15/04/2014 07:15 - Estado de Minas
Passageiros de linhas que ligavam bairros ao Centro e agora
têm como destino a Estação São Gabriel, na Região Nordeste da capital, não
sabem como farão para voltar à noite para casa. Os ônibus do BRT não circulam
depois de meia-noite e quem precisa da condução depois desse horário está
mergulhado em dúvidas e receios. A publicitária Eduarda Martins, de 28 anos,
não sabe nem se vai continuar o curso de pós-graduação, com medo de não ter
como chegar em casa, no Bairro Minaslândia, Região Norte da capital.
"Minha aula termina às 22h30, no Bairro Buritis. Estou sem
saber como vou fazer, porque tenho que pegar um ônibus até o BRT e, na estação
São Gabriel, o 734”, diz. O detalhe é que, pelo quadro de horários informado
pela BHTrans, na linha 734 (Estação São Gabriel/Aarão Reis via Minaslândia),
que substituiu a linha 5508 (Aarão Reis via Minaslândia), o último horário de
partida é 23h30. Ou seja, em uma hora, Eduarda terá o desafio de sair da aula,
pegar dois ônibus e chegar ao terminal a tempo de embarcar no 734. "É um tempo
muito curto. Não sei se vou poder voltar a estudar”, diz.
No primeiro dia usando o BRT/Move, a publicitária não teve
uma boa experiência e chegou 30 minutos atrasada ao trabalho, por causa das
baldeações. Em vez de dois coletivos, ela passou a pegar três ônibus. "Ninguém
consulta os passageiros para saber se eles querem essa mudança. A 5508 foi a
primeira linha a ser extinta e tenho certeza de que, nas próximas, haverá os
mesmos problemas. A gente perde muito tempo trocando de ônibus”, diz Eduarda,
que, por falta de sinalização na Estação São Gabriel, acabou embarcando no
ônibus errado.
As reclamações com relação às baldeações são comuns entre
passageiros das duas linhas substituídas por alimentadoras com destino ao
terminal São Gabriel. Muitos dizem que a jornada ficou mais cansativa e
demorada. Um deles é a padeira Fernanda Cristina, de 37 anos, que trabalha no
Bairro Buritis, na Região Leste de BH, e mora no Conjunto Paulo VI, na Região
Norte. Na volta para casa, Fernanda costumava tomar um coletivo até o Centro e
outro, da linha 5523A, para concluir o trajeto. Ontem, após descer no Centro,
precisou embarcar em um articulado do BRT/Move, da linha 83P, e, na Estação São
Gabriel, pegar um veículo da alimentadora 815. Demorou cerca de uma hora e 10
minutos para descer no ponto de destino, aproximadamente o tempo que gastava
antes. "No terminal, a gente tem que subir e descer escadas. Além disso, o 83P
estava lotado, tive que vir em pé. Antes, quando eu pegava a 5523A, sempre
tinha cadeira vaga”, queixa-se.
Na tarde de ontem, o Estado de Minas cronometrou o tempo
gasto para fazer a baldeação. Às 16h37, a equipe pegou um articulado da linha
83D na estação de transferência da Avenida Santos Dumont, no Centro. Às 16h58
ocorreu o desembarque no terminal São Gabriel. O embarque na linha 815 ocorreu
às 17h10, com chegada ao ponto final , no Conjunto Paulo VI, às 17h46. A
diarista Adriana Ribeiro, de 34 anos, gastou 45 minutos entre embarcar em um
veículo da 83P na Avenida Cristiano Machado e descer no último ponto da 815.
"São uns cinco ou 10 minutos a mais do que o tempo que eu gastava com a 5523A.
Sem a baldeação era melhor”, disse.
A mudança no sistema de transporte do Bairro Paulo VI
aumentou ainda mais a preocupação de mãe da doméstica Magda Dias Alves, de 36
anos. Ontem, no primeiro dia de funcionamento da linha 815 em substituição à
5523A, ela ainda não sabia como o filho, que estuda à noite, voltaria para
casa. "Ouvi dizer que a estação não funciona até muito tarde. Ele sai da aula
quase 23h. Como ele vai fazer se não conseguir mais pegar o BRT?”, disse,
lembrando que a antiga linha tinha atendimento noturno. "Ele demorava a passar
de madrugada, mas passava. A BHTrans precisa pensar nesse tipo de situação e
atender a todos”, cobra. Para seu trajeto, Magda já tem opinião. "Vai me
atrapalhar, porque trabalho na Cristiano Machado, mas vou ter que pegar outro
ônibus.” Consultada, a BHTrans não se manifestou sobre o horário de circulação
dos ônibus do Move.
Muito lugar para
pouco passageiro
Se há quem reclame da demora e da superlotação de coletivos
do Move, na nova linha 9850 há ônibus à espera de passageiros. Circulando no
quarto itinerário criado desde a inauguração do BRT/Move da Cristiano Machado,
há cerca de um mês, os coletivos que fazem o trajeto Estação José Cândido
/Estação São Gabriel rodaram vazios no primeiro dia útil em operação, com baixa
adesão do público. A equipe do Estado de Minas embarcou em duas viagens no novo
itinerário, percorrido em 16 minutos, em média, e encontrou apenas uma
passageira.
A empregada doméstica Conceição do Nascimento, de 54 anos,
nem acreditava que, em plena segunda-feira, era a única passageira em um ônibus
confortável e com ar-condicionado. Moradora do Bairro Paulo VI, na Região
Nordeste, ela trocou o metrô pelo BRT. "Experimentei usar o BRT no sábado e
gostei. O metrô vem mais rápido, mas vive cheio”, diz. Para a cobradora do
9850, Maria Márcia, a tranquilidade é maior. "É outro nível. Aqui não tem gente
que entra no ônibus e quer pular roleta. É mais difícil fazer isso”, conta.
Em duas viagens na linha, entre 8h30 e 9h15, a equipe de
reportagem levou 17 minutos e 15 minutos para cumprir o trecho. Em nenhum deles
os monitores com informações sobre horários e pontos de parada estavam
funcionando. Os ônibus passaram em intervalos de 15 a 20 minutos.
Diferentemente da Estação São Gabriel, quem desembarca na Estação José Cândido
da Silveira não pode entrar em outro ônibus sem a necessidade de pagar nova
tarifa ou pagando apenas o complemento da passagem de integração. Passageiros
sem o cartão BHBus são obrigados a pagar o preço integral, R$ 2,65.
Antônio Carlos fica
para maio
Previsto inicialmente para começar a operar hoje, o corredor
do BRT/Move da Avenida Antônio Carlos não tem data oficial para funcionar. A
BHTrans afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que o sistema será
inaugurado em maio, a um mês da Copa do Mundo, mas não detalhou o dia. Na
Avenida Cristiano Machado, conforme o EM adiantou, o cronograma prevê que até o
dia 3 serão criadas e substituídas linhas, mudados horários e alterados
itinerários dos ônibus. Segundo o planejamento, serão criadas 19 linhas para
substituir 17 atuais.