastos extras para a população, uma vez que todos os novos serviços levam em conta o tempo de benefício do BUC (2h30) [Bilhete Único Carioca]”, explica a Secretaria de Transportes.

De acordo com SMTR, um estudo que ainda não foi finalizado mostra que o comportamento dos usuários em dez linhas que foram substituídas nas duas primeiras etapas do processo, a 382, 314, 318, 332, 305, 456, 457, 483, 485 e 486, 91% dos passageiros teve a viagem completamente coberta pelos novos serviços. De acordo com os dados, 5,4% tiveram que migrar para uma linha direta ao destino, e 3,6% tiveram que fazer integração em uma segunda linha para conseguir concluir a viagem.

De acordo com esse estudo, apenas 0,25% dos passageiros estão fazendo integração, mesmo quando a opção por outra linha (sem baldeação) representa um tempo de viagem maior do que a viagem integrada.