A volta das bandalhas

18/04/2014 08:05 - O Globo

RIO — Bastou a prefeitura relaxar com a Operação Táxi Legal na Rodoviária Novo Rio para a pirataria retornar às imediações do terminal. A ação, iniciada na região em março do ano passado sob o anúncio de que seria permanente, foi planejada para dar um basta na briga de gato e rato entre a máfia do transporte ilegal e os fiscais da prefeitura. Mas, pelo menos nos últimos dias, quem passou pela região pôde presenciar várias irregularidades, mesmo com a presença de guardas municipais ou de agentes da Secretaria Especial da Ordem Pública. As bandalhas incluíam corridas em veículos particulares e ação de cambistas de passagens. O GLOBO flagrou até um terminal clandestino, controlado por um grupo que, com aparelhos de comunicação rápida, tomaram conta de um trecho da calçada da Avenida Francisco Bicalho, sob o Viaduto do Gasômetro.

Próximos a guardas municipais, passageiros assediados pelo grupo faziam longas filas nas tardes de quarta-feira e de quinta-feira. Enquanto isso, homens ligados ao esquema se comunicavam, por telefone, com seguranças e motoristas de vans e carros particulares, que atuam no transporte irregular de passageiros. A cada aproximação de um veículo, um grupo de pessoas era retirada da fila e levado até o local combinado com o motorista para o embarque. Nesta quinta-feira, às 15h15m, por exemplo, um homem foi pago por um motorista de van, após levar cerca de dez passageiros para embarcar no entroncamento das avenidas Brasil e Rodrigues Alves.

Motorista reclama de perseguição

Uma mulher que estava numa das duas filas de passageiros para Angra dos Reis disse ter sido avisada que viajaria de carro com três pessoas. Outros passageiros, com destino a Cabo Frio, iriam de van.

— Cobram R$ 50 para Cabo Frio. Acho que vale. É mais barato e vamos mais rápido — diz Laureci Gomes da Silva.

Um homem, que se identificou como Rogério, cobrava R$ 40 por pessoa para uma viagem, de van, para Cabo Frio.

— Se for em carro particular, o preço sobe para R$ 50. E é preciso quatro passageiros, no mínimo. Essa perseguição contra nós é coisa de doido. A gente corre atrás porque precisa trabalhar — disse ele, que deu até o número do celular para encomendas de passagens.

Grupos diferentes tomam conta do lugar e, não raro, há discussões e ameaças, por conta da invasão de território. Entre os destinos mais requisitados, cidades da Região dos Lagos e da Costa Verde, e bairros da Zona Oeste. Para Angra dos Reis e Cabo Frio, por exemplo, a viagem custava R$ 50.

O assédio aos passageiros é feito discretamente em frente à rodoviária e nos salões de embarque e desembarque. Na quarta-feira, em frente ao portão de chegada, um homem gritava nomes de cidades da Região dos Lagos, sem se importar com a presença de dois guardas ao lado. E ele não estava só na atividade. Um repórter do GLOBO foi até ele, que ofereceu vagas em carros particulares para Campos e para Macaé. Ele cobrava R$ 50 por pessoa.

Homens oferecendo viagens em veículos particulares também podem ser vistos em áreas por onde passam os passageiros que chegam ao Rio. Porém, a ação deles é mais discreta. Uma das táticas usadas pelo grupo é pegar a mala de viagem do passageiro para forçá-lo a seguir até o veículo. Na quarta-feira, um homem que acabara de chegar de São Paulo foi duramente assediado.

— Ele está pensando que sou bobo. Quis pegar minha mala, ms não deixei. Isso aqui é fogo. É preciso ficar atento — comentou, sem se identificar.

Já os cambistas de passagens atuam numa área próxima à esquina das avenidas Francisco Bicalho e Rodrigues Alves. A atividade inusitada oferece aos passageiros passagens com preços inferiores aos cobrados pelas empresas de ônibus. O repórter do GLOBO foi até um dos homens que ofereciam passagens para Rio das Ostras e Barra de São João. Ele ofereceu um bilhete (número 457351) de um ônibus que seguiria para Barra de São João, às 20h45m, de quarta-feira. O valor da passagem descrito no tíquete era de R$ 46,94. Mas o cambista ofereceu a viagem por R$ 35. Ele ainda disse que poderia conseguir outros bilhetes. De acordo com funcionários de uma empresa de ônibus, essas pessoas conseguem os bilhetes usando o RioCard, que podem ter sido comprados de terceiros por quantias bem abaixo do valor real.

Fiscalização às vésperas de feriados

Segundo a Coordenadoria Especial de Transporte Complementar da prefeitura, operações de fiscalização são feitas na rodoviária em parceria com o Departamento de Transportes Rodoviários (Detro), sempre em vésperas de feriados, para coibir o transporte irregular. Na quarta-feira, de acordo com a coordenadoria, dez vans foram apreendidas no entorno da rodoviária. Somente nesta quinta-feira, foram 22 (sete delas piratas). Já a Secretaria municipal de Transportes informa que a Operação Táxi Legal continua sendo feita regularmente.

A Guarda Municipal disse, em nota, que atua no entorno da rodoviária coibindo o comercio ambulante não autorizado, fazendo o balizamento do trânsito e autuando veículos por infrações, como parada e estacionamento irregulares.

Já a Seop afirma que nesta quinta-feira, véspera do feriadão, fez uma operação de combate à desordem no entorno do terminal rodoviário, na qual apreendeu 400 garrafas de bebida e dois carrinhos de transporte de mercadorias com ambulantes não autorizados. Segundo o órgão, foram apreendidas também duas placas publicitárias e rebocados dez veículos. Outros 143 foram multados.