Mapas de calor: a diferença gritante em como homens e mulheres andam a pé, por Fátima Mesquita

19/07/2025 19:30 -

Um estudo realizado na Brigham Young University (BYU), em Utah, nos Estados Unidos, no ano passado colocou em imagens o peso extra que as mulheres carregam ao andar por aí.

O professor de saúde pública da BYU, Robbie Chaney, tem se dedicado ao longo dos anos a investigar muito sobre a segurança na mobilidade ativa. E, em conjunto com duas estudantes, Alyssa Baer e Ida Tovar, o trio arrebatou 571 estudantes para um experimento.

O grupo de jovens — 56% feminino e 44% masculino — analisou, então, 16 fotos de lugares reais de quatro campi universitários de Utah, incluindo o campus da própria BYU. As fotografias mostravam cenas diurnas e noturnas.

A cada aluno foi pedido que clicasse nas imagens indicando os pontos que mais lhe chamavam a atenção. Somando todo os pontos clicados, a equipe criou um mapa de calor. Quanto mais cliques uma área recebeu, mais vermelha a área aparece. Quanto menos cliques, mais azul o ponto fica.

O resultado chamou a atenção ao evidenciar como as mulheres escaneiam o ambiente o tendo todo, enquanto os homens têm como foco de atenção o destino da caminhada e, quando muito, se distraem com pontos de luz ou latas lixo


As mulheres se concentram pouco no próprio caminho ou destino enquanto ficam à procura de pontos que podem representar perigo, como cantinhos pouco iluminados, mato crescido, lugares que podem servir de esconderijo para alguém com más intenções e locais que podem não oferecer rotas de fuga, como um túnel, por exemplo.

“A gente não esperava um contraste tão forte. As imagens finais foram mesmo muito impactantes” revelou o professor Robbie Chaney. E, para ele, tudo isso se transforma em problemas de saúde pública, com mais mulheres sofrendo impactos físicos, emocionais e sociais que podem causar problemas com o sono, baixa no desempenho acadêmico, problemas de saúde mental e muito mais.

Para a equipe do estudo, é preciso levar esse contexto em consideração no design das cidades e dos espaços como o de um campus, e ao se definir o transporte público e a mobilidade urbana, em especial nos seus modos ativos, seja a caminhada ou bicletada entre um ponto de ônibus e o destino final, seja como método principal de ir e vir.

A pesquisa foi publicada na revista Gender and Violence e está aberta para leitura geral. Todas as fotos são da pesquisa.

Fátima Mesquita é jornalista e escritora, editora do ANTP Café e editora da Revista dos Transportes Públicos