Trajeto confuso para ciclistas e pedestres

04/10/2015 08:30 - O Globo

Em fase de testes, a ciclofaixa da Avenida Marquês do Paraná virou alvo de reclamações ainda mais contundentes de ciclistas e pedestres depois que passou a ocupar parte da calçada, entre as ruas Doutor Celestino e Miguel de Frias, sentido Icaraí. Agora, a partir do fim da tarde, cones são usados para dividir o espaço nesse trecho que, sem sinalização, é disputado sem critério. A prefeitura diz que, até dezembro, o traçado se tornará definitivo após "mudanças estruturais na via”. Discute-se, inclusive, a retirada de parte do canteiro central para instalar a ciclofaixa ali.

A ciclofaixa provisória que vem sendo montada diariamente pela Niterói Transporte e Trânsito (NitTrans) na Avenida Marquês do Paraná, entre as ruas Doutor Celestino e Miguel de Frias, tem provocado muita confusão nos horários de rush. Considerado ponto-chave para a consolidação da malha cicloviária da cidade, já que fará a ligação entre as Zonas Norte, Sul e o Centro, o traçado, que antes ficava limitado à pista, passou a ser montado na calçada nas últimas semanas durante o fim de tarde e à noite, tornando perigosa a passagem pelo local tanto para pedestres quanto para ciclistas. Até o fim do ano, os testes devem terminar, e a ciclofaixa passará a ser definitiva no trecho. Em alguns trechos, a prefeitura estuda instalá-la onde fica o canteiro central da avenida.

A equipe do GLOBO-Niterói esteve no local na última terçafeira entre 16h30m e 18h30m. Apesar de a calçada ser segregada com cones que destinam parte dela a pedestres e outra a ciclistas, nenhuma sinalização orienta qual área é de cada um deles, que acabam disputando espaço.

No sentido Icaraí, depois do Hortifruti, a ciclofaixa desce a calçada e segue junto ao meiofio até o Rio Cricket, mas o espaço delimitado pelos cones é tão pequeno que mal passa uma bicicleta por vez.

— É muito estreito, e os carros não respeitam, fica perigoso. Por questão de segurança, prefiro seguir devagar pela calçada — diz o autônomo Hugo Perez, que mora em São Lourenço e pedala todos os dias até Icaraí para buscar as filhas no colégio.

USUÁRIOS RECLAMAM DO PERIGO

Agentes não foram vistos no traçado durante o tempo em que a equipe de reportagem esteve lá. Um guarda de trânsito que orientava motoristas na saída do mergulhão, próximo à Rua Doutor Celestino, foi quem informou, depois de perguntado, onde ciclistas e pedestres deveriam passar. Na última semana, a ciclofaixa foi montada na calçada tanto no período diurno, das 6h às 11h, quanto no noturno, das 16h às 21h. No início de setembro, a sinalização era montada na pista: de manhã, junto ao meio-fio; e à noite, perto do canteiro central. O marinheiro Frederik Varela, que passa de bicicleta quase todos os dias pela Marquês do Paraná, considera a medida adotada no início dos testes mais segura.

— Não dá para passar pela calçada porque é estreita e fica muito ruim para o pedestre. Quando começaram a montar no canto da rua era melhor, apesar de também ser perigoso para o ciclista. A melhor opção é mesmo pelo meio da via — opina.

Gerente de um salão de beleza próximo ao traçado, João Henrique Abreu vai de carro para o trabalho e também costuma caminhar pela calçada. Ele considera as duas opções ruins:

— A pista é local de carros; e a calçada, de pedestres. Não sou contra as bicicletas, mas ciclofaixa tem que ser demarcada e segregada. Colocar e tirar cone não vai resolver. Está confuso e perigoso para todo mundo.

SEGURANÇA E MOBILIDADE

No começo dos testes da ciclofaixa, entre os dias 1º e 4 de setembro, o Grupo Mobilidade Niterói testou, por meio do aplicativo Waze Live Maps — ferramenta colaborativa que mostra as condições de trânsito —, o tempo de deslocamento dos carros no trajeto da esquina das avenidas Presidente Roosevelt e Quintino Bocaiúva, em São Francisco, até o cruzamento da Avenida Marquês do Paraná com Rua São Lourenço, passando pela Avenida Roberto Silveira. A intenção era verificar o impacto da ciclofaixa no trânsito de veículos automotores. A média no tempo de deslocamento quando a ciclofaixa foi montada no canteiro central, à noite, foi de 7,54 minutos — 2,32 minutos a mais do que o tempo consumido de manhã (5,22 minutos), quando a ciclofaixa ficava junto ao meio-fio. O consultor Sergio Franco considera o aumento de tempo pouco significativo se comparado ao ganho em segurança para os ciclistas:

— Sem contar que, com uma infraestrutura maior para as bicicletas, as pessoas tendem a usá-las cada vez mais para trajetos curtos, o que diminuirá o número de veículos nas ruas e, consequentemente, o trânsito.

A prefeitura informa que, até dezembro, a ciclofaixa se tornará definitiva. Em nota, assegura que "até lá, acredita-se que a obra para a execução desta infraestrutura já esteja licitada”. A NitTrans, com o Programa Niterói de Bicicleta, está analisando o projeto básico entregue pela empresa contratada TC Urbes. Ainda de acordo com a nota, "para que o projeto seja executado, algumas mudanças estruturais devem ser feitas na via, e discute-se a retirada do canteiro central em alguns trechos específicos”.

Sobre a mudança no posicionamento da sinalização temporária, a NitTrans defende que a ciclofaixa implantada durante a manhã não foi alterada. "Apenas a da tarde precisou de modificação no trajeto original por causa do impacto no trânsito noturno”. A autarquia informa ainda que há 12 agentes e operadores ao longo da ciclofaixa, "inclusive, quatro deles de bicicleta percorrendo a via, que tem sinalização e cones. A largura da ciclofaixa é adequada e, em alguns pontos, ela pode ser ligeiramente reduzida para causar menos impactos”, diz a nota.