31/07/2015 06:10 - O Globo
Leia: Equipe de reportagem do GLOBO testa táxis
da cidade do Rio e flagra abusos de motoristas
O que deve fazer um motorista de táxi, que paga diárias
escorchantes e enfrenta jornadas exaustivas e arriscadas para ganhar uma
mixaria, muito menos do que embolsa, sem sair de casa, o dono do carro e da
"autonomia”? Ir trabalhar no Uber. O Rio de Janeiro tem 33 mil licenças
oficiais para táxis. Ninguém sabe como e com quais critérios esses "cartórios
sobre rodas” foram distribuídos. Só se sabe que custam caro, que valem muito (
como valiam as linhas telefônicas antes da privatização), que servem para
explorar motoristas, e que muitas estão nas mãos de poucos. Dizem que há
políticos que têm centenas de autonomias, compram carros com juros subsidiados
e isenções fiscais e o pagam com o suor do motorista que paga as diárias,
funcionando como uma verdadeira "máfia amarela”.
Para que serve a "autonomia”? Paradoxalmente, para ser
controlado, com a prefeitura mordendo taxas sobre uma atividade privada que diz
respeito somente aos consumidores e prestadores do serviço. Ao contrário dos
ônibus e metrôs, ninguém é obrigado a pegar táxi.
Autonomia quem tem são os motoristas do Uber.
Não tenho carro e sou grande usuário de táxis, conheço os
melhores e os piores, tenho amigos taxistas. Sinto pena dos que são explorados
pelos donos das frotas, agradeço e gratifico bons serviços, mas algumas vezes
já pedi que o motorista parasse na próxima esquina, paguei e peguei outro táxi,
para não brigar com um boçal que dirige uma lata velha como um louco, com o
rádio alto, fedendo a suor e me tratando como as negas dele. Esse cara nunca
estaria no Uber. No Uber, eles sabem quem está no carro de quem, onde, e quanto
pagou. Não precisam de fiscalização, de subornar fiscais, são as avaliações dos
consumidores que importam, porque eles são os maiores interessados em saber
como os motoristas trabalham. Senão acabam.
Os amarelinhos são úteis nos aeroportos, estações, terminais, e pelas ruas, mas quem quiser usar o Uber que use. A prefeitura deveria acabar com as "autonomias” e financiar carros ( pretos) com juros subsidiados para autônomos trabalharem no Uber, pagando impostos como todo mundo.
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ILUSÓRIO
A REPORTAGEM do GLOBO percorreu 130 quilômetros de táxi, na
cidade, e se deparou com problemas conhecidos: carros mal conservados,
motoristas despreparados, salvo exceções.
ENQUANTO ISSO, veículos do Uber eram multados e recolhidos.
Pode- se dizer com segurança que os usuários reprovam a atitude do estado e da
prefeitura.
OS POLÍTICOS podem conquistar votos entre taxistas, mas
contrariam o eleitorado em geral porque deixam de fazer o que é preciso: também
fiscalizar os táxis. E tratar de promover uma regulação razoável do Uber ou
qualquer outro serviço de transporte contratado por aplicativos.
É ILUSÓRIO imaginar que toda esta questão se resolverá com
batidas policiais nas ruas.