21/11/2014 07:48 - Diário do Pará
Território de Belém, Cotijuba compõe as 42 ilhas que cercam
a capital paraense. Partindo do trapiche de Icoaraci em uma embarcação de
pequeno porte, se chega à localidade em aproximadamente 45 minutos.
Devido seus 20 quilômetros de praias praticamente inexploradas,
o local recebe dezenas de visitantes diariamente, e aumenta o fluxo de turistas
nos finais de semanas e feriados prolongados. Mesmo com a estrutura precária no
transporte, as pessoas se arriscam na travessia, que para muitos parece acima
de qualquer perigo.
Banhada pela Baía do Marajó e do Guajará, de águas mornas e
doces, cercada de vegetação tipicamente amazônica, o lugar é ideal para quem
busca tranquilidade e diversão ao lado da família. Porém, para viver momentos
de paz no local, os visitantes e moradores são obrigados a fazer a arriscada
travessia em pequenos barcos, onde as passagens custam em média R$ 4,00, ou em
navios oficiais da prefeitura, cujo valor é de R$3,00, dando a possibilidade
também do estudante pagar a metade, com a apresentação da carteira.
A viagem exige atenção e cuidado, pois qualquer manobra
brusca do piloto, ou intervenção da natureza, podem ser motivos de dor e
tristezas, causando um acidente, como o do último domingo, quando uma
embarcação naufragou, causando 4 mortes.
O excesso de peso, a tripulação não habilitada e a falta de
equipamentos de segurança são as principais queixas de quem faz a travessia e
os motivos dos recentes naufrágios nos rios do Pará. A dona de casa Isabela
Rocha mora em Belém, mas devido ter uma casa na Ilha de Cotijuba, ela faz a
viagem toda semana e reclama das más condições em que é submetida.
No geral, não é totalmente ruim. Quando pegamos o barco pela
manhã e com pessoas sérias vai tudo bem. Mas, têm algumas embarcações que além
de levar muita gente, divide o nosso espaço com botijão de gás, açaí e até
animais. Isso é um risco muito grande, disse Isabela.
Helen Sinara, de 17 anos, está grávida de 8 meses. Durante o
seu pré-natal, ela tem que no mínimo fazer uma travessia por semana. Apesar da
jovem ser acostumada com as viagens, por morar em Cotijuba, ela teme que
acidentes ocorram.
Eu sei nadar, mas não é por isso que eu não tenha medo dos
barcos e da maresia. Eu já vi muitas situações de risco, principalmente dos
barcos pequenos que vão cheios, sem coletes para todos. Além disso, no período
da tarde a correnteza fica mais forte, e os barcos pequenos balançam muito.
Quem não tem costume sente bastante, comentou.
FISCALIZAÇÃO
Para os usuários, uma das piores dificuldades é a falta de
fiscalização, o que facilita os barqueiros transportarem pessoas sem qualquer
norma de segurança.
Vemos barcos lotados, com pessoas em pé. No final de semana
fica pior ainda. Eles fazem o que querem, sem nenhum medo. Já fiz uma viagem
até durante a madrugada, em um domingo. Tinha muita gente bêbada, e até o
piloto estava bebido. Quando chegamos em Icoaraci, não tinha ninguém para
multar, ou questionar algo. Aqui, todos fazem o que bem entendem, contou a
comerciante Edna Serrano.
Um piloto que preferiu não ser identificado comentou que a
falta de fiscalização é um dos principais motivos de naufrágio nos rios
paraenses. Em 1996, o comandante tirou sua habilitação para navegar na
fronteira dos Estados do Amapá e Pará. Em 2005, ele recebeu uma proposta para
ficar em Belém e, se apaixonou pela ilha de Cotijuba.
Icoaraci é o ponto de referência das embarcações que vêm do
Marajó e das ilhas próximas de Belém. Além dos transportes de passageiros da
linha, as embarcações fazem frete de cargas, e principalmente de açaí. Por
isso, a fiscalização deveria ser redobrada e não é. Na verdade é que nós temos
uma deficiência muito grande. Isso não é só aqui em Icoaraci. É no Pará, pois
eu viajo bastante por aí e posso afirmar o que eu estou falando, concluiu o
piloto.
CONTESTAÇÃO
De acordo com o piloto Benedito dos Santos Ferreira,
conhecido como Farias, que é um dos representantes da Cooperativa dos
Barqueiros da Ilha de Cotijuba (Cooperbic), a fiscalização, ao contrário dos
outros depoimentos, acontece regularmente no trapiche de Icoaraci e na região.
Os 26 barcos que temos em nossa associação são regularizados
e vistoriados com frequência. Nossas embarcações têm a capacidade de
transportar de 40 a 150 pessoas por dia. Aqui não temos nenhum subsídio da
prefeitura, mas todos trabalham dentro das normas do navio, com coletes salva-vidas
e respeitando a lotação. Para que o controle seja mais forte ainda, com os
barcos regulares de transporte de passageiros, apenas 8 podem circular por dia.
Temos que fazer o revezamento, argumentou Farias.
A prefeitura também disponibiliza uma embarcação diária. O navio sai duas vezes ao dia. A tripulação é composta de quatro pessoas, entre operador de máquina, de convés e comandante. A fiscalização de carga, e números de passageiros é feita pela Superintendência de Mobilidade Urbana (Semob).