09/08/2014 09:10 - O Estado de SP
SÃO PAULO - A Secretaria Municipal de Transportes firmou uma
parceria com a Faculdade de Medicina da USP para avaliar quais os ganhos que a
instalação de faixas exclusivas de ônibus e ciclovias proporcionam à saúde do
paulistano. Ter em mãos estudos que quantifiquem o número de vidas preservadas
e o total de internações evitadas pelo poder público é ainda estratégia da
gestão do prefeito Fernando Haddad (PT) para comprovar a eficácia das ações.
Em reunião ontem com a equipe do professor titular de
Patologia da universidade, Paulo Saldiva, responsável pelo estudo, o secretário
Jilmar Tatto ressaltou que os ganhos à saúde pública derivados de ações em prol
da mobilidade nunca foram mensurados na capital. "O convênio vai mostrar que
investir no transporte público é também salvar vidas”, disse.
Segundo Tatto, o resultado será mais um argumento para a
gestão Haddad e vai ajudar no debate travado com quem não considera o tema
mobilidade importante. Para Saldiva, a cidade está "doente” e deve ser tratada.
"É o que o convênio firmado com a Prefeitura vai fazer. A Faculdade de Medicina
vai estudar a relação entre mobilidade e saúde para ajudar no desenvolvimento
de políticas públicas.”
O professor estima que os primeiros resultados poderão ser
conhecidos ainda neste semestre. O estudo utilizará dados oficiais da malha de
ônibus municipal e da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Por enquanto, o
programa de inspeção veicular, suspenso pelo prefeito Fernando Haddad (PT) neste
ano, não faz parte oficialmente do estudo. "Mas, a partir dele, poderemos fazer
simulações para comparara os resultados obtidos com a inspeção e com a
implementação dos faixas ou ciclovias, por exemplo”, disse Saldiva.
Diálogo. Diante
das reclamações de moradores e de comerciantes contrários à implementação de
ciclovias, especialmente em Santa Cecília, no centro da capital, o secretário
sinalizou nesta sexta, pela primeira vez, que aceitará negociar possíveis
alterações de trajeto - uma reunião sobre o assunto está marcada para
segunda-feira, 11.
Tatto ainda afirmou que passará a avisar a população sobre novas ciclovias, mas não definiu com quanto tempo de antecedência fará isso. O secretário apenas sinalizou que poderia divulgar novos trechos por meio de faixas, uma semana antes. As Avenidas Paulista e Domingos de Morais deverão fazer parte desse pacote.
Em 16 anos, poluição
do ar matará até 256 mil no Estado de SP
Projeção feita para SP alerta que 59 mil mortes ocorrerão somente na
capital
São Paulo - A poluição atmosférica vai matar até 256 mil
pessoas nos próximos 16 anos no Estado. Nesse período, a concentração de
material particulado no ar ainda provocará a internação de 1 milhão de pessoas,
e um gasto público estimado em mais de R$ 1,5 bilhão, de acordo com projeção
inédita do Instituto Saúde e Sustentabilidade, realizada por pesquisadores da
USP. A estimativa prevê que ao menos 25% das mortes, ou 59 mil, ocorram na
capital paulista.
Os resultados indicam que, no atual cenário, a poluição pode
matar até seis vezes mais do que a aids ou três vezes mais do que acidentes de
trânsito e câncer de mama. A população de risco, ou seja, as pessoas que já
sofrem com doenças circulatórias, respiratórias e do coração, serão as mais afetadas,
assim como crianças com menos de 5 anos que têm infecção nas vias aéreas ou
pneumonia.
Entre as causas mais prováveis de mortes provocadas pela
poluição, o câncer poderá ser o responsável por quase 30 mil casos até 2030 em
todos os municípios de São Paulo. Asma, bronquite e outras doenças
respiratórias extremamente agravadas pela poluição podem representar outros 93
mil óbitos, já contando a estimativa de crianças atingidas no período.
Doutora em Patologia pela Faculdade de Medicina da USP e uma
das autoras da pesquisa, Evangelina Vormittag afirma que a magnitude dos
resultados obtidos pela projeção, que tem como base dados de 2011, comprova a
necessidade de o poder público implementar medidas mais rigorosas para o
controle da poluição do ar. Nessa lista estão formas alternativas de energia,
incentivo ao transporte não poluente, como bicicleta e ônibus elétrico, redução
do número de carros em circulação e obrigatoriedade de veículos a diesel
utilizarem filtros em seus escapamentos.
O programa de instalação de faixas exclusivas de ônibus e de ciclovias na capital, desenvolvido pelo prefeito Fernando Haddad (PT), é indicado como bom exemplo, ainda que os resultados para a saúde pública não estejam mensurados.
Padrões. A chave para reduzir os efeitos provocados pelo material particulado – nome dado ao conjunto de poluentes soltos no ar, como poeira e fumaça – ainda passa, na análise da professora Evangelina Vormittag, por uma revisão nos padrões adotados pelo governo brasileiro para medir a poluição do ar. "O nosso padrão é baixo em relação ao adotado pelos demais países. É por isso que, constantemente, os índices de qualidade do ar divulgados pelos órgãos ambientais são considerados bons”, diz.
Para efeito de comparação, o padrão diário aceito pelo Brasil é de 150 microgramas por metro cúbico. Enquanto isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece índice máximo de 50 microgramas por metro cúbico. "É o triplo, uma diferença muito grande, que precisa ser reduzida”, afirma Evangelina. Para a pesquisadora, apesar de ousada, a meta de seguir a recomendação da OMS deve ser almejada. "Temos de estabelecer uma forma de chegar a esse patamar. Para isso, é necessário estabelecer prazos, divididos em etapas. ”A mudança está em discussão no Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).
Se adotada, não apenas a capital poderia ser beneficiada, mas diversas outras cidades em situação crítica no Estado. Ao contrário do que se imagina, São Paulo não lidera o ranking paulista de poluição atmosférica, segundo levantamento do instituto. O topo da lista é ocupado por Cubatão, seguida por Osasco, Araçatuba, Guarulhos e Paulínia. A capital aparece na 11.ª posição.