Ao menos dez obras anunciadas pela gestão do prefeito
Fernando Haddad (PT) correm o risco de não sair do papel por falta de recursos,
e isso antes mesmo de a Prefeitura começar a pagar os precatórios. A crise já
interfere no cronograma de intervenções firmado com o governo federal para
evitar enchentes e melhorar a mobilidade e, aos poucos, dificulta a entrega de
outras iniciativas igualmente prioritárias para o petista nas áreas de
habitação, saúde e educação.
Na terça-feira, Haddad citou, por exemplo, um conjunto de
obras com financiamento assegurado pela Caixa Econômica Federal em setembro do
ano passado que ainda não pôde ser iniciado por falta de recursos municipais e
federais. Avaliado em R$ 2,6 bilhões, o pacote é composto por dez intervenções
antienchentes e obras de mobilidade, como o alargamento de vias e a construção
de corredores de ônibus na zona sul.
Mas, independentemente da crise, parte dessas ações nem
sequer foi licitada pela Prefeitura, o que já desperta desconfiança na
população. "Ouvi mesmo falar que ia passar um corredor aqui na frente e tirar
metade do estacionamento (de uma igreja). Mas isso foi no ano passado. Estranho
que neste ano ainda não vi ninguém mais comentar”, disse Erenir dos Santos, de
48 anos, que frequenta uma igreja na Estrada do M’Boi Mirim, no bairro
Piraporinha, zona sul.
Com apenas uma faixa de rolamento em cada sentido, o
trânsito é intenso na região do M’Boi Mirim, próximo da Estrada da
Cachoeirinha, onde estava previsto um corredor de ônibus. Segundo Erenir, é
comum que frequentadores da igreja cheguem para o culto das 20 horas quando as
portas já estão fechando, às 21h30, por causa do trânsito travado. "Para chegar
aqui é uma luta. Precisaria do corredor porque aliviaria muito. Uma vez saí
daqui às 22 horas e ainda estava tudo parado na M’Boi Mirim.”
Prazo. Algumas
das medidas citadas têm prazo de conclusão longo, estimado em pelo menos 36
meses. É o caso, por exemplo, da canalização dos córregos Capão Redondo,
Freitas e Ribeirão Perus, nas zonas sul e norte da cidade. Os projetos incluem
a construção de piscinões, por R$ 421 milhões.
A construção de um sistema de galerias no Córrego Verde e de
um piscinão na Rua Abegoaria, na zona oeste, tinham prazo de nove meses. Era a
previsão mais curta entre as obras incluídas no PAC, mas, seis meses após a
assinatura do acordo de financiamento, as obras ainda não começaram.
Moradora de uma casa na Rua Abegoaria há cinco anos, a
cuidadora Juliana de Oliveira, de 35 anos, nem sequer tinha ouvido falar que a
área teria obras de drenagem. Nos meses de chuva, ela observa da sacada da
residência os efeitos dos alagamentos. "Já vi cair árvore, vi cair carro dentro
de um buraco que abriu por causa da chuva. Um morador que andava na calçada
caiu com a força da água e quase foi levado. Todo ano é um caos”, disse.
No Capão Redondo, zona sul, Ronaldo Gomes, proprietário de
um restaurante, diz que sofre com as enchentes há oito anos. "Fiz uma comporta
há dois anos, quando (a chuva) arrebentou a mureta do meu ponto. Perdi
geladeira, mesa e cadeiras na enchente.”