Férias coletivas são concedidas em mais setores industriais

18/12/2014 08:50 - Valor Econômico

Boa parte do setor industrial brasileiro decidiu conceder neste fim de ano um período de férias coletivas igual ou maior do que em 2013. Ainda que os estoques altos sejam mais perceptíveis na cadeia automobilística, as férias coletivas como forma de reequilibrá-los envolverão também outros ramos, como o têxtil e o calçadista, além de produtores de tratores agrícolas e fábricas de louças e metais.

Líderes nacionais nos segmentos de carrocerias de ônibus e de implementos rodoviários, a Marcopolo e a Randon, ambas com sede em Caxias do Sul (RS), decidiram aumentar de duas para três semanas, em média, o período de férias coletivas na passagem de 2014 para 2015, comparativamente à virada do ano anterior. A ampliação da parada acompanha o calendário dos fabricantes de chassis e das montadoras de veículos, depois de um ano de queda generalizada na produção desses setores.

Segundo o gerente-executivo de recursos humanos da Randon, Daniel Ely, a medida complementa as providências adotadas em 2014 para enfrentar a desaceleração dos negócios e preservar o quadro de funcionários. Além de não repor a rotatividade da mão de obra, o grupo recorreu a férias seletivas e feriados prolongados em maio e, depois, ao escalonamento do expediente durante a Copa. De agosto a outubro, a maior parte das controladas adotou a jornada de quatro dias por semana.

Neste ano, também aumentará o contingente de pessoal que entrará em férias. Em Caxias do Sul, a parada da Randon vai atingir 96% dos 9 mil funcionários, ante pouco mais de 80% no ano passado, sendo que 55% iniciaram as férias no dia 15 e 45% entrarão em férias a partir do dia 22. Na planta de Guarulhos (SP), onde são produzidos semirreboques canavieiros, o descanso será de 30 dias para 80% dos 900 funcionários, ante três semanas na virada de 2013 para 2014.

Na Marcopolo, as férias irão de 22 de dezembro a 11 de janeiro, enquanto na passagem de 2013 para 2014 o descanso foi de 23 de dezembro a 5 do mês seguinte. Com 12 mil funcionários no Brasil, a Marcopolo produziu 11,3 mil ônibus no país de janeiro a setembro, 21,3% a menos do que no mesmo período do ano passado.

No segmento de máquinas agrícolas, a AGCO, dona das marcas Massey Ferguson e Valtra, vai repetir neste ano as três semanas de parada nas fábricas de Mogi das Cruzes (SP) e Canoas (RS), informou a empresa por intermédio de sua assessoria. Na primeira, as férias iniciaram dia 15 deste mês e na segunda, no dia 22. A unidade de Santa Rosa (RS), onde são fabricadas colheitadeiras, não vai parar porque já teve suas operações interrompidas durante 30 dias em setembro para "reorganização de layout para produção de novos produtos".

Conforme o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas, Paulo Chitolina, o período médio de férias coletivas das indústrias do município ao lado de Porto Alegre neste ano será de 15 a 20 dias, o mesmo de 2013. O número de empresas que comunicou as paradas à entidade, entretanto, aumentou de cerca de 30 no fim do ano passado para 53.

Além dos estoques altos e de ainda verificar demanda fraca, o superintendente adjunto de Ciclos Econômicos da FGV-Ibre, Aloisio Campelo, avalia que a indústria está sendo afetada pelo descompasso entre o que as empresas acreditam que será a demanda e o que elas planejaram produzir. Ele exemplifica que no terceiro trimestre houve um novo desapontamento da indústria em geral. "O setor pensava que, depois da Copa, a recuperação seria uma espécie de devolução completa do que havia desacelerado no segundo trimestre. Mas, no caso da indústria de transformação, não foi assim".

Embora as férias coletivas ocorram em diferentes setores, é no de material de transportes que os estoques estão mais chamando a atenção. Entre 14 setores pesquisados pela FGV, este é o que está mais estocado, seguido por têxtil, mobiliário, vestuário e minerais não metálicos. Em alguns casos, os níveis de estoques são os mesmos de 2009, ano de fortes reflexos da crise mundial que eclodiu em 2008.

Nas têxteis catarinenses, um dos principais polos desse tipo de fabricação no país, Vivian Kreutzfeld, presidente do Sintrafite, sindicato dos trabalhadores têxteis de Blumenau e região (SC), que representa 30 mil trabalhadores de 262 empresas, diz que as grandes companhias vão dar férias coletivas neste ano de 10 a 15 dias, volume similar ao do ano passado. Ela explica, no entanto, que em alguns setores específicos dentro da fábrica há empresas que ampliarão o período de 15 para 20 dias neste ano frente ao ano anterior. Vivian diz que este é o caso de parte das áreas de tecelagem e fiação de algumas grandes empresas, para que haja maior equilíbrio de estoques. Em Blumenau, estão Coteminas e Karsten, além de companhias que estão em recuperação judicial, como a Teka.

Em Jaraguá do Sul (SC), a maior empresa têxtil da região, a Malwee, concederá 20 dias de férias coletivas, mesmo número de dias que deu no ano passado.

Em Joinville (SC), Sebastião Alves, presidente do sindicato dos metalúrgicos da região, diz que neste ano o período de férias coletivas irá variar, em média, entre 15 e 20 dias. E há casos em que alguns setores dentro da fábrica terão férias de 30 dias. No fim de 2013, o período de férias coletivas concentrou-se, em média, entre 10 e 15 dias, com raras exceções.

Entre as grandes empresas da região, diz Alves, a maioria aumentou em cinco dias o período de férias em relação ao passado. Quem dava 15, agora vai dar 20. E as que deram 10 vão dar 15 dias. Alves diz que as empresas justificaram o maior número de dias de férias por decréscimo de vendas ao longo do ano em razão de três fatores principais: o Carnaval tardio deste ano, a realização da Copa e as eleições.

A Docol, fabricante de metais sanitários, sediada em Joinville, apenas informou que as férias coletivas são "uma questão de operação" e que não têm nenhuma relação com uma possível crise econômica no país.

Em tempos de bonança, as montadoras chegam a adiar recessos, mas neste ano o setor vai prolongar o período de férias coletivas. Em muitos casos, a parada na indústria de veículos vai se estender por quatro ou cinco semanas.

Na última semana, a Volkswagen antecipou em dois dias a liberação dos funcionários da fábrica de São Bernardo do Campo (SP), alegando a necessidade de adequar produção e estoques às "condições de mercado dos próximos meses" - o que indica a falta de perspectiva de reação do consumo no curto prazo. As linhas da Volks pararam na última quinta e só voltam a funcionar em 6 de janeiro, totalizando 26 dias corridos de paralisação.

Nas fábricas paulistas da GM - em São Caetano do Sul e São José dos Campos -, assim como nas linhas de automóveis e caminhões da Ford no ABC, as férias vão durar um mês. As duas unidades da GM param a partir da semana que vem, enquanto a Ford interrompeu as atividades na segunda.

Na fábrica de motores e transmissões da Ford em Taubaté (SP), a parada também começou na segunda-feira e vai durar três semanas. Na Renault, em São José dos Pinhais (PR), a produção será suspensa por três semanas a partir de 23 de dezembro. No setor de motores do parque da marca francesa no Paraná, os operários terão férias um pouco mais curtas: 18 dias a partir de 19 de dezembro.

Uma das poucas exceções no setor automotivo, a Fiat, instalada em Betim (MG), terá período de férias menor do que a maioria da concorrência. Serão 12 dias, a partir de 24 de dezembro.

Na indústria de caminhões, a maior parte das empresas, como Mercedes-Benz, Volvo e Iveco vai parar por um mês. As exceções são a MAN, fabricante dos veículos comerciais da marca Volkswagen sediada em Resende (RJ), e a Scania, instalada em São Bernardo do Campo. Nessas duas montadoras, as férias durarão três semanas.

Acompanhando o calendário da indústria de veículos, os fornecedores programaram paradas por tempo acima do normal. A Pirelli, por exemplo, concedeu as férias de fim de ano mais longas desde que se instalou, há oito décadas, no Brasil. A fábrica de pneus para caminhões e tratores agrícolas do grupo italiano em Santo André (SP) terá a produção interrompida por três semanas.

A Tupy, que fabrica blocos de motor, sediada em Joinville, informou que a maioria dos setores da sua fábrica entra em férias no dia 22 de dezembro e retorna em 5 de janeiro. E disse que "algumas áreas entrarão em férias em períodos diferenciados como forma de atender a demandas de clientes". Segundo a Tupy, o mesmo período foi adotado nos anos anteriores.

A Abicalçados, que representa o setor calçadista, informou que as empresas normalmente concedem período de férias no fim do ano, "mas na virada de 2014/2015 o procedimento é de todos". Segundo a entidade, a generalização das férias é causada principalmente pela queda nas vendas à Argentina, que normalmente estariam ocupando as linhas de montagem nesta época, considerando embarques a partir de janeiro.