Cidade de Niterói registra um acidente com vítima a cada três horas

31/10/2014 06:00 - O Globo

Dados do Corpo de Bombeiros mostram que o número de acidentes de trânsito com vítimas subiu 23,3% entre janeiro e setembro deste ano, se comparado com o mesmo período de 2013. Foi um total de 2.128 ocorrências, o equivalente a um registro a cada três horas: pelos menos 24 pessoas morreram este ano, já que a estatística considera apenas os óbitos que ocorrem no local. Ainda segundo os bombeiros, os endereços onde a violência no trânsito é maior são, respectivamente, Estrada Francisco da Cruz Nunes, na Região Oceânica; Alameda São Boaventura, no Fonseca; e RJ- 104 ( Rodovia Amaral Peixoto). O ranking é o mesmo do ano passado. Para a Niterói Transporte e Trânsito ( NitTrans), a alta dos números está relacionada ao aumento da velocidade nas vias, possível a partir de medidas como a implantação de faixas expressas e mudança da velocidade máxima permitida em determinados pontos. O órgão promete intensificação de campanhas educativas. A cada dia, o trânsito de Niterói registra oito acidentes com vítimas parciais ou fatais — média de uma ocorrência a cada três horas. Os números do Corpo de Bombeiros são referentes ao período de janeiro a setembro deste ano, totalizando 2.128 casos — um aumento de 23,3% se comparados ao mesmo período de 2013, quando foram registradas 1.726 ocorrências. Foram 24 óbitos este ano contra 17 de 2013, considerando apenas os casos em que a morte ocorre no local. Houve mais colisões (de 939 para 1.289 ou 37,3%), quedas de moto (de 323 para 364 ou 12,7%) e atropelamentos (de 396 para 413 ou 4,3%), mas as capotagens diminuíram (de 68 para 62).

Os endereços onde a violência no trânsito é maior são, respectivamente, Estrada Francisco da Cruz Nunes, na Região Oceânica; Alameda São Boaventura, no Fonseca; e RJ-104 (Rodovia Amaral Peixoto). O ranking é o mesmo do ano passado.

Para a Niterói Transporte e Trânsito ( NitTrans), a alta dos números está relacionada ao aumento da velocidade nas vias, possível a partir de medidas como a implantação de faixas expressas e mudança da velocidade máxima permitida em determinados pontos. O órgão ressaltou, porém, que o número de Boletins de Registro de Acidentes de Trânsito (Brats) feitos pela Polícia Militar de janeiro a junho de 2013 caiu 59,6% diante do mesmo período deste ano. Diferentemente dos Bombeiros, a PM registra também ocorrências sem vítimas.

Dados requisitados pelo GLOBO-Niterói à PM mostram, contudo, que o percentual de queda foi menor: de 55,4% — de 2.759 Brats em 2013 para 1.231 em 2014. Esses números, no entanto, não incluem o E-Brat, registro eletrônico lançado pela polícia em janeiro de 2013, que deu fim à necessidade do envio de uma viatura ao local do acidente quando não há vítimas. Somados Brats e E-Brats nos primeiros semestres de 2013 e 2014, houve uma diminuição ainda mais tímida, de 14%.

BRASIL NA CONTRAMÃO DE OUTROS PAÍSES

Diante dos diferentes números, Fernando Diniz, presidente da ONG Trânsito Amigo, faz sua opção.

— Acredito que dados como os do Corpo de Bombeiros e do seguro Dpvat dizem respeito à realidade que importa, da violência no trânsito que faz vítimas. Números de ocorrências sem vítimas dizem respeito a bens materiais; com vítimas, a vidas — afirma o engenheiro, que criou a ONG após perder o filho em um acidente no Rio, em 2003. — Enquanto diversos países estão reduzindo suas estatísticas, no Brasil, a tendência é contrária.

Segundo o coronel Marcelo Gisler, comandante do 3º Grupamento do Corpo de Bombeiros (Niterói), o aumento se expressa no cotidiano do quartel.

— Com certeza esse crescimento nos números de acidentes com vítimas nos tem exigido um trabalho maior. Percebemos isso com a intensa saída de viaturas, o que muitas vezes deixa nosso pátio vazio — conta Gisler. — Acredito que esta realidade pode mudar, a curto prazo, com a fiscalização da velocidade e da condição dos veículos e condutores. A longo prazo, precisamos de uma infraestrutura maior e, sobretudo, da educação para o trânsito.

As falhas na estrutura da Estrada Francisco da Cruz Nunes são motivo de muita indignação para o consultor em softwares Emerson Rios, morador de Itaipu. Apesar de a via ser a campeã de acidentes com vítimas nos primeiros três trimestres do ano, houve diminuição do número de casos de 35% em relação a igual período de 2013, passando de 249 para 161 registros. Para Rios, porém, a estrada está longe do ideal, com precariedade na pintura horizontal das pistas, estacionamento irregular e falta de estrutura para ciclistas:

— Por ser uma rua com muitos cruzamentos e muitas vias auxiliares, a falta de sinalização adequada e o mau comportamento dos motoristas contribuem para que ela seja ainda mais perigosa. Eu já me envolvi em dois acidentes; meu filho, em três.

ACIDENTES ATRIBUÍDOS À FALTA DE MOBILIDADE

A Alameda São Boaventura, segundo lugar no ranking, registrou 145 ocorrências entre janeiro e setembro deste ano: uma redução de 8,8% em relação a 2013. A poeta Walma Nascimento se envolveu, em abril, em um atropelamento, ocorrência que, junto a queda de moto, registrou aumento na via no período.

— Os sinais (de trânsito) demoram muito a abrir para o pedestre. Quando abrem, são rápidos. Eu fui atropelada quando estava terminando de atravessar a faixa e acabei machucando olho, mão, ombro e joelho, além do trauma psicológico — conta a artista, para quem a demora do tempo dos sinais faz com que muita gente atravesse fora do lugar permitido e da faixa de pedestres.

Para Gilberto Gonçalves, especialista em transportes e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), é preciso considerar, ao avaliar o aumento de acidentes, as condições de mobilidade no município.

— É claro que a manutenção das vias é importante, mas, no caso da Estrada Francisco da Cruz Nunes, por exemplo, é fácil perceber que ela não foi planejada para receber essa quantidade de veículos. Antes, ela ligava o nada ao lugar nenhum. Hoje, o comércio e as moradias no entorno levam a um entra e sai que, naturalmente, provocará acidentes. Na Rodovia Amaral Peixoto, o mesmo acontece — afirma, referindo-se à estrada que é a terceira via com mais registros em Niterói, com crescimento de 32,6% no número de ocorrências, de 89 para 118. — Os governos devem procurar urgentemente reduzir o número de carros nas ruas.

Em nota, a NitTrans afirmou que serão intensificadas campanhas educativas nas vias onde foram registrados mais acidentes.