24/04/2014 07:15 - Folha de SP - Blog Seres Urbanos
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Quando não existem vias exclusivas, o ciclista não pensa
duas vezes no meio do trânsito selvagem: pula para a calçada.
Uma pesquisa do sistema de empréstimos de bicletas Bike
Sampa (as laranjinhas do Itaú) com 400 usuários mostrou que 66% deles combinam
calçada e rua em seus trajetos. E 5% só vai pela calçada! Ou seja, 71% usam o
passeio para se deslocar. A prática é proibida, mas disseminada.
Imagino que proporção semelhante ocorra com os ciclistas
"comuns”, mas não há uma pesquisa com esse grupo menos específico.
Eu mesma, quando (raramente) vou de bicicleta de casa, na
Liberdade, para a Folha, uso o "mix”. E mais: começo na motofaixa da Vergueiro!
Depois vou pelos calçadões do centro, com bastante atenção para não esbarrar
nos pedestres. Uma vez na avenida São João, prefiro suas calçadas largas e
razoavelmente vazias ao asfalto. Chego ao trabalho praticamente sem usar a rua
e completamente fora da lei. Não defendo nem incentivo, apenas confesso a
prática.
Por outro lado, posso argumentar que a prefeitura (gestões
anteriores e atual) não cumpre a mesma lei, ou seja, o Código de Trânsito
Brasileiro. Pelo texto, a administração deve zelar pela segurança de todos os
componentes do trânsito, sejam pedestres, ciclistas ou motoristas. E a
prioridade quando se refere à segurança deve ocorrer nesta ordem: do mais
frágil ao mais protegido. Com os parcos 66,3 km de ciclovias que temos, a lei
nem de longe está sendo cumprida.
Não por acaso, as principais dificuldades citada pelos
ciclistas do Bike Sampa foram a falta de ciclovias e ciclofaixas (60%) e
motoristas que não respeitam quem está no trânsito de bicicleta (28%).
Compartilhar as calçadas que têm espaço suficiente pode ser
uma maneira de criar rapidamente muitas novas ciclofaixas. Avenida São João,
Duque de Caxias, Brasil, Berrini, para mencionar algumas, são bem largas e não
tão movimentadas. Aliás, isso já ocorre em São Paulo, mas de forma limitada. Há
4,5 km de calçadões no centro onde é permitido pedalar.
Por que não fazer? Em Berlim, pedestres e ciclistas dividem
algumas calçadas numa boa. Caminhantes estrangeiros é que se assustam com o
trim-trim das bicicletas pedindo passagem. Eu tomei vários em Berlim até me
acostumar. Onde não há faixa exclusiva para as magrelas, elas trafegam, dentro
da lei, pelas bordas dos passeios.
Cinco vezes por
semana
A mesma pesquisa, que foi executada pelo Cebrap (Centro
Brasileiro de Análise e Planejamento), revelou também que aumentou a proporção
dos que usam a laranjinha cinco dias por semana. Em 2012, essa frequência de
uso correspondia a 19%. Em 2013 saltou para 27%.
Também de acordo com o Cebrap, os principais motivos que
levam as pessoas a adotar o sistema de compartilhamento de bicicletas é evitar
ficar no trânsito (38%) e beneficiar a saúde (29%). O terceiro motivo é
economizar (18%).
Hoje o Bike Sampa tem 250 mil usuários cadastrados, que usam
as 1.400 bicicletas espalhadas por 137 estações, ainda bastante concentradas
nas zona oeste e sul. Após depredação e roubos, estações do centro de São Paulo
foram removidas.
Veja abaixo outros números da pesquisa.
Vanessa Correaé repórter
da revista sãopaulo