Reforma urbana: a bola da vez

19/09/2014 08:44 - Tribuna do Norte - Natal

Uma das principais novidades nos programas dos candidatos à Presidência da República neste ano é o crescimento e a consolidação do espaço dedicado aos problemas urbanos. A mudança pode ser detectada com facilidade nos textos enviados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pelos três postulantes que aparecem com mais destaque nas pesquisas de intenção de voto. A explicação mais provável para a mudança é o impacto que tiveram sobre políticos e marqueteiros as grandes manifestações de junho do ano passado, iniciadas como um protesto contra o preço das tarifas do transporte público e culminando em um clamor popular por uma reforma urbana.

Esse anseio sinaliza as transformações da sociedade brasileira. Se na década de 1960, quando a bandeira da reforma agrária empolgava os partidos de esquerda no País e o governo de João Goulart, 55% dos brasileiros viviam em zonas rurais, hoje essa população está em torno de 16%. E a tendência, de acordo com o IBGE, é que ela fique mais reduzida nos próximos 30 anos.

Nas propostas enviadas ao TSE, a presidente Dilma Rousseff (PT), que tenta a reeleição, fala de maneira enfática na necessidade de uma "reforma urbana”. O candidato do PSDB, Aécio Neves, vai na mesma linha. Entre as cinco "reformas fundamentais” que promete iniciar tão logo assuma o Planalto, as duas primeiras referem-se a questões urbanas - envolvendo transporte e segurança pública.

No programa do PSB - elaborado pela equipe do ex-governador Eduardo Campos (PSB), morto em acidente aéreo no dia 13 de agosto - um dos cinco eixos de mudanças que promete colocar em andamento é denominado Novo Urbanismo e o Pacto pela Vida. Segundo o documento, trata-se de "um dos problemas mais expressivos que se propõe ao Brasil e, consequentemente, àqueles que o governarão”.

As grandes questões urbanas já estavam presentes em programas de eleições anteriores. A diferença é que agora aparecem com mais destaque. Em 2010, Dilma apresentou análises e propostas de mudanças para melhorar a vida nas cidades, mas não situou a questão entre as grandes reformas que o Brasil precisava. O primeiro esboço de programa que seu partido aprovou, durante encontro nacional realizado em maio, sequer dedicou um capítulo especial à questão, embora já reconhecesse que as cidades estão crescendo desordenadamente e que "muitas estão à beira do colapso”.

A candidata do PSOL, Luciana Genro, está convencida de que a mudança está ligada às manifestações de junho. Ela fala sobre isso na página de apresentação de seu programa. "As manifestações que tiveram como ponto de partida a luta contra o aumento das tarifas expressaram um descontentamento mais amplo do povo contra as péssimas condições de vida nos grandes centros brasileiros e insatisfação com a subordinação do interesse público aos negócios privados”, disse a ex-deputada gaúcha.

O PSB também justifica suas escolhas na apresentação do programa lembrando os protestos: "É preciso ouvir o grito das ruas e ser consequente com os anseios da imensa borda de desfavorecidos que almejam inclusão verdadeira e cidadania plena”.