25/10/2014 07:30 - Diário do Grande ABC
Fugir do perigo de atravessar grandes avenidas utilizando as
passarelas se transformou em dor de cabeça para moradores do Grande ABC. Sujas,
mal iluminadas e inseguras, as passagens se tornaram um problema sem solução.
Em visita a 14 passadiços, de pelo menos 39 existentes (sem contabilizar São
Bernardo, que não respondeu quantas têm sob sua responsabilidade, já que 12 são
mantidas pela Ecovias), a equipe do Diário avaliou pontos básicos para o bom
funcionamento do projeto. Entretanto, o que encontrou foi uma série de itens
que coloca em risco a vida dos munícipes.
A passarela sobre a linha férrea, que interliga as avenidas
Rio Branco (altura do 1.235) à Capitão João (altura do 1.121) é uma das que têm
mudado a rotina dos pedestres de Mauá. Vizinho da passagem, o profissional da
área de jateamento Carlos Gil Carvalho Costa, 38 anos, relata as constantes
solicitações de mulheres para acompanhá-las no trajeto até o outro lado. "É
comum ver moças esperando que pessoas suspeitas cheguem ao final da via para
que elas possam passar. Isso quando não nos pedem companhia para atravessar”,
comenta o morador, que ainda relata os abusos frequentes de usuários de drogas
no local. "É só passar por lá (na passarela) que você irá ver vários pinos
espalhados pelo chão.”
Na Avenida Capitão Mário Toledo de Camargo, em Santo André,
o problema fica por conta dos moradores de rua. A passarela José Furtado, na
travessa da via com a Rua Amaro, é um exemplo. "Boa parte da passagem já foi
ocupada por andarilhos. Você nem consegue mais andar ali. De noite, a falta de
iluminação piora tudo”, diz o mecânico Valter Rodrigues, 45, que revela outro
problema constante. "Quando a Prefeitura vem colocar a luz, eles (moradores de
rua) cortam a fiação no dia seguinte.”
Quem pensa que os problemas nas passarelas se limitam à
falta de segurança está enganado. A passagem localizada em frente à Prefeitura
de São Bernardo e o Shopping Metrópole é exemplo de infraestrutura ruim. Em
visita ao local, foi possível encontrar vãos laterais que não ofereciam a
mínima proteção para o pedestre.
A jovem estudante Bruna Pereira, 16, foi uma das moradoras
que mostraram claramente o risco de passagem pela via. "Se eu quiser, me jogo
tranquilamente na rua.”
Outra que apresenta uma série de problemas em toda sua extensão
é a passagem localizada na Avenida Humberto de Campos, em Ribeirão Pires. A
principal reclamação é a falta de iluminação, o que faz com que pedestres que a
utilizam para a travessia colecionem relatos de assaltos.
Apesar das constatações feitas nas passarelas da região, as
prefeituras do Grande ABC, junto com a Ecovias e CPTM (Companhia Paulista de
Trens Metropolitanos), declararam que os locais recebem manutenções periódicas,
tais como reparos nos pisos, pintura, reformas no gradil, iluminação, entre
outras ações.
Especialista diz que
estruturas estão longe do ideal para pedestres
Como consequência da falta de segurança, as passarelas do
Grande ABC têm atraído cada vez menos pedestres. Segundo o professor da área de
Mobilidade Urbana da UFABC (Universidade Federal do ABC) Humberto de Paiva
Júnior, é preciso pensar em projetos diferentes para beneficiar quem se desloca
a pé.
"A ideia (de construção da passarela) não é ideal para os
pedestres. Além de algumas apresentarem problemas, muitos moradores preferem se
arriscar nos cruzamentos em nível porque gastam menos tempo para percorrer o
trajeto.”
De acordo com o especialista, os sistemas viários das
cidades deveriam valorizar mais os transeuntes em relação aos veículos
automotores. "O ideal é que fosse feita passagem subterrânea para os veículos.
Brasília é um bom exemplo de cidade em que o projeto foi todo pensado para os
moradores que trafegam sem carro. Entretanto, o custo é bem mais elevado que
construir somente uma passarela”, adverte o professor.
Paiva Júnior acredita, porém, que esse tipo de passagem
ainda pode atrair os pedestres se seguir critérios básicos de construção. "É
necessário que todas ofereçam acessibilidade, como rampas para deficientes
físicos. Além disso, apesar da iluminação não ser comum, é importante pensar
nesse aspecto, que traz certa sensação de segurança para quem utiliza esses
equipamentos”, destaca o especialista.