30/10/2014 07:20 - O Globo
O projeto de um terminal rodoviário da via expressa
Transolímpica no encontro da Avenida das Américas com a Avenida Salvador
Allende sofreu ajustes na semana passada, a fim de diminuir o impacto no
entorno. Entre as mudanças mais significativas está a substituição de três
módulos de estações pela implantação de um anel rodoviário de dois andares, o
que reduzirá a largura do empreendimento e proporcionará sua conexão com o BRT
Transoeste, não prevista inicialmente. Entretanto, os moradores do condomínio
Barra Bali, localizado em frente à futura construção, reclamam da falta de
informação e pretendem entrar com pedido de embargo das obras, até que saibam
mais sobre o projeto e lhes sejam apresentados documentos como o Estudo de
Impacto Ambiental.
A polêmica entre prefeitura e Barra Bali começou uma semana
antes das alterações, na manhã do dia 15, quando moradores foram surpreendidos
com o som das motosserras usadas por operários da obra do terminal para cortar
árvores nas proximidades do condomínio, nas avenidas das Américas e Alfredo
Balthazar da Silveira. Imediatamente, eles organizaram um protesto contra a
remoção. À tarde, o biólogo Demetrio Castellan decidiu radicalizar: amarrou-se
a um dos troncos que seria derrubado, na tentativa de evitar a ação, apesar de
a Construcap, empresa contratada para executar o serviço, ter afirmado na
ocasião estar de posse das licenças necessárias para o trabalho.
— Eu já havia procurado a subprefeitura e o MP da Barra para
ter acesso ao projeto, sem obter retorno. No dia, o responsável me disse que
aquelas árvores estavam marcadas para serem cortadas. Então me amarrei ao
tronco e avisei que não sairia de lá. Aquela ação foi necessária porque eu
temia algo pior. A desinformação e a falta de transparência criaram uma
angústia muito grande — explicou Castellan, que conseguiu salvar a árvore.
Na semana seguinte, a Secretaria municipal de Obras (SMO) e
a Subprefeitura da Barra e Jacarepaguá disseram que os cortes foram
precipitados e anunciaram as mudanças no projeto. Segundo as pastas, as
alterações já estavam em análise, e não foram determinadas pela manifestação.
Inicialmente, os moradores do Barra Bali ficaram satisfeitos
com a promessa de ajustes, mas, após uma reunião na última segunda, com o
subprefeito Alex Costa, um engenheiro da SMO e um representante da Secretaria
municipal de Transportes, reclamaram de respostas vagas a suas dúvidas e
decidiram ir à Justiça. — Não temos confiança na capacidade de fazerem um
trabalho de qualidade. Primeiro cortaram árvores sem necessidade e depois
apresentaram uma planta desenhada à mão sem informações básicas. Não havia nem
marcação de onde fica o condomínio, e a maioria continua sem entender o
projeto. Não podemos acreditar só no discurso, queremos garantias — diz Ursula
Castellan, filha de Demetrio.
Ursula é organizadora de um abaixo-assinado on-line que
pressiona pela preservação da vegetação no entorno do terminal e da área de
lazer do Barra Bali, que, no projeto original, daria lugar a uma parte da
construção. Segundo a SMO, o condomínio possui uma licença de uso precário, que
poderia ser suspensa, dependendo do interesse público pela região.
Pelo novo projeto, a área de lazer do condomínio não será
mais usada, assim como o trecho em que houve supressão de árvores. A SMO diz
que as plantas eram do tipo algodoeiro, espécie exótica, e, até o final da obra,
será feito o replantio, com vegetação nativa. A ação da Construcap foi
considerada indevida pelo órgão, porque, mesmo antes da alteração do projeto, a
quantidade de árvores a ser retirada ainda não estava definida. A empresa,
afirma a SMO, será notificada.
Crescimento vertical
diminui os impactos
Em busca de alternativas que diminuíssem a derrubada de
árvores e melhorassem a circulação no encontro entre a Avenida das Américas e a
Salvador Allende, a Secretaria municipal de Transportes (SMTR) e a Secretaria
municipal de Obras (SMO), executora do trabalho, reviram o novo projeto do
terminal rodoviário da Transolímpica no local. Ficou definido que será
construído um anel rodoviário de dois andares, um para o BRT e outro para os
demais veículos. Desta forma, evita-se a construção de três módulos
horizontalmente, o que significa menos interferência nos terrenos ao redor. A
capacidade de operação e o fluxo de passageiros não serão reduzidos. Pelo
contrário: o terminal, que incialmente atenderia somente ao BRT Transolímpica,
agora fará também conexão com o BRT Transoeste. A expectativa é que 20 mil
pessoas utilizem o serviço, diariamente.
Segundo as pastas, alterações e ajustes em projetos deste
porte são comuns. A nova rotarória ficará junto à Avenida das Américas, próximo
à Avenida Alfredo Balthazar da Silveira. A SMO explica que os ajustes
interferiram num trecho de cerca de 500 metros da obra, e a planta sempre foi
baseada no Plano de Alinhamento da Prefeitura, a fim de que a intervenção
ocorresse exclusivamente em área pública. O prazo de entrega do terminal é o
final de março de 2016.
A SMO salienta que novas alterações no projeto ainda podem
ocorrer. Mas o subprefeito da Barra e Jacarepaguá promete que será feito o
possível para que haja mais comunicação e evite- se o corte de árvores.
— Na reunião de segunda-feira, todo o projeto foi apresentado
concretamente; não falamos ao vento. Mas, se os moradores entrarem na Justiça
porque não admitem o terminal, é um direito que eles têm, como cidadãos — diz
Alex Costa, para quem houve "falta de sensibilidade” na remoção das árvores
feita pela Construcap. — A subprefeitura não estava sabendo. A garantia hoje é
de não haver mais supressão de árvore alguma. Se tiver, vamos comunicar à
população e fazer diferente. Agora vou tentar com a Secretaria de Meio Ambiente
que se plante ao máximo na mesma região, através das medidas compensatórias.
Além da construção do novo terminal, está em curso a obra de
duplicação das pistas da Abelardo Bueno e da Salvador Allende, também como
parte da Transolímpica. A SMO identificou a existência de 1.671 árvores no
local, 16 delas mortas. Pelo traçado das intervenções, serão mantidas 489,
enquanto 324 serão transplantadas e outras 842, retiradas. A previsão é que
haja o plantio de 11.637 novas árvores na própria região, como compensação.